Olha, olha...

As participações portuguesas em Olimpíadas internacionais e ibero-americanas de Física e de Matemática vai de bem a melhor! Participamos em competições deste tipo há uns 20 anos e os resultados nunca foram nada de especial: em geral entre os últimos da geral, nem sonhávamos com medalhas salvo uma ou outra excepção; no "meu tempo" o objectivo de cada concorrente era não ter zero. Pelo menos um pontinho e já ficávamos satisfeitos!

De há uns 5 ou 6 anos para cá o trabalho de preparação das equipas melhorou substancialmente. Levam-se as coisas mais a sério, acompanham-se os concorrentes durante mais tempo, dá-se-lhes mais trabalho (até porque a maioria deles nem tem de estudar muito no liceu :P) e a verdade é que os resultados saltam à vista! Este ano tivémos 3 medalhas de bronze e 1 menção honrosa nas Olimpíadas Internacionais de Matemática e 2 medalhas de bronze e 1 menção honrosa nas Olimpíadas Internacionais de Física; e agora, nas Ibero-Americanas de Física conseguimos 1 medalha de ouro (2º lugar absoluto), 1 medalha de prata e 2 medalhas de bronze! Falta ainda saber os resultados das Ibero-Americanas de Matemática.

E em vez de se juntarem ao coro de comentadores manifestamente ignorantes da notícia do Público sobre as OIAM de Física e que, notoriamente, nunca tiveram nenhum contacto com as Olimpíadas a não ser pelas páginas dos jornais, leiam antes o que têm a dizer os responsáveis directos pelos sucessos e fracassos das equipas portuguesas:

Olimpíadas Portuguesas de Física
Olimpíadas Portuguesas de Matemática
Projecto Delfos

Nem os alunos em questão vêm de colégios privados, como muita gente supõe (e mal), embora também os haja (por exemplo, as escolas mais medalhadas na Matemática são os colégios S. João de Brito e Valsassina em Lisboa, seguidos de uma série de umas 30 escolas oficiais, algumas de zonas não muito ricas, um pouco por todo o país), nem os alunos vêm de famílias particularmente favorecidas, nem os putos são uma cambada de marrões sem "social skills". Nem sequer são alunos particularmente bafejados pela sorte que só tiveram os poucos bons professores que por aí há, como muita gente acusa.

São projectos sérios e para serem levados a sério. Há alunos bons e maus em todo o lado (Cascais, Lisboa, Coimbra, Chaves, Leiria, Seia, S. Domingos de Rana, Cantanhede, Aveiro são exemplos de localidades de onde vieram alguns dos mais multi-medalhados nas olimpíadas portuguesas de Matemática; algumas são zonas ricas, outras são zonas interiores com elevados índices de pobreza e desertificação). E, acima de tudo, nem estes resultados são prova de melhorias no nosso sistema de ensino, nem são as excepções que confirmam a regra. Os bons resultados pouco ou nada têm a ver com o Ministério da Educação (a não ser algum financiamento para participação nas provas internacionais). O que vemos agora é o resultado de (muito) trabalho voluntário de muita gente que está nas Olimpíadas (na organização, nas comissões de problemas, na preparação) pelo puro gozo de ensinar matemática ou física, sem receber nada por isso.

Por isso, ao ler notícias destas, o que há a dizer é "PARABÉNS!" e não começar a tecer considerações sobre a qualidade do sistema de ensino ou falta dela nem a tentar tomar como seu o crédito que pertence a outros. O mérito vai todo para os concorrentes e para os professores e pessoal da SPM e SPF que os ajudaram a preparar. E para absolutamente mais ninguém! Nem para o Ministério, nem para o seu estrato socio-económico, nem para a conjuntura, nem para a sua escola.