30 maio 2008

Contra (?) o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa - Parte III

Parte III - o conteúdo do famigerado Acordo Ortográfico da Língua Portugesa e as suas reais implicações na forma de falar e escrever português.

Introdução - O que é a ortografia

Para começar, e porque o que não falta por aí é confusão, ortografia diz respeito apenas à escrita de palavras. A forma como são escritas. Não diz respeito aos seus significados, nem às suas utilizações, nem à sua pronúncia, nem à sintaxe de uma frase.

Não existe NENHUMA alteração introduzida pelo acordo ortográfico que altere a forma como uma determinada palavra é LIDA, apenas altera, eventualmente, a forma como é, ou pode ser, escrita.

Os capítulos que se seguem descrevem as reais implicações do acordo ortográfico, da forma que entendo o texto do acordo (que li, pelo menos na diagonal). O acordo ortográfico tem 21 capítulos. Obviamente não vou tratar todos, quem quiser ler o acordo pode fazê-lo por sua iniciativa (o link está abaixo). Mas vou tentar dar um ou outro exemplo das principais alterações para que se percebam as suas implicações.

Capítulo I - O alfabeto

Com o novo Acordo Ortográfico o alfabeto português passa a ter 26 letras. K, W e Y passam a ser letras do alfabeto português. Curiosamente o K e o Y já existiam antes da reforma ortográfica de 1911, quando foram suprimidas. Portanto, vamos poder escrever whisky, kafkiano ou wagneriano sem ter de criar (mais uma) excepção à ortografia. Sim, quando aprendi a escrever aprendi que o abcedário tinha 23 letras e agora volta e meia escrevo as letras k, w e y que, tanto quanto sei, não fazem parte da ortografia portuguesa.

Capítulo II - O H inicial e final.

Circulam por aí mails a dizer que entre outras coisas, começa a escrever-se úmido em vez de húmido e até, pasme-se, oje em vez de hoje ou omem em vez de homem. Esta informação é FALSA. Para já nem no Brasil se escreve umidade. Escreve-se humidade. O H inicial só desaparece em palavras derivadas em que o H inicial desapareceu da raiz da palavra.

Por exemplo: Erva evoluiu de Herba; As palavras derivadas como Herboso ou Herbanária mantêm o H inicial da raiz. Nestes casos cai o H inicial. Passa a escrever-se Ervanária e Ervoso. A propósito, não sei como vai passar a escrever-se Herbáceo.

Quem escreve Herbanária em vez de Ervanária?

Cai também o H quando duas palavras são aglutinadas, sendo a segunda iniciada por H. Por exemplo, Desumano, Lobisomem, Biebdomadário, Inábil. Alguém quer os H ali espalhados no meio das palavras?

SÓ NESTES CASOS É QUE CAI O H.

Capítulo III - As famigeradas consoantes mudas C e P.

Ao contrário do que circula, palavras como Neptuno, Amígdala, Apto, Aritmética, Indemnização VÃO CONTINUAR A ESCREVER-SE DA MESMA FORMA.

As consoantes só caem quando são MUDAS! E mudas quer dizer que não são pronunciadas.

Citando o texto oficial do acordo, estas consoantes "eliminam-se nos casos em que são invariavelmente mudos nas pronúncias cultas da língua: ação, acionar, afetivo, aflição, aflito, ato, coleção, coletivo, direção, diretor, exato, objeção; adoção, adotar, batizar, Egito, ótimo", mas "conservam-se nos casos em que são invariavelmente proferidos nas pronúncias cultas da língua: compacto, convicção, convicto, ficção, friccionar, pacto, pictural; adepto, apto, díptico, erupção, eucalipto, inepto, núpcias, rapto".

Há casos em que as consoantes passam a ser opcionais (opcional mantém o P!): aspecto e aspeto, cacto e cato, caracteres e carate­res, dicção e dição; facto e fato, sector e setor, ceptro e cetro, concepção e conceção, corrupto e corruto, recepção e receçâo. Porque dependendo da pronúncia há quem leia estas consoantes e há quem não as leia.

Naqueles exemplos referidos em que a consoante cai, digam-me: alguém pronuncia a consoante em causa? Alguém lê o P em óptimo ou Egipto, o C em colectivo, director ou exacto, acto ou ação?

As consoantes mudas têm um papel: o de abrir a vogal que as precede. Mas... nesse caso a palavra "actual" não devia ser lida "á-tu-al"? Quem diz "á-tu-a-li-da-de"? Então para que raio está lá o C? E gostaria de relembrar que até 1910 escrevia-se aqui e no Brasil, Diccionário em vez de Dicionário e Prompto em vez de Pronto. Foi a nossa reforma ortográfica de 1911 que começou com esta coisa de eliminar consoantes mudas.

Capítulo IV - Acentuação

Eh pá, aqui é uma salganhada. Mudam imensas regras, ocorrendo a maior parte das mudanças no Português do Brasil, pelo que percebi. Excepção: pára, do verbo parar, perde o acento. Também aqui nada de mal, antigamente escrevia-se Pôrto em vez de Porto, para não confundir com porto do verbo portar, e tôdo (de totalidade) em vez de todo, para não confundir com o todo que era uma espécie de pássaro do Japão ou lá o que é. A existência de regras para a acentuação e a eliminação da quantidade exorbitante de excepções implicava que cada pessoa tinha de conhecer o vocabulário de forma quase enciclopédica para saber como acentuar algumas palavras.

Cai o trema, finalmente! Lingüiça passa a Linguiça. Note-se que a regra diz que em gue e gui, que e qui o U é mudo. Quando não o é, deve usar-se trema. Frequentemente, Linguiça, Aguentar, Bilingue, etc.

Também se deve usar trema, pela norma brasileira (que era a norma portuguesa antiga, antes de a alterarem), em palavras como Saudar, para indicar que au não é um ditongo.

O trema cai em todos os casos, excepto em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros.

Capítulo V - O hífen

Há uma série de novas regras que (finalmente) regulam a utilização de hífen. São aos pontapés, quem quiser que as leia. Do que li, a grande diferença para nós é a utilização com o verbo haver: Hás de, Hei de em vez de Hás-de e Hei-de. Não tenho grandes objecções aqui. E até pode ser que a próxima geração de putos deixe de ler "há-des".

Capítulo VI - Maiúsculas e Minúsculas

Os nomes dos meses do ano, estações do ano, pontos cardeais passam a minúscula. Também passam a minúscula palavras como "santo" ou "engenheiro", colocados antes de um nome: santo António em vez de Santo António, engenheiro Sócrates em vez de Engenheiro Sócrates (supondo que Sócrates é engenheiro).


Capítulo VII - Conclusão

Eh pá, depois de ler (como disse, só na diagonal) o texto do acordo ortográfico não estou assim tão horrorizado.

Este acordo ortográfico, bem como os que o precederam, marcam uma aproximação da língua escrita à língua falada, dando mais importância à pronúncia que à etimologia.

O português antigo era mais fonético e foi após a renascença que um conjunto de iluminados entendeu por bem dar à etimologia o papel fulcral que passou a ter nos séculos XVII e XVIII. Ficámos com uma língua muito erudita e com muito mau aspeto (palavra escrita segundo as regras do Acordo Ortográfico).


EU SOU A FAVOR DO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA DE 1990.


Referências:
Texto oficial do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
Artigo de opinião de Manuel Mendes Carvalho (refere-se ao acordo de 1986 que fracassou, sendo substituido pelo acordo de 1990).

27 maio 2008

Tá explicado!

Os asiáticos e em particular os chineses são muito supersticiosos. Tão supersticiosos que procuram sempre explicações para todas as coisas más que acontecem.

E vai daí, já perceberam porque houve um sismo tão forte no país: é a maldição das mascotes olímpicas!

As mascotes são 5: um panda (cujo habitat é a província de Sichuan), um antílope tibetano (relacionado com a revolta que se vive no tibete), a tocha olímpica (que deve estar aborrecida com tantas interrupções à sua marcha por causa de protestos dos apoiantes da causa tibetana), uma andorinha (que parece que tem não sei o quê a ver com um cometa que foi visto este ano) e um peixe. Este último não tem nada a ver com o sismo, mas está sim relacionado com uma forte inundação no sul do país (onde a actividade pesqueira é intensa). Claro que há inundações todos os anos, mas a deste ano foi de certeza provocada pelo peixe.

E tudo isto é suportado, obviamente, pela numerologia! O número 8, que costuma dar sorte, este ano parece que não. São os jogos de 2008 e a 88 dias dos jogos houve o grande tremor de terra. Para ajudar, o sismo foi no dia 12/5 e 1+2+5=8!!! É uma coincidência impressionante que só pode ser explicada, obviamente, por uma maldição do número 8. Isto, claro, se ignorarmos o facto de o calendário chinês ser diferente.

Além disso o sismo foi às 14:28 (ainda estou para perceber porque raio é que isto se associa ao número 8, é mais natural associar ao número 7, já que 14=7x2 e 28=7x4).

E ainda por cima, o sismo marcou 7,8 na escala de Richter. termina em 8, já viram? Mas qual a probabilidade de pelo menos um dígito ser 8 ou a soma dos dígitos ser 8, já que para a interpretação numerológica vai dar ao mesmo? Isto entre sismos fortes, pois dos fracos não reza a história. Entre 6.0 e 9.0 há 31 intensidades distintas; destas 12 têm um dígito 8; Os números cujos dígitos somam 8 são 6.2 e 7.1; E já vamos em 14; mas se quisermos ir mais além, notemos que 7.9 soma 16 que é 8+8. Dá 15. Em 31, ou seja aproximadamente metade. Tá provada a maldição!

E acham que é só isto? Reparem bem: a jornada diária de trabalho é de 8 horas, mas a China não segue esta norma (se calhar devia!). Há 8 dias numa semana, isto se contarmos o domingo como valendo dois, o que é natural, porque é dia santo. As cores do arco-iris são 8, desde que se distinga entre amarelo claro e amarelo torrado. Há 8 planetas no sistema solar, porque Plutão já não é. São neste momento 12:58 e notem bem que 1+2+5=8 (por acaso são 12:57, mas esperei um minuto para a maldição se confirmar) e estamos a 27-05-2008 e 2+7+5+2+0+0+8=24=8+8+8!

Ainda bem que os chineses têm as suas superstições para explicar estas coisas...

Arroz

Ah, que alívio! Após conversações com o Governo o Lidl suspendou o racionamento de arroz. Tinha sido imposto um limite de 10 kg por cliente, mas essa limitação já foi levantada.

Devo dizer que fico muito mais descansado e, pelo sim, pelo não, vou já ao Lidl comprar uns 25 ou 30 kg de arroz. Pelo sim, pelo não.

26 maio 2008

Nacionalismos

Num gás ideal a temperatura constante a pressão é inversamente proporcional ao volume.

Este é o enunciado da Lei de Boyle-Mariotte. Ou, como se diz em inglês, da Lei de Boyle. Já em francês diz-se Lei de Mariotte. Obviamente Robert Boyle era inglês e Edme Mariotte era francês.

23 maio 2008

Contra (?) o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa - Parte II

Parte II - Acordos Ortográficos em geral: o caso das outras línguas

Uma coisa que tenho ouvido é que isto de haver acordos ortográficos é exclusivo ou quase exclusivo do português. Sem desprimor pelas ilustres e literadas (cuidado com a forma como se lê, não quero que se leia "ilustres iletradas") pessoas das academias responsáveis por este acordo, duvido que tenham sido originais ao ponto de inventar algo nunca antes feito ou imaginado por outros seres humanos. Olhando para a normal evolução das várias línguas e lendo textos antigos facilmente se percebe que não podemos ser os únicos a fazer evoluir a ortografia.

Capítulo 1: O inglês

É frequentemente utilizado o exemplo do inglês como sendo uma língua cuja ortografia não se altera mediante acordos ortográficos e que isso não impede a língua inglesa de ser a mais universal. A afirmação até é mais ou menos correcta, mas não sei até que ponto isso é uma virtude da língua inglesa.

O inglês escrito está estabelecido há vários séculos, com a excepção das alterações introduzidas no século XVIII cujo objectivo era precisamente distanciá-lo do inglês de Inglaterra (coisas de colónia recém-indepentente) e mais umas quantas palavras de evolução distinta entre Inglaterra e EUA.

Pronto, até aqui tudo bem, mas eu pergunto: Como se lê "ou" em inglês? Lê-se como em Loud, Could, Famous, Journey, You, Flour ou Tour? Segundo a wikipedia, que inclui o registo fonético de cada um destes sons, são pelo menos 7 pronúncias diferentes.

E "au"? Como em Augment, ou como em Daughter?

E que tal "ough"? Esta então tem pelo menos 10 pronúncias distintas, 6 das quais hilariantemente retratadas na frase "Though the tough cough and hiccough plough him through".

De facto a ausência de revisões ortográficas que aproxime o inglês escrito do inglês falado ao fim de tantos séculos deu resultados surpreendentes.

Sobre o mérito ou demérito desta forma de escrever, cada um que decida por si, não quero convencer ninguém.

Capítulo 2: o francês

Parecendo uma língua totalmente estática a verdade é que o francês também tem, volta e meia, umas revisões e afinações à sua ortografia. O francês costuma ser apontado como o paradigma da língua que não evolui, pelo menos na forma escrita, mas será tanto assim?

Após algumas revisões ortográficas ao longo dos séculos XVII, XVIII e XIX, chegamos ao século XX e temos algumas sugestões de revisões que foram mais ou menos ignoradas, mas a partir dos anos 70 houve pressões no sentido de modernizar a língua e assim chegamos à reforma de 1990 (o mesmo ano que o nosso famigerado acordo!).

Nesta revisão cerca de 2000 palavras são alteradas (mais ou menos o mesmo número que no nosso acordo) e apesar das resistências iniciais são cada vez mais as publicações a aderir às novas regras. E ao que parece os franceses não ficaram a saber escrever nem melhor, nem pior.

Capítulo 3: o alemão

Também o alemão teve várias revisões ortográficas, desde o início. Em 1902 uma ortografia foi estabelecida, mas em 1944 havia planos para a reformar. Os planos cairam por terra devido à guerra cujo fim estava iminente. No pós-guerra há dois principais centros de autoridade no que diz respeito à grafia alemã. E houve alguns atritos que obrigaram o governo federal (lembrem-se que a Alemanha estava dividida em 2) a decretar qual a grafia oficial.

Actualmente há uma revisão em vigor, apenas obrigatória na escola, que data de 1996. Inclui coisas giras como repetições de 3 consoantes iguais. Por exemplo, Schlossstraße.

Capítulo 4: outras línguas

Como qualquer língua o holandês também evoluiu muito e teve várias revisões ortográficas. No século XX teve 3: 1934, 1946/47 e 1996 e em 2006 teve outra. Todas estas revisões têm como objectivo unificar a grafia flamenga (Bélgica) com a grafia holandesa.

O norueguês, inicialmente derivado do dinamarquês, possui actualmente duas grafias distintas, o Bokmal e o Nynorsk, e vários esforços têm sido feitos no sentido de as unificar. Mais controvérsia, menos controvérsia, a tentativa continua.

E o que dizer do turco, que no início do século XX não se limitou a mudar a ortografia, mudou o alfabeto?!!!

Já o japonês também teve uma reforma séria, eliminando muitos símbolos que não tinham relevância fonética.

E outras línguas têm feito evoluções sucessivas da sua grafia, pelas mais variadas razões: indonésio, russo, grego, etc...


Referências:

Revisões ortográficas na Wikipedia e referências dentro deste artigo.

Educação e Matemática

Andava eu à procura de uma determinada demonstração de um determinado teorema feita por uma determinada pessoa1, e eis senão quando encontro um texto que merece uma leitura atenta por quem:
a) aprende matemática e gosta
b) aprende matemática mas não gosta
c) não gosta de matemática e nem sabe bem porquê
d) ensina matemática
e) ensina como se ensina matemática
f) decide sobre como se ensina matemática
g) todas as anteriores

O autor é V. I. Arnold, um dos matemáticos mais influentes do Séc. XX, talvez o mais conhecido da "escola russa". E contraria o vulgar preconceito2 que o conjunto das pessoas que fazem investigação em matemática e o conjunto das pessoas que sabe ensinar matemática não têm elementos em comum.

E a propósito lembrei-me de uma frase, cujo autor desconheço: "Quem sabe faz. Quem não sabe ensina", em cuja veracidade me senti tentado em acreditar por diversas vezes enquanto estudava. Agora, a pouco e pouco, consigo imaginar a existência de contra-exemplos.


1 A demonstração do V. I. Arnold do teorema de existência e unicidade de Picard-Lindelöf, que usa só aspectos geométricos do campo de declives.

2 Teorema: Seja P um preconceito; então existe E, uma excepção, tal que E viola P. Corolário: Seja G uma generalização. Então existe P, um preconceito, tal que G é um subconjunto de P. Demonstração: Deixa-se como exercício para o leitor.

21 maio 2008

Contra (?) o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa - Parte I

Nota prévia: este post não está escrito segundo a norma do acordo ortográfico de 1990. Tal facto não está relacionado com a minha posição pessoal em relação ao acordo. Simplesmente não conheço ainda a totalidade dos casos em que a ortografia é alterada e por essa razão escrevo como sempre soube escrever, evitando armar-se em esperto e escrever bacoradas desnecessárias.

--

Vem aí o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Em bom rigor, convém dizer que vem aí mais um Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, já que não é o primeiro.

Parte 1 - (Um resumo da) História dos Acordos Ortográficos da Língua Portuguesa

Capítulo 1: 1911-1930

Em 1911 entrou em vigor em Portugal uma norma ortográfica em que foi instituida uma grafia simplificada de muitas palavras. Também o alfabeto foi alterado, desaparecendo o k e y, passando a ter então 23 letras.

Entre as alterações, salientam-se:
Portuguez passou a Português
Lyra passou a Lira
Pharmácia passou a Farmácia.
Caravella passou a Caravela
Diccionário passou a Dicionário
Prompto passou a Pronto

(Hmmm... desapareceu um P antes de um T em 1911 porque era mudo em todas as pronúncias da língua? Óptimo, óptimo! E o C mudo que foi eliminado decerto conferiu actualidade à palavra dicionário...)

A este propósito, escreveu Alexandre Fontes no livro "A Questão Orthographica", Lisboa, 1910): "Imaginem esta palavra phase, escripta assim: fase. Não nos parece uma palavra, parece-nos um esqueleto (...) Affligimo-nos extraordinariamente, quando pensamos que haveriamos de ser obrigados a escrever assim!" (grafia original do autor); in Wikipedia.

O Brasil não adoptou esta norma e começaram as grandes divergências entre a norma portuguesa e a norma brasileira. As divergências que agora tentamos anular foram efectivamente criadas pela reforma ortográfica de 1911, consequência da Implantação da República.

Capítulo 2: 1931-1970

Cientes da problemática levantada pela existência de duas grafias, a Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras tentaram unificar a grafia (para corrigir a merda que NÓS fizemos!) mediante a assinatura de um Acordo Ortográfico em 1931. Foram publicados dois vocabulários, em Portugal em 1940 e no Brasil em 1943 que ainda continham divergências e isso deu origem a um novo acordo ortográfico, em 1945. O Brasil não ratificou este acordo, mantendo-se vigente a norma de 1943. Nos restantes países tornou-se lei.

O vocabulário brasileiro de 1943 continha, por exemplo, a eliminação do H interior das palavras, excepto quando há composição por intermédio de um hífen e a segunda parte da palavra começa por h. Por exemplo, mantém-se o h em contra-harmonia ou sobre-humano mas desaparece em cohabitar, bihebdomadário ou exhausto, passando respectivamente a coabitar, biebdomadário ou exausto.

O acordo de 1945 incluia alterações como a regularização do emprego das consoantes c e p nas sequências cc, cç, ct, pc, pç e pt:
- Eliminam-se nos casos em que a consoante é invariavelmente muda na pronúncia dos dois países;
- Conservam-se nos casos em que são pronunciadas num dos dois países ou em parte de um deles;
- Conservam-se após as vogais a, e e o, nos casos em que não é invariável a sua pronúncia e ocorrem em seu favor outras razões, como a tradição ortográfica, a similaridade do português com as demais línguas românicas e a possibilidade de, num dos dois países, exercerem influência no timbre das vogais anteriores;

Capítulo 3: 1970-1990

Novo entendimento surgiu nos anos 70 e tornou-se efectivo em Portugal em 1971 e no Brasil em 1973. Nomeadamente foram eliminadas as diferenças ao nível da acentuação gráfica. Por exemplo:
sòmente passou a somente
sòzinho passou a sozinho

Em 1975 e depois em 1986 foram tentados novos acordos que eliminassem as restantes divergências, o que não foi possível.

E assim chegamos ao acordo ortográfico de 1990.

Como o post já vai longo, as minhas notas sobre o Acordo Ortográfico de 1990 ficam para o próximo post, amanhã ou depois.

--

Referências recomendadas:

1. Artigo da Wikipedia sobre o acordo ortográfico de 1990

2. Formulário Ortográfico em vigor no Brasil, de 1943 (no site de uma empresa de tradução canadiana, especializada na norma brasileira do português)

3. O acordo ortográfico de 1945 no Portal da Língua Portuguesa

4. FAQ sobre o Acordo Ortográfico no site do Público

5. História da Ortografia do Português, na Wikipedia

6. Alterações ao vocabulário ortográfico brasileiro aprovadas em 1971

Quantos T existem em "Indiana Jones"?

35 (se não me enganei a contar): " Ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta"

Estreia amanhã o novo Indiana Jones, o primeiro blockbuster que tenho vontade de ver desde há muito, muito tempo.

20 maio 2008

Polémicas

Este vídeo está a gerar uma enorme polémica em França:


(vídeo também disponível no site do Público)

A contestação lembrou-me uma história: há muito, muito tempo, num país muito, muito distante, vivia um rei muito, muito feio. Um dia o rei chamou à sua presença um artista e encomendou-lhe um retrato. O artista assim o fez e pintou o retrato do rei. Terminado o projecto o artista mostrou o seu trabalho ao rei. Este ficou furioso com o retrato da sua fealdade e mandou matar o pintor. E ninguém teve a coragem de dizer ao rei que o retrato era bastante fiel e que o rei era mesmo muito feio. Contesta-se o retrato realista das coisas feias e pune-se o seu autor, mas encolhe-se os ombros perante a fealdade que é retratada.

Legalidade

Passa a ser legal no Reino Unido a criação de embriões humano-animal para investigação em células estaminais humanas.

Podem assim ser criados os chamados cíbridos, em que o material genético humano é inserido numa célula animal desprovida de material genético (aaaaah!), humanos transgénicos, com genoma humano e alguns genes animais inseridos (aaaaaaaaaaaah!), as quimeras, obtidas inserindo células animais em embriões humanos (aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah!) e híbridos verdadeiros, cruzando gâmetas humanos e de alguns animais (AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!).

Os embriões só podem ser mantidos durante 14 dias e não podem ser implantados, nem em humanos, nem em animais. Devo dizer que esta parte me deixa um bocadinho mais descansado. Senão, imaginem bem as conversas bizarras que poderiam ocorrer daqui a uns anos:

- És um porco!
- Não, tecnicamente sou um transgénico, só tenho meia dúzia de genes de porco.

- A tua mãe é uma vaca.
- Pois é, e a tua é um porquinho da índia.

- Mãe, porque é que eu tenho cauda?
- Pois filhinho, vamos ter de conversar sobre uma coisa... lembras-te de eu ter dito que o teu pai tinha sido escolhido por um laboratório?

- O meu gato às vezes até parece uma pessoa.
- O meu é mesmo. Bom, pelo menos o olho esquerdo.

Pesoalmente não sou contra estas criações bizarras, desde que sejam por um bem maior. Fazem-me confusão, mas no início do século XX também fazia confusão a muita gente tirar radiografias a senhoras, por questões de pudor.

17 maio 2008

6.022x1023

Sinto-me mol...

16 maio 2008

Quem faz o que pode...

Por um lado temos o crescimento económico no 1º trimestre abaixo das expectativas e por outro lado 11 pessoas presas por produção de notas falsas.

Andam sempre a falar na importância do empreendedorismo, mas quando alguém arranja formas originais de combater a crise económica espetam com ele na cadeia. São só umas milésimas de ponto do PIB, mas já é um princípio, não? A vida é injusta...

Presunção

Porque raio é que a varinha mágica se chama varinha mágica? Quem é que deu um nome desses ao electrodoméstico? Aquilo é tudo menos mágico!

O electrodoméstico que serve para torrar pão chama-se torradeira. O electrodoméstico que serve para refrigerar chama-se frigorífico. O electrodoméstico que serve para fritar chama-se fritadeira. O electrodoméstico que serve para fazer café chama-se máquina de café ou cafeteira. O electrodoméstico que lava a louça chama-se máquina de lavar louça. Mas o electrodoméstico que serve para fazer sopa, triturar legumes, picar cebolas, chama-se... varinha mágica.

Permitam-me discordar desta nomenclatura despropositada e presunçosa. Uma varinha mágica é tudo menos mágica. Uma varinha mágica é aquilo que os ilusionistas usam para tirar coelhos da cartola: pegam na cartola, agitam a varinha mágica e *plim* sai um coelho da cartola. Isso sim, é magia. O electrodoméstico chamado varinha mágica coloca-se dentro de uma panela com cenouras, batatas e mais uns quantos legumes, carrega-se no botão e faz-se sopa. E isso é magia? DÁ PARA VER AS LÂMINAS, PÁ! É assim tão mágico que os legumes se desfaçam em papa por uma lâmina que roda muito depressa? A varinha mágica tem tanta magia como os filmes de naves espaciais dos anos 50, em que se conseguia ver os fios. Isso é que é a grandiosa magia do estúpido electrodoméstico?

Mágica é uma máquina de lavar louça: a louça entra suja, fechamos a tampa, carregamos num botão e passado um bocado a louça sai lavada. Tal como nos truques de ilusionismo em que o voluntário do público entra no armário, o armário é fechado, o mágico diz as palavras mágias e *plim* a pessoa desaparece. Mágico é um forno micro-ondas. Não tem chama, não usa gás, não tem resistências eléctricas e contudo a comida aquece. E o truque do micro-ondas é mesmo sofisticado, é feito à frente dos nossos olhos, podemos ver o que se passa através da portinhola. E mesmo assim não percebemos como é que o micro-ondas consegue. Isto sim, é magia.

Fazer legumes em papa com uma lâmina rotativa é tão mágico como pegar numa faca, cortar uma cebola ao meio e ela ficar em dois pedaços. Imaginem que eu criava um número de ilusionismo. Depois de meia dúzia de truques com aros de metal, pessoas a desaparecer de armários, assistentes a serem cortadas ao meio e coelhos a saltar de cartolas, preparava-me para o grande número final: descascava uma cebola, colocava-a em cima da mesa, pegava numa faca, deslizava a faca sobre a cebola e no fim, quando a cebola ficasse cortada em dois pedaços o público fazia "Oooooooooh!", eu levantava os braços triunfante e recebia uma ovação de pé. Acham mesmo que alguém apreciaria um truque de magia que consiste em cortar uma cebola com uma faca? Então porque merda é que dizemos que a varinha mágica é mágica? Porque corta legumes com lâminas? Eu já experimentei usar a varinha mágica sem a lâmina e acreditem que não funciona. Se fosse assim tão mágica podíamos tirar a lâmina à vontade que continuava a desempenhar a sua função.

Chamem-lhe cortadora, picadora, estraçalhadora, chamem-lhe máquina de fazer sopa, máquina de desfazer coisas, até lhe podem chamar máquina com lâminas rotativas muito rápidas. Todas estas opções são melhores que fingir que é magia. A seguir só falta dizerem-me que acreditam no Pai Natal e que o Harry Potter é baseado numa história verídica.

15 maio 2008

Mudam-se os tempos

mudam-se as vontades.

Há 15 anos o Primeiro-Ministro era Cavaco Silva e o Presidente da República era Mário Soares. Agora o Primeiro-Ministro é José Sócrates e o presidente é Cavaco Silva.

Quando os dois cargos são ocupados por pessoas de partidos diferentes é normal haver trocas de recados entre São Bento e Belém. Um diz uma coisa, o outro diz outra.

Há 15 anos Cavaco falava de forças de bloqueio e Soares falava em atropelos à democracia. 15 anos depois Sócrates pede desculpa por ter fumado no avião e diz que vai deixar de fumar e Cavaco diz que não fuma e que não se fuma nos seu voos.

É bom ver que não há nada mais importante para se falar no momento. Sei lá, uma crise económica mundial, uma escalada generalizada dos preços dos combustíveis e cereais, um tremor de terra intenso, corrupção no futebol ou coisa assim. Ah, como é bom este tempo, em que todos os graves problemas já estão resolvidos e podemos passar o tempo discutir banalidades!

14 maio 2008

Champions

Eh lá...

O FCP perdeu 6 pontos por causa do Apito Final. Até aqui nada de especial, continuam a ser campeões.

Mas acabei de ver na SIC Notícias (vantagens de trabalhar em casa, posso ter a TV sempre ligada) que a UEFA considera impedir o Porto de participar na Champions por causa da condenação!

É que a UEFA não gosta que participem nas competições europeias clubes condenados por falsear ou tentar falsear resultados.

E de repente as sentenças do Apito Final passam a valer alguma coisa... querem ver que o Benfica ainda vai à Champions? E que o Guimarães passa a ter apuramento directo para a fase de grupos? Aguardam-se as cenas dos próximos episódios...

13 maio 2008

Fait divers

E sai mais um: Sócrates a fumar no avião.

Antes de mais, as regras são e já são assim há muito tempo: é proibido fumar em todos os voos que tenham origem ou destino em qualquer estado-membro da União Europeia e também em qualquer voo de companhias da União Europeia, mesmo que voando em destinos fora da UE. É também proibido fumar em qualquer voo de ou para a América do Norte e em qualquer voo de companhias norte-americanas. As regras já são assim há muito, muito tempo. Lembro-me que em 1995 fui ao Canadá e já era proibido fumar no avião, porque ia para a América do Norte. Na UE a proibição terá começado em 99 ou 2000 ou coisa assim. Muito antes até da lei anti-tabaco que entrou em vigor em 2008.

Eu não gosto de atirar pedras a ninguém, até porque tenho telhados de vidro (já conto), mas sabendo o Governo como bem sabe o que a imprensa nacional aprecia estes fait-divers de membros do executivo, sabendo como sabem as várias histórias que têm assombrado este mandato, não conseguiram ter o mínimo de bom senso e não fumar durante o voo? É mesmo preciso mandar mais achas para a fogueira??? Foi a história da licenciatura, depois a história dos projectos, as questões com a liberdade de expressão dentro dos serviços da administração pública, as edições à biografia na wikipedia, agora isto? O Governo não tem consultores ou assim que expliquem porque é que é muito má ideia fumar a bordo de um avião da TAP, ainda por cima numa viagem oficial com um batalhão de jornalistas a bordo?

Última nota: o comandante "não gostou da situação, mas disse para arrranjar uma zona para fumar, se não ainda acabariam a fumar no 'cockpit'". Até parece que as tripulações não fumam...

---

Os meus telhados de vidro: em 95 fui ao Canadá, já era proibido fumar em todos os voos de ou para a América do Norte mas... bom, na altura os alarmes de incêndio não eram tão sensíveis como agora, fui à casa de banho umas quantas vezes fumar um cigarrito; a minha desculpa: tinha 18 anos, era um bocado parvo. Se o alarme tem disparado obrigava a uma descida de emergência e arriscava-me a uma pena de prisão e a uns belos tabefes até porque os meus pais não sabiam que eu fumava na altura. O truque era simples: aponta-se a saída do ar condicionado na direcção do alarme de incêndio, vai-se fumando, afastando o fumo com a mão e puxando o autoclismo várias vezes para provocar a pequena corrente de ar necessária para desanuviar o ambiente; nos tempos que correm não funciona: as saídas de ar condicionado já não são reguláveis nos WC e os alarmes de incêndio têm uma área sensível muito maior, disparam por tudo e por nada.

E em 2002 num voo da TunisAir o senhor comandante assim que descolámos, quando apagou o sinal de cintos de segurança também apagou o sinal de proibido fumar. Parece que em 2002 já era proibido fumar em qualquer voo de ou para a UE mas ou ninguém avisou a TunisAir ou avisaram e eles esqueceram-se de apontar (o voo era Lisboa-Tunis). Quando vi toda a gente a acender cigarros juntei-me à festa.

Hoje em dia já estou perfeitamente acostumado a não fumar durante o voo, já nem me custa. Claro que volta e meia penso em fumar um cigarro, mas pego noutra pastilha, leio o jornal ou então tento dormir e 5 minutos depois passa.

Informação generalizada e sem tabus

Em Portugal existe uma organização chamada Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT). Entre outras coisas, promove acções de informação aos jovens sobre o consumo de drogas e tenta alertar para os seus riscos. E para reunir a informação toda têm um site, o Tu, alinhas?.

Hoje li no Público que algumas associações de pais contestam uma parte do site que é um dicionário de calão relacionado com o consumo de drogas. Mostram-se muito preocupados que tal dicionário funcione como um incentivo ao consumo de drogas.

Fiquei preocupado, devo confessar que sim. Por isso fui ao site, cliquei no "Dicionário" e fui ver a lista de termos que tanta preocupação gera. Quando selecciono a lista aparecem as 26 letras do alfabeto (ou melhor, aparecem 22 ou 24 letras porque parece que não há palavras em calão começadas por W, X, Y ou Z nem termos relacionados com droga começados por Y ou Z; a propósito: as 26 letras do alfabeto, segundo o Acordo Ortográfico; até à sua entrada em vigor o nosso alfabeto só tem 23 letras, por isso temos de escrever "uísque"; este parêntesis já vai longo, o melhor é voltarem a ler a frase e saltarem por cima do parêntesis, para isto fazer algum sentido...), à esquerda de cada letra está um sinalzinho de mais, clico lá e... nada! Nada aparece. Pensei "bom, não deve haver palavras começadas por A", o que me pareceu um pouco estranho; clico no sinalzinho de mais à esquerda do B e... nada. No C... nada. No D... nada. Raios, querem ver que logo agora que eu fui ver isto tiraram o dicionário da net?

E depois lembrei-me: e se eu for ver o site em Internet Explorer em vez de usar o Firefox? Será que já funciona? Abri o IE, e meia dúzia de clicks depois estava a ver a listagem de palavras no dicionário de gíria relacionada com drogas. Oba, oba!

Moral da história:
Pais preocupados com o conteúdo do site: instalem o Firefox, ponham-no como browser por defeito e deixem de se preocupar.
Putos filhos dos pais referidos acima: Cliquem em "Iniciar", depois em "Executar" e depois escrevam "iexplore.exe".


Mais a sério: quando tinha 13 ou 14 anos li um livro que havia na biblioteca municipal (na altura eu ia muito à biblioteca; tinha longos intervalos de almoço de 3 horas, poucos amigos e não sabia jogar bem à bola; hoje em dia deixei-me disso dos livros, mas como continuo a ter poucos amigos e a não saber jogar à bola, fico em casa e vou lendo coisas na net; mas adiante...) que era sobre o consumo de drogas. Contado na primeira pessoa. Era a auto-biografia de um toxicodependente recuperado, que contava histórias da sua vida enquanto viciado em heroína. As artimanhas que usava para arranjar dinheiro, as mentiras que contava, as trips boas e más que teve, etc. E no fim havia um dicionário de calão relacionado com drogas. E eu li-o todo. E não me tornei drogado. E até digo mais: na minha turma havia quem consumisse drogas ocasionalmente, alguns vieram a consumir mais que ocasionalmente e desconfio que nenhum desses tipos alguma vez leu o tal livro. Até acho que não leram livro nenhum. O que é pena, aquilo até tinha uma espécie de manual de instruções sobre a preparação da heroína, os cuidados a ter, etc. E as pessoas que conheço que leram o tal livro, o do manual de instruções com dicionário e tudo, não se tornaram drogadas. Da minha parte fumei charros meia dúzia de vezes, não achei piada suficiente para fazer disso um hábito. Nunca tive curiosidade de ir mais além. Aos 13/14 anos li o livro e não fiquei curioso por causa disso, antes pelo contrário. A existência de informação até me retirou alguma da curiosidade. Só bastante mais tarde, aos 17, é que fumei um charro pela primeira vez, numa viagem de Páscoa com a minha turma de liceu. Éramos 6 só eu é que tinha lido livros sobre o consumo de drogas. Também li o "Os filhos da droga", uma autobiografia de uma toxicodependente de Berlim, a Christiane F.; teria também uns 14 ou 15 anos quando o li; devo dizer que me fez alguma confusão, sobretudo a forma como ela descrevia os seus actos de prostituição para arranjar os 40 marcos necessários para comprar uma dose. Esse livro então não se limitava a descrever como se prepara a droga, alertava também para os vários riscos inerentes ao negócio do tráfico: droga demasiado pura, demasiado cortada, com misturas esquisitas, seringas com impurezas, enfim, tudo o que um agarrado com algum sentido de auto-preservação necessita saber. E não foi por ler o livro que tive vontade de me tornar toxicodependente. A informação por si é inofensiva. É o que se faz com ela que pode não ser. E saber é SEMPRE melhor que não saber. É melhor saber que algodão, neste contexto, se refere ao "Algodão utilizado como filtro na preparação da dose injectável de droga. A partir de um algodão usado pode fazer-se uma «lavagem» e recuperar assim resíduos para uma nova dose (filtro)." do que não saber. Quer para os miudos, quer sobretudo para os pais (se começarem a notar que o algodão lá em casa desaparece num instante... errr...). Deixemo-nos de moralismos bestas. Os putos não vão chutar para a veia só porque leram como se prepara uma dose, tal como não vão mandar uma queca só porque lhes distribuem preservativos (embora, se já estão p'raí virados, aproveitam a oferta), tal como não se vão atirar de um prédio só porque viram no Matrix Reloaded o Neo a fazer o mesmo. Bom, um ou outro, talvez. Mas são os pais os responsáveis por desenvolver nos filhos a capacidade de absorver, analisar e filtrar informação. Ou acham que só porque é um mau exemplo para os miudos vai deixar de haver agarrados a injectarem-se nas ruelas de Lisboa, quando há putos a passar ao lado?

12 maio 2008

O Maestro arrumou as chuteiras

O Benfica até jogou bem (pelo menos para o nível habitual nos útlimos tempos), mas foi pena que a última época de Rui Costa no Benfica tivesse sido tão má para o clube em termos de resultados e instabilidade interna.

Devo confessar que nunca tinha visto um jogador demorar tanto tempo a ser substituido (por menos, muito menos que isso, em 1998 o mesmo Rui Costa viu o segundo amarelo e foi expulso, no último jogo de apuramento para o Mundial de 1998; jogo esse que acabámos por perder, graças a... chamemos-lhe excesso de zelo do árbitro). Quando foi levantada a placa com o número 10, a uns 5 minutos do fim, o estádio de pé aplaude e Rui Costa cumprimenta os colegas de equipa quase todos, os adversários e até o árbitro.

Como ele há poucos, muito poucos. Esperemos que tenha o mesmo sucesso como dirigente que teve como jogador. A integridade que tanto falta aos dirigentes portugueses não falta a Rui Costa, quem sabe se é o começo de uma geração de dirigentes que se preocupa mais em construir equipas capazes de ganhar jogos, em vez de tentar reforçar a equipa com 3 "jogadores" extra.

10 maio 2008

A frase do dia

"Estão a pôr em causa um clube com 105 anos de história e que tanto já deu desporto nacional" - João Loureiro, comentando a pena de descida de divisão imposta ao Boavista.

Pois, acho que o problema foi exactamente esse, terem andado a dar coisas ao desporto nacional, em particular aos árbitros desse mesmo desporto. Se não tivessem dado tantas coisas se calhar não desciam.

09 maio 2008

Apitos

Pronto, pelo menos a parte desportiva já está pronta: U. Leiria perde 3 pontos (e portanto ainda mais último), Porto perde 6 pontos (e portanto fica ligeiramente menos primeiro) e Boavista desde de divisão (é fodido, eu sei... um clube ainda recentemente campeão nacional, pá... é injusto!).

Quanto a dirigentes, saem uns anitos de suspensão para cada um, nada de muito estranho.

Esperam-se para mais logo as reacções dos culpados e depois a procissão segue e continua o julgamento criminal.

Pensamentos sobre o assunto:

1. Relativamente a casos que remontam a 2003/2004 são instaurados processos em 2006 e 2007 e conhece-se a sentença em 2008. Sugere-se uma ligeira aceleração das investigações, faxavor. Não muita, não queremos condenações por corrupção antes do jogo a que dizem respeito, mas assim de repente gostava que referente a um jogo de Abril houvesse condenação ou absolvição até Agosto. Do mesmo ano.

2. O último classificado, já despromovido, perde pontos. O campeão virtual perde pontos, mantendo-se como campeão virtual. A pena não aquece nem arrefece, não muda nada e, sobretudo, não penaliza. Sugere-se que de futuro que as penas de perda de pontos se refiram somente a casos burocráticos como o caso do Belenenses e do Meyong e que os casos de corrupção passem a ser punidos sempre com descida de divisão (e podem ser várias divisões de uma vez se a coisa o justificar!) a acumular com as naturais consequências desportivas da época em curso. Assim, o FCP desceria de divisão e no próximo ano jogaria a Champions e seria campeão mas jogaria na II Liga. Já o União de Leiria desceria para a II divisão B, uma vez que, consequência dos seus resultados, iria de qualquer forma parar à II Liga.

3. Decerto haverá mais apitos, de ouro e não só, por aí. Tá na hora de os começar a descobrir. E a melhor forma de o fazer é com uma condenação exemplar a um dinossauro: imaginem que o FCP ia parar à II Liga por causa de 2 jogos de 2003/2004. E que o Pinto da Costa era erradicado do futebol. Acham mesmo que ele ia aceitar a pena ficando calado? Claro que não! Daí para a frente todas as semanas haveria envelopes anónimos a aterrar na PGR e não haveria telhado de vidro que não levasse duas ou três valentes pedradas. Isso é que seria bonito de se ver e eu aplaudiria de pé o anónimo denunciante.

4. Pelos mesmos factos o clube é condenado por corrupção na forma tentada e punido com subtracção de pontos e o seu dirigente com 1 ano de suspensão, mas o árbitro é condenado por corrupção consumada e 2 a 10 anos de suspensão (o senhor da Comissão Disciplinar falou muito bem e explicou porque é que é assim e que também acha mal e vão sugerir alterações aos regulamentos). Tá mal. Se há uma oferta a um árbitro com um pedido de contrapartida, se a contrapartida não ocorreu, seja porque não foi necessária ou porque o árbitro não foi na cantiga, ficou com a "prenda" e ignorou o pedido, o clube corrompeu. De forma consumada. Ah, o FCP pagou-me umas férias, mas nem precisei de fazer nada porque espetaram 6 golos limpinhos aos outros gajos. Tá bem, e depois? Houve à mesma um pagamento e houve à mesma um pedido de benefício!!!


E pronto, mais não digo. Nos próximos tempos não faltará quem opine, juridicamente ou não, sobre o caso, e eu não sou preciso.

Salário

A palavra vem de sal. É o pagamento feito pela entidade patronal ao seu funcionário pelos serviços prestados ao longo de um mês.

E no reino da bola anda tudo aborrecido com isto. O sindicato dos jogadores veio dizer alto e bom som que na I Liga só Porto e Benfica tinham os salários em dia e na II Liga só 6 clubes estavam na mesma situação. Os restantes 14 clubes da I Liga e 10 da II estavam já com os seus compromissos em atraso (definição de atraso, segundo o sindicato dos jogadores profissionais de futebol: vencimento de um mês por pagar ao dia 5 do mês seguinte).

E pronto, a coisa azedou. Agora a grande notícia são os desmentidos, uns atrás dos outros em que cada clube, ou por comunicado da administração ou dos próprios jogadores, vem dizer que não e esclarece em que moldes é que é costumeiro pagar os salários.

Devo dizer que fiquei admirado. Admirado, não, incrédulo. Incrédulo, não, chocado. Chocado, não, HORRORIZADO!!!!

Fiquei a saber que:
a) há clubes que por sistema pagam ao dia 8 do mês seguinte;
b) há clubes que pagam ao dia 20 ou 21 do mês seguinte;
c) há clubes que só pagam no fim do mês seguinte;
d) há clubes que pagam o salário anual em 10 prestações, em vez de 14;
e) há clubes em que, mesmo que ocorram atrasos de dias que se vão agravando ao longo da época, as contas acertam-se antes das férias dos jogadores.

Eh pá, não há direito!!! Os desgraçados fartam-se de trabalhar, sabe-se lá em que condições, à chuva e ao frio, muitos deles no estrangeiro, quase arrancados às suas famílias em virtude da necessidade económica, arriscando-se a acidentes de trabalho sérios (fracturas, distenções, entorses), sabendo que um acidente pode ser o fim da sua carreira, são mal pagos e ainda por cima recebem tarde e a más horas?????

Não há direito, não senhor! Não há direito.

Muito melhor estão os gajos que vão trabalhar para a construção civil no estrangeiro ou os trabalhadores da indústria têxtil (chorudos salários, boas condições de alojamento, seguros de saúde, grandes bónus, empresas sólidas e promissoras e, obviamente, salários pagos a tempo e horas).

Os tipos do futebol são os escravos do século XXI!

08 maio 2008

Sony-Ericsson

Parece que o Sven Eriksson é o próximo treinador do Glorioso. Já o andam a dizer todos os jornais, desportivos e não só, e pelos vistos, Luis Filipe Vieira e Rui Costa até foram filmados por uma equipa de reportagem da SIC que, por mera coincidência, estava em Manchester à porta do hotel onde se encontraram com o treinador (notícia no site d'A Bola).

Como bom benfiquista que sou já começo a ficar farto dos anúncios messiânicos. Cada novo treinador é o homem que nos vai tirar da crise, cada época que começa é que vai ser em grande, cada jogador contratado é um novo Rui Costa, um novo Simão, um novo Eusébio. O regresso de Camacho não deixa saudades a ninguém, mas a sua saída é lamentada, pelo menos à posteriori, por todos. Com Camacho parecia que tínhamos batido no fundo mas Chalana conseguiu mostrar-nos que o fundo ainda estava longe.

Na verdade a tarefa de Eriksson até está facilitada: esta época acabou tão mal, mas tão mal, que com Eriksson a coisa só pode melhorar. A ver vamos, mas tendo em conta as últimas épocas, mais vale aguardar o princípio da nova época com alguma cautela. E espera-se que para o ano que vem a direcção do clube evite anunciar grandes planos como "vamos ganhar a Taça UEFA" (nota: já não estou a contar com o apuramento para a Liga dos Campeões) ou "Somos o maior clube do mundo" ou ainda "Esta equipa é a melhor dos últimos 300 anos".

07 maio 2008

The Black Donnellys

Estreou hoje na Fox Crime uma série que me chamou particularmente a atenção. Chama-se Os Irmãos Donnelly e merece um olhar atento. Acho que já arranjei programa para este fim de semana.

E mais não digo, vejam.

Se não tiverem a Fox Crime, há sempre uma ou outra solução para o vosso caso. (links fornecidos exclusivamente para fins educacionais; qualquer utilização é por conta e risco do utilizador que deve verificar a legalidade das suas acções)

Grand Theft Auto

Na Nacional 1 um grupo de peregrinos a caminho de Fátima foi atropelado por um carro. Foram 9, todos de seguida. Ninguém morreu, mas um peregrino está em estado grave no hospital. Parece que o condutor adormeceu ao volante, passou para a faixa contrária e literalmente varreu os peregrinos todos de enfiada.

Há uns anos apareceu um jogo de computador, o Grand Theft Auto, em que se ganhavam pontos roubando carros, provocando acidentes e atropelando pessoas. Carros mais caros davam mais pontos, acidentes em que um camião cisterna explodia davam muito mais pontos e atropelar muita gente de seguida dava pontos de bónus. Havia mesmo uma situação no jogo em que se passava por um grupo de pessoas a andar a pé, em fila indiana (uma procissão, ou um grupo de escuteiros ou lá o que era). Se os conseguíssemos atropelar todos de uma assentada dava uma catrefada de pontos.

Enfim, em geral a ficção imita a realidade, mas às vezes os papéis invertem-se. A grande diferença aqui é que no jogo os atropelamentos em série eram de propósito.

Karma

Sempre que lavo o carro o tempo fica de chuva. Tava tão bonitinho ontem, todo brilhante, e hoje dá-me a ideia que vai chover...

06 maio 2008

A vida é injusta

Ainda agora entrámos em Maio e já estou a pelar das costas...

05 maio 2008

Darwinismo

Diz a teoria da evolução das espécies que a selecção dos mais aptos, dos mais fortes, dos mais capazes, garante as melhores hipótese de sobrevivência da espécie. Somente os indivíduos dominantes conseguirão reproduzir-se, produzindo assim descendência mais forte.

Pois bem, este vídeo mostra que:
a) ou a espécie humana não tem grandes hipóteses de sobrevivência
b) ou a teoria de Darwin está claramente errada



(Um shot normal de tequilla segue um ritual em três etapas: lambe-se sal da mão; bebe-se a tequila; trinca-se o limão. Estes senhores acham que isso é para meninos e vai daí, o sal é snifado em vez de bebido e o limão é espremido para dentro dos olhos em vez de trincado... só de pensar que estes seres possuem os mesmos 46 cromossomas que eu... arrepia!)

01 maio 2008

Há coisas que não se fazem

Uma delas é usar uma ferramenta de tradução automática para criar versões traduzidas dum site. Caso contrário, aparecem mensagens como:

"Seu browser não aceita bolinhos. Se você quiser pôr produtos em seu carro e os comprar você necessita permitir bolinhos."
(bolinhos são as cookies)

"Estale aqui para comprar"
(estale é click)

Cenas dos próximos capítulos

Os próximos dias serão muito agitados por terras lusas. Eis a minha previsão para os acontecimentos:

1. Santana Lopes é convidado pela SIC Notícias para uma entrevista, como candidato à liderança do PSD. Vai responder a perguntas, expor a sua estratégia para vencer as eleições legislativas dentro de 1 ano, mostrar porque é um bom candidato a líder da oposição e a Primeiro-Ministro.

2. No decorrer da entrevista os jornalistas insistem no facto de Santana Lopes já ter perdido umas legislativas e ser, aliás, o único primeiro-ministro a fazê-lo. Santana Lopes mostra-se irritado.

3. Ao fim de uma boa meia hora de entrevista o jornalista informa Santana Lopes que vão ter de interromper uns minutos. Vão passar a emissão em directo para a casa de José Mourinho, porque o Special One foi ao jardim regar a relva e querem ver se ele está a amuado por o Chelsea ter chegado à final da Champions, coisa que ele não conseguiu fazer em três anos.

4. É retomada a emissão em estúdio, depois de 3 minutos a filmar José Mourinho a ligar e desligar a água e a brincar com o cão, em que respondeu meio torto a uma ou outra pergunta e pelo meio ainda disse "Mas você é parvo, não?" a um jornalista que lhe perguntou na cara se não sentia o seu orgulho ferido por o Chelsea ter chegado mais longe sem Mourinho que chegou com Mourinho.

5. Santana Lopes mostra-se indignado com a falta de educação da SIC Notícias e abandona a entrevista, não sem antes dar uma lição de moral que dura um bom quarto de hora.

6. Os dias seguintes são passados a ler na blogosfera e nos jornais de grande tiragem as opiniões de todos os opinadores de serviço a mostrarem a sua solidariedade para com Pedro Santana Lopes. Toda a gente concorda que foi muito feio.

7. Passada uma semana já ninguém se lembra do caso.

8. Pedro Santana Lopes perde as eleições para líder do PSD e anuncia a sua retirada da vida política. Abandona a liderança do grupo parlamentar do PSD e renuncia ao seu mandato de deputado.

9. Em 2009 Pedro Santana Lopes volta a aparecer nas listas do PSD, desta vez pelo círculo eleitoral da Madeira, cujo PSD local não aceita as estratégias emanadas de Lisboa e age por conta própria.

Então, o que acham? É mais ou menos isso?

Vou de fim de semana prolongado, aproveitar a ponte. Depois digam-me se tinha razão...