Caracois

No sábado assisti a um fenómeno religioso. É uma coisa pouco frequente e por isso merece menção especial. Sobretudo, porque se tratava da "procissão dos caracois". É uma procissão normalíssima, com malta com velas e mais não sei o quê, mas com um pormenor curioso: ao longo do caminho havia iluminação. Só que em vez de velas usavam caracois. Caracois com azeite que serviam de lamparinas. O efeito era engraçado e os caracois conseguem ser um bocadinho mais resistentes ao vento que as velas. Mas, vai daí, pus-me a pensar nas origens de tal tradição... porque raio havia alguém de se lembrar de usar caracois com azeite em vez de velas?

E acho que descobri: a região tem uma produção de azeite relativamente elevada, mas o azeite não é grande coisa. E vai daí, a malta começou a usar o azeite para iluminar porque ninguém se atrevia a temperar a comida com aquilo. Além disso, o que não falta por aqueles lados são caracois. E como toda a gente gosta de caracois (bem, quase toda a gente; eu não gosto) e não sabiam o que haviam de fazer às cascas, alguém teve a ideia luminosa (no sentido literal, neste caso) de juntar o útil ao agradável (segundo algumas perspectivas) e pronto.

No resto era um fenómeno religioso igual a tantos outros: alguma devoção, alguma pré-histeria à mistura, muita gente a andar com ar solene com velas a arder, a típica competição sobre o tamanho das velas (quanto maior a vela, maior a fé), e uma banda filarmónica. Desta vez a coisa foi um pouco diferente: é que a procissão dos caracois foi referida na televisão e na rádio e por isso havia montes de gente (montes? resmas! paletes! moles!) a ver os caracois a arder e a dizer coisas como "ah, que bonito!". Teve piada.

Eu conheço a procissão desde puto, metade da minha família é de lá. E acho-lhe uma certa piada.