28 novembro 2006

Excesso de velocidade? Ou excesso de ignorância?

O Record de hoje anunciava que o golo do Sporting do passado domingo contra a Naval 1º de Maio (não acham o nome deste clube adorável? eu acho! Sempre é melhor que Figueirense ou F. C. Figueira da Foz) resultou de um remate a uns estonteantes 222 km/h! Alega o record que os cálculos foram feitos com base em dois pressupostos: a distância percorrida (16,5 metros) e o tempo que a bola demorou a entrar (28 centésimos de segundo). Ora, se a matemática não me falha...

Velocidade = Distância/Tempo = 16,5/0,28 = 58,93 m/s = 212,14 km/h
(1 m/s = 3600 m/h = 3,6 km/h)

Gostava de perceber que raio de contas fizeram eles para dar 222. Se calhar 222 foi escohido porque "soa melhor". E ainda disseram que a bola pode ter ido ainda mais depressa, porque a trajectória foi na diagonal!

Além disso, a cronometragem do tempo entre o remate e o golo é feita, naturalmente, recorrendo às imagens televisivas. Ora, como o sinal de televisão tem 25 imagens por segundo (de acordo com a Wikipedia), cada "frame" corresponde a 4 centésimos de segundo e portanto o tempo anunciado pelo Record indica que se passaram 7 frames entre o remate e o instante em que a bola cruzou a linha de golo. Ainda estou para saber como raio conseguiram analisar as imagens de modo a determinar exactamente a frame em que foi efectuado o remate e a frame em que a bola cruzou a linha.

Mas vamos supor que o Record analisou bem as imagens. Então, haverá decerto 2 frames de erro na medida. O instante do remate pode ter acontecido numa determinada frame ou na seguinte, tal como o instante do golo, pelo que cada uma destas medidas virá afectada de um erro de 4 centésimos de segundo. O que indica que o tempo de viagem da bola se situa entre os 20 e os 36 centésimos de segundo. O que indica velocidades entre 165 e 297 km/h. Bem, a margem de erro é demasiado grande para permitir afirmar valores tão precisos. Seria muito mais razoável afirmar que a bola entrou a "cerca de 200 km/h", tendo a palavra "cerca" um significado algo generoso. E ainda estou para saber como raio conseguiram eles, usando as imagens de uma única câmara (se não forem imagens da mesma câmara não vale, não estão sincronizadas!) determinar com exactidão ambos os instantes.

A RTP noticiava hoje de manhã que no remate de Ronny a bola ia a 105 km/h. Infelizmente não encontrei a notícia no site da RTP nem a descrição das contas que a RTP fez. Também gostava de ver essas.

Eu não sei a que velocidade foi a bola. Sei que ia depressa. Mas sei que alguns dos maiores rematadores da história do futebol eram conhecidos por rematar a cerca de 160 ou 180 km/h. E sei que alguns jornalistas são conhecidos por não saber fazer contas. Não quero com isto contestar a validade científica das conclusões do Record, nem acusar aquele jornalista em concreto de não saber fazer contas. De maneira nenhuma! Alguns jornalistas não sabem fazer contas. Não necessariamente este.

10 comentários:

kanjas disse...

O Roberto Carlos tem um record (pelo menos pessoal) de 130km/h... o Ronny, ao que parece (dizem nos jornais), bate isso em 100km/h (temos de arredondar como os gajos do Record)... deve ser por ser do Sporting.


A culpa do abuso de parentesis é tua.

Anónimo disse...

Isso não se chama comportamento obssessivo compulsivo?

Anónimo disse...

Isso não se chama comportamento obssessivo compulsivo?

Esqueci-me de asssinar... Desculpem.

Nelson disse...

Fausto: pois, faz mais sentido, não é?

abc: o quê?

Anónimo disse...

Epá eu é que só venho aqui uma vez por dia (é pouco para o que tu escreves, eu sei) e ainda não tinha lido este texto. Senão, tinha-o citado! Cito-o amanhã, pode ser?

Anónimo disse...

Quanto ao último parágrafo deste texto: estás a tornar-te politicamente correcto em demasia. Assim perdes a graça.

Rantas disse...

Não sei se foi a 100 se foi a 200, só sei que foi um remate do car*lho!


O "*" foi só por causa do "politicamente correcto".

Nelson disse...

Filipe: cita à vontade. Para links (ainda) não é preciso autorização, pá!

Rantas: 100% de acordo.

Anónimo disse...

Desculpa Nelson, devo andar ainda mais nabo do que é costume. O comentário do obssessivo- compulsivo não era para este post.

Era para o das coisas irritantes e referia-se ao facto de passares o resto do dia a pensar no que que seria o aviso do homem zeloso e andares o uma pilha de nervos por causa disso.

Nelson disse...

estranha forma de dislexia...

obsessivo-compulsivo? eu? Um destes dias mostro-te uma T-Shirt que mandei fazer.