Eu sou um dos piores destinatários das mensagens publicitárias. E do consumismo em geral. Ou, pelo menos, tento.
Ontem saí do escritório e fui às Amoreiras (sabiam que o melhor sítio para ver Lisboa é o topo das Amoreiras? É o único sítio de onde não se conseguem ver as torres das Amoreiras) fazer umas compras. Tenho um casamento amanhã e tava a precisar de roupa.
Eu fico sempre contente quando sou convidado para um casamento. De cada vez que recebo um convite olho para ele radiante a pensar "YES! Ainda não é o meu!". Mas ir a casamentos levanta sempre três problemas. O primeiro é que dificulta a adorada sesta de sábado à tarde. Não impossibilita, mas dificulta (é como o Jovens com Asas do Millenium BCP, só que ao contrário. O Jovens com Asas facilita; o casamento dificulta; porra, que comparação mais estúpida, sinceramente...). O segundo problema é, obviamente, a questão da prenda. Quer se goste dos noivos quer não se goste (embora neste caso um gajo possa sempre fingir uma operação ao apêndice; convém tomar nota das operações ao apêndice, para evitar dar a mesma desculpa no segundo casamento de alguém que já nos convidou para o primeiro) um gajo tem de oferecer uma prenda e dar prendas é chato. Também é por isso que eu não gosto do Natal. Gosto do meu aniversário porque recebo prendas, mas a coisa de ter de comprar prendas para os outros.... eh pá, não. Por mim eu oferecia a toda a gente uma edição do Correio da Manhã, que serviria de memória do dia especial que se comemora. Mas parece que isso não seria socialmente bem aceite.
O terceiro problema é muito mais sério e é ele que me leva a escrever este post: é preciso ter roupa em condições. É outra coisa que não percebo nos casamentos: não se pode levar calções de praia e ténis. O meu casamento há-de ser na praia no pino do Verão. Quem quiser ir vestido a rigor que vá, vão é ficar cheios de areia no sapatinho e ficam a ver o resto da malta a tomar banhos de sol e de mar. Quem quiser ir de fato de banho tanto melhor. A seguir às assinaturas da praxe, tudo p'á agua.
Mas não, a malta não se casa na praia obriga toda a gente a ir bem vestida e isso obriga em muitos casos (nomeadamente no meu) a comprar roupa nova. O que tem o mesmo defeito da oferta de prendas (custa dinheiro) e uma agravante: é preciso IR ÀS COMPRAS. E eu acho que tudo o que não possa ser comprado pena net é uma perda de tempo. Tem de se escolher o centro comercial, visitar algumas lojas, ver as roupas que por lá existem, experimentar, comprar (ou não), eventualmente deixar a emendar um ou outro pormenor (apertar um casaco, subir uma bainha, ...) e por aí fora. E todo este cerimonial irrita-me solenemente. Entro numa loja, começo a ver e aparece logo um(a) assistente a oferecer ajuda. E eu digo "obrigado, não preciso; se precisar, peço". Com bons modos, claro, num tom educado, Não desanco o(a) assistente. Pelo menos não ainda.
Acontece que eu... tenho sorte. Consigo comprar o guarda-roupa para uma estação em cerca de 87 minutos, incluindo sapatos (o meu record pessoal é de menos de uma hora, mas tinha vento favorável). E então, lá fui às compras, na esperança de conseguir resolver a questão depressa. Precisava de: um casaco, uma camisa (eventualmente mais se houvesse alguma coisa de jeito) e talvez umas calças (que acabei por não adquirir porque após uma cuidados análise de 2 minutos aos modelos disponíveis concluí que não gostava de nenhum).
Escolho uma loja. Não vou dizer o nome, porque não quero fazer publicidade, mas o nome quer dizer "frequentemente" em inglês. Note-se que também a escolha de loja tem de ser criteriosa, porque eu não tenho dinheiro para mandar cantar um ceguinho (bem, esta expressão é um bocado estúpida; se o ceguinho for o Andrea Bocceli nem eu, nem quase ninguém tem dinheiro para o mandar cantar. Mas pronto, acho que dá para perceber a ideia).
Ainda antes de entrar vejo um casaco na montra que parece jeitoso. Entro e dou uma volta; os outros casacos não são nada do que eu quero. Experimento o número mais pequeno do modelo que me despertou a atenção e... é apertado. Experimento 1 número acima e assenta que nem uma luva. Não fica apertado nem largo, nem curto nem comprido, não me prende os movimentos e as mangas estão óptimas. Passo 2: uma camisa que condiza com o casaco. Várias camisas disponíveis, nenhuma era minimamente interessante para a situação em concreto excepto uma! E acabou-se o dilema da escolha. Vejo os números disponíveis, há um L, um XL e um S. E eu penso "hmmm... o S não deve dar, dava jeito um M". Experimento o S e fica impecável. Não, nada apertado.
Ao todo demorei: 6 minutos a fazer o "scan" à loja; 8 minutos a experimentar (incluindo a duplicação de ensaios em casacos), 2 minutos a pagar e consegui sair da loja em 16 minutos e roupa adquirida. Ah, dava jeito um cinto. Escolho outra loja, cujo nome também não vou dizer, mas que quer dizer "campo de primavera" em inglês, por nenhuma razão especial tirando o facto de ser a primeira loja que me apareceu à frente quando me lembrei que precisava de um cinto. Entro, vou directo aos cintos (parte de trás da loja), olho para as opções. São todos horrorosos, excepto 1 que era giro. Ok, o modelo está escolhido, falta escolher o tamanho. Do mais pequeno para o maior, acertei logo à primeira. Pago e venho-me embora. Demorei: 1 minuto a encontrar os cintos, 3 minutos a escolher, 8 minutos à espera que o senhor que estava à minha frente se despachasse e saí em 12 minutos.
Ao todo, 28 minutos para fazer compras. Aaaaaaaaah! Missão cumprida.
Enquanto deambulava pelo centro comercial a fazer horas para que chegasse a mão-de-obra feminina contratada para ratificar/vetar escolhas e fazer sugestões (sim, que eu sou menino para ir com uma camisa cor-de-laranja, sapatos verde-alface, calças brancas, casaco preto e meias daquelas com raquetes), sou abordado por um indivíduo, jovem, bem apresentado, que me pergunta se me pode oferecer não sei o quê, que não percebi. Viro a cabeça para olhar para o meu interlocutor e reparo que ele saiu de um quisque de um banco daqueles que dão cartões de crédito às pessoas. Também não vou dizer o nome, mas quer dizer "banco da cidade". Sem sequer hesitar, dei-lhe a resposta no mesmo género da que dou aos janados que cravam um cigarro (e que é "não fumo"): "Não. Já tenho cartões de crédito que cheguem, obrigado". E pronto, o homem desistiu (havia de fazer o quê?). Só abrandei ligeiramente o passo para não ser mal educado. Ao todo perdi 1 segundo com esta acção publicitária. Claro que estar pronto a rejeitar ofertas que soem a publicidade sem pestanejar tem os seus males: no hiper-mercado quando dou por mim tou a recusar café à borla! E toda a gente sabe o que se faz quando anda no hiper-mercado e alguém pergunta se pode oferecer um café: vai a correr ao corredor das bolachas a ver se há alguém a oferecer biscoitinhos e depois volta com o bolso cheio de bolachas e abanca ao lado do sítio dos cafés a lanchar.
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2 comentários:
Não quero divagar sobre este tema até porque são 4 da manhã mas eu da última vez que precisei de fato fui à loja que tem o nome da cidade de Milão em italiano (não quero violar as regras da thread), paguei 125 euros pelo fato todo (camisa, gravata, cinto, casaco e calças) e curiosamente a qualidade nem é má (apesar do fato ser à mafioso com riscas e tudo). Dizem-me que a loja agora vende os fatos mais caros mas não sei. Já passaram 2 ou 3 anos.
Já agora, é "condiga" e não "condiza".
as coisas mudam. é possível, nunca fui a essa loja.
condiga vs. condiza: concerteza que sim. mas os erros ortográficos, de sintaxe, gramaticais e de conjugação são parte do charme deste blog.
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