07 maio 2007

Zebras

Sabem como se atravessa a rua? Ensinaram-vos isso na escola, não foi? Aquela lenga-lenga toda de "olhar para os dois lados e, se não vier nenhum carro, atravessar rapidamente mas sem correr". Como corolário desta frase conclui-se que a faixa de rodagem deve ser atravessada perpendicularmente ao eixo da via (ou seja, a distância mais curta) e, porque é necessário olhar para os dois lados, não se deve atravessar em curvas ou outras zonas de fraca visibilidade.

Agora vem a pergunta importante: fraca visibilidade para quem? Para os peões, obviamente, mas também para os condutores! Mais uma vez socorro-me de uma máxima velha que diz que o importante é "ver e ser visto". Afinal, não interessa nada que o peão veja o carro se o condutor não vê o peão. E nestas coisas manda a regra que quem tem a obrigação de facilitar a manobra é o automóvel, mas quem tem de ter mais cuidado, por ter mais a perder, é o peão.

E vem isto a propósito de quê? Das zebras. Num cruzamento tipicamente há passadeiras. E é na passadeira que as pessoas devem atravessar. E se repararem bem as passadeiras não estão exactamente no cruzamento, mas sim a 5 metros de distância, certo? Ora, isto pelos vistos chateia os peões porque seguem no passeio e ao chegar ao asfalto não podem (ou não devem) continuar a andar em frente; devem andar os tais 5 metros até à passadeira e atravessar aí.

Mas porque raio é que não fazem as passadeiras logo ali encostadas ao cruzamento? Muita gente deve fazer esta mesma pergunta, a julgar pela quantidade de pessoas que atravessa mais ou menos perto da passadeira mas não exactamente sobre a zebra. Se também costumas fazer esta pergunta, eu explico, com um exemplo muito educativo.

Há uma semana, mais ou menos, eu ia muito calmamente no carro (a uns 30 ou 40 km/h) e quero virar à esquerda. Faço o pisca, olho para a frente, não vem ninguém, nos espelhos também está tudo livre (convém olhar sempre para o espelho esquerdo, não vá um apressado querer ultrapassar apesar do pisca), olho para a rua para onde quero ir, tá tudo ok, chego ao cruzamento, reduzo para segunda, olho novamente em frente e começo a virar. Estou exactamente a meio da manobra olho para a frente e páro o carro de repente porque tenho um senhor peão a começar a atravessar exactamente no cruzamento, em vez de usar a zebra colocada estrategicamente a 5 metros de distância. Estava exactamente no ângulo morto e só quando deu um passo em frente para se colocar à frente do carro é que o vi. A uns 5 metros dele.

Peões: façam um favor aos automobilistas e eles fazem-vos um favor de volta, tá bem? Não atravessem em zonas em que o condutor não vos poderá ver e os automobilistas vão tentar não vos atropelar, que tal? Parece bem? Atravessem na zebra. Esses 5 metros são o suficiente para que o carro já tenha desfeito a curva, esteja alinhado com a faixa de rodagem e aquela coisa transparente à frente do condutor (pára-brisas ou lá como se chama) permite-lhe ver objectos que estão fora da viatura (as maravilhas da tecnologia!), nomeadamente os peões que estão antes, depois ou a meio da passadeira.

Todos viveremos mais felizes, os peões continuam com 206 ossos e os condutores continuam com um pára-choques inteiro e direitinho, que é como fica bonito, as ópticas arranjadinhas (até porque ter um farol partido dá multa e é chato) e toda a gente vive feliz e contente, que tal?

A máxima deve ser esta: a prioridade é do peão, mas em caso de atropelamento os ossinhos que se partem também.

(em dois dias consecutivos ia atropelando duas pessoas; o que queria atravessar mesmo no cruzamento e outro que entrou na faixa de rodagem a correr e só olhou para um lado; e a minha vontade de colaborar para a preservação da espécie ajudando à preservação da integridade física de outros tem os seus limites)

6 comentários:

Ana disse...

Até que enfim um condutor que me tira as palavras da boca. E digo mais: srs peões, passadeira, dois lados, atravessar com cuidado. E isto não significa atirarem-se para a passadeira! Nem ficarem parados a conversar na berma da passadeira, esgotarem a paciencia ao condutor que espera que eles se decidam atravessar, e depois resolverem atirar-se precisamente no momento em que a paciencia se esgotou!! e depois ainda vem o gnr tipico a acenar com a multa e a dizer que és obrigado a paga-la já ali, mas vá lá que tens uma amiga bem informada e destemida que grita, ai isso é que não tem!! e vá de contestar a multa.
Srs condutores, um recado: os piscas são para ser usados, não são umas meras luzinhas decorativas!!!

Nelson disse...

Mas... mas... os piscas não servem só para fins decorativos? Olha, eu só os uso como iluminações de Natal p'rá biatura!

Meg disse...

Pena só ter arranjado tempo para ler o teu blog agora :(

Mas até calhou bem, porque só ha coisa de 5 dias é que ia sendo atropelada numa passadeira (que por acaso até era para bicicletas).

O chanfrado que vinha tão desenfreadamente da 2ª circular ia a ameaçar ferozmente a creche que tinha no banco de trás. Travou a fundo a poucos centímetros de mim (not kidding), só porque a sua fêmea emitiu uns guinchos de pânico.

Mais uma vez, eu ia na passadeira. E tinha sinal verde. Felizmente ainda não há nenhuma coroa de flores a adornar o cruzamento, mas quase todos os dias ha lá uns malucos que passam com o vermelho - e não é por distração. Ontem foi uma chica-esperta e levou um buzinão nos cornos.

Tenho de arranjar uma buzinha barulhenta para a bicla, um campaínha não chega.

Vou arranjar aquelas latinhas dos jogos de futebol. Assim as minhas viagens vão ser muito mais divertidas, a assustar os peões empatas que vão nos passeios. Deviam era ir todos no meio da estrada.

Sou ciclista, sou a maior, tenho a minha autopista... err, calçada... e corro os peões à buzinada :D

Nelson disse...

ai, ai, mas que raio de leitora assídua és tu? Tens 1 mês de posts para pôr em dia!!!

Meg disse...

Nãoo sei se terei mais. Estou a ler de trás para a frente...

Olha, para te dar graxa, fiz dois ou três posts no Closer to Perfection acerca do Ó Faxavor.

Nelson disse...

já vou lá dar uma vista de olhos... também tenho tido pouco tempo para ler blogs.