21 maio 2007

Consciências pesadas

As pessoas divertem-me. Acho-lhes piada. De vez em quando fazem-me sorrir, cheio de esperança no futuro da humanidade. Depois abro o Correio da Manhã e volto ao habitual cinismo.

Recebi um mail a dar conta de mais uma iniciativa louvável em prol de uma causa justa! Tão justa, tão justa, que mais de 2 milhões de pessoas nem pestanejaram antes de aderir à iniciativa. E a iniciativa é tão louvável, tão louvável, que se fracassar será decerto porque algum "poder superior" os boicota.

A iniciativa chama-se Light a million candles e propõe às pessoas que visitam o site que acendam uma vela (virtual, pois claro) em homenagem às vítimas da pornografia infantil que existe na internet.

O objectivo desta iniciativa é chegar aos 4 milhões de velas (com esta história da Maddie acho que conseguem os 4 milhões só no Reino Unido). E, dizem eles, pôr pressão nos governos, políticos, instituições financeiras, fornecedores de acesso à internet, empresas de tecnologia, e mais não sei quantos para pôr fim à pornografia infantil. E, claro, aliviar as consciências dos participantes.

Os resultados serão, decerto, imediatos! Assim que atingirem o número mágico dos 4 milhões de velas virtuais todos os pedófilos deste mundo num acesso de razoabilidade e bom senso irão apagar a pornografia infantil que têem nos seus discos rígidos. E todos os donos de sites porno com crianças irão, devido ao peso nas suas consciências, desligar os seus sites. E todos juntos iniciarão o seu percurso de remissão pelo mal que provocaram às crianças e às suas famílias e todas as crianças desaparecidas irão de súbito aparecer à portas de suas casa.

E no fim, claro, ouve-se o narrador a dizer "e viveram felizes para sempre".

Depois toca o despertador, a malta acorda e vai trabalhar.

Felizmente há quem não acredite em contos de fadas e faça algo mais que acender velas virtuais.


Nota: eh pá, eu sei que o tom é um bocado agressivo, mas detesto acções cuja finalidade é somente aliviar as nossas consciências. Mais informação:
Página da Interpol sobre crimes contra crianças (inclui links para a legislação de todos os países membros da Interpol e um link para uma organização onde podem denunciar todo o tipo de crimes cometidos sobre crianças. Uma denúncia vale mais que mil velas.

13 comentários:

Ana disse...

Não acho nada agressivo. E digo mais: CLAP CLAP CLAP. Isto sou eu a bater palmas.
Bem q podiam divulgar a lista e a morada dos pedófilos em Portugal. Ao menos os pais podiam estar atentos.
Honestamente...mas quem é que vê atracção sexual numa criança??
Castração química e é já!!

kanjas disse...

Aproveito este tópico para pedir à vanadis o blog dela para eu ir ler. É que a clickar no nome dá um erro qualquer :(

E concordo quando ela diz:

"quem é que vê atracção sexual numa criança??"

Não tem muito mais piada uma mulher adulta?! Nada de MILFs! Perversos.

Anónimo disse...

Só eu sei as tretas que ouvi de idiotas (que não t|em outro nome) que acham muita piada a este tipo de iniciativas. A única piada que isto tem é ser uma palhaçada de todo o tamanho e eu sinceramente já não tenho idade para gostar de palhaços, nunca gostei e o AJJ já chega e sobra para isso.

Quanto à natureza do problema dos pedófilos, acho que não se pode pôr as coisas nos termos:

"quem é que vê atracção sexual numa criança??"

Não se percebe bem aquilo que regula os desejos sexuais e em boa verdade, desde que não resulte no prejuízo claro de alguém, acho que cada um é livre de fazer aquilo que quer e bem entende no que diz respeito à sua intimidade.

Como não é o caso da pedofilia e já se viu aos extremos que algumas pessoas afectadas por esta perturbação chegam, não sei que dizer. Vivam celibatários, metam-se nas drogas ou no álcool, no WOW, qualquer porcaria desde que se controlem.

Em último caso têm sempre a castração química e não sei até que ponto é que não deveria existir uma forma de castração química voluntária para estas pessoas ainda antes de ocorrerem em delitos efectivos.

Repare-se no seguinte, se um tipo for pedófilo e andar anos a lutar com a consciência para reprimir os seus desejos sexuais, enquanto não ceder parece-me que tem algo concreto onde se agarrar. Agora a partir do momento em que de facto ocorre em delito, que é o que o motiva a não voltar a repetir? Arrependimento?

É do conhecimento comum de que quando se cai nas coisas é muito mais difícil delas sair do que evitá-las se nunca se tiver lá estado. Pelo menos com uma "solução" destas, apesar de eticamente questionável, creio que muitos lhe dariam uso para tentar suprimir os seus desejos sexuais.

Como estamos actualmente, a sociedade basicamente pede a estas pessoas que tenham uma vida de celibato absoluto sem providenciar um mínimo de ajuda nesse sentido. Quando são apanhados em delito, têm todo o tipo de ajuda médica e psicológica (inútil porque uma vez ultrapassada uma certa linha, não há ajuda ou controlo que funcione).

De qualquer forma numa sociedade que despreza surdos-mudos, cegos, para e tetraplégicos, doentes terminais, sem abrigos, etc, acho que não se pode esperar muito para estas criaturas doentias excepto um fechar dos olhos total furado por jornalismo sensacionalista quando uma menina inocente, pura, etc com imagem adequada desaparece e depois se acendem umas velas, mete-se a classe média a despejar umas lágrimas e no prazo máximo de um mês, a rapariga vai estar enterrada nas memórias de toda a gente que vai estar mais preocupada com o destino de férias de verão, a casa alugada no algarve, as reservas do hotel, o festival de verão, etc...

Anónimo disse...

já agora, o plurar de sem abrigo é sem abrigo. Um erro que notei agora no meu post (possivelmente entre outros).

Anónimo disse...

Já agora deviam mudar o nome da coisa para Lets move n million euros já que o gabinete de imagem do David Beckam, as companhias publicitárias que fazem os spots, as TVs, os jornais, etc levam todos o seu quinhão para casa em mais valias ou dinheiro.

Já agora, só uma coisa, acho que a denúncia se for fundamentada, vale mais que 4 milhões de velas, sejam elas virtuais ou não. 1000 é capaz de ser pouco...

Nelson disse...

Já agora, WoW deve ter um O minúsculo, já que é a sigla de "World of Warcraft". O "of" costuma estar em minúsculas.

Já agora, escrever já agora em duas frases de seguida fica mal.

Anónimo disse...

Sim, mas não respeito suficientemente o WOW para levantar o dedo do shift quando estou a escrever a sigla.

Quando ao "Já agora" também notei mas é um erro meramente estético ao contrário do plural de sem abrigo. Como tal deixei ficar...http

Afinal, não queremos induzir os leitores deste espaço em erro... :P

Ana disse...

CLAP CLAP CLAP ao Nelson e ao ABC!! Não há mais palavras, acho que melhor não poderá ser dito.
Ah, já agora (eu adoro roubar as ideias dos outros, ehehehehe), o já agora estava fenomenal.

Fausto, não sei porque é que dá erro, sorry :-(. Mas não acho assim bem publicitar o meu blog no Faxavor, sem autorização do dono legitimo. O nelson já deu com ele, pede-lhe :-). Mas, já agora (eheheheheh novo roubo), eu não sou lá grande bloguista ou pelo menos "postista". =D

Ana disse...

ABC, gostei especialmente da falta de apoios que a nossa sociedade tem para quem se desvia minimamente daquilo que é considerado "normal".
Contudo...pedófilos, assassinos, psicopatas e toda essa resma de doentes mentais do género não têm a minha simpatia. É lógico que nem tudo é preto e branco e que é preciso saber ver o cinzento...mas ele há coisas, como a pedofilia, que para mim são mesmo preto no branco. Continuo a dizer, mas quem raio é q vê algo sexual numa criança que ainda nem tem o sexo definido? Será a ausência de ferormonas, será a ausência de hormonas, será a ausênsia de identidade sexual ainda propriamente dita.
Hoje em dia arranjamos genes defeituosos para tudo. Porque não mais um, para a pedofilia? E assim fica desculpado quem induz um trauma inultrapassavel numa criança inocente. A culpa é dos genes, meus senhores, não é minha!!
Pelamordedeus, eu tenho tpm (a culpa é dos genes) e fico (ainda mais) agressiva na altura vermelha do mes (por isso é que não sou capaz de ser benfiquista, a culpa é dos genes!!! ;-p)...mas não é por isso que saio por aí e desato aos tiros com tudo o que mexe (se bem que a alguns uns tirinhos não faziam mal... ;-p)!! Ou seja, tu não és os teus genes...apenas.

Pedro Pinheiro disse...

Peço desde já desculpa pela gigante parede de texto que se segue.

"Sim, mas não respeito suficientemente o WOW para levantar o dedo do shift quando estou a escrever a sigla."

É apenas um jogo, e enquanto jogo é bastante bom a vários níveis (e menos bom a outros). Francamente, esse tipo de comentário é pouco edificante.

Se queres reclamar com vício em jogos de computador, não culpes UM jogo só porque é particularmente mediático. Counterstrike, Starcraft, Quake, Halo, Everquest entre muitos outros vêem viciados tão maus como os de WoW. Aliás, a não ser que consigas algum tipo de justificação científica sólida, não culpes os jogos em geral. Corres o risco de ser comparada ao Jack Thompson, o que é pouco elogioso. Se há pessoas obsessivas, não é culpa dos produtores.

(Full disclosure: Sim, sou jogador de World of Warcraft)

Um bocadito mais "on-topic": alguém que se mete nas drogas, álcool, jogo, ou o que quer que seja, ao ponto de se entregar a essa actividade não está, por definição, a controlar-se.

Não me lembro de alguma vez ter sido levantado com alguma seriedade o argumento genético para justificar/desculpar os crimes cometidos, e decidir exactamente para que lado pende a balança não é trivial.

Um problema particularmente bicudo é este: A maneira como olhamos para a pedofilia tem forçosamente de se enquadrar num de dois cenários. Ou consideramos que é um comportamento de tal forma aberrante que não pode ser resultado de uma mente sã, ou consideramos que uma pessoa sã é capaz de cometer pedofilia.

Se o pedófilo pura e simplesmente tem problemas mentais então não pode de todo ser considerado responsável pelos seus actos, mas ninguém quer sentir qualquer compaixão por ele da maneira que, digamos, tem pena de uma pessoa com síndroma de Down (aka mongolismo).

Por outro lado, ninguém quer admitir sequer a possibilidade de isto ser um comportamento que uma mente normal seja capaz de contemplar, porque isso implica que aquilo que vemos como um dos actos mais odioso imagináveis pode ser, de alguma forma, moralmente defensável. Pode ser, talvez, equiparado a quem gosta de BDSM, e aí passa a ser meramente uma discussão sobre consentimento.

Estamos muito longe de poder considerar isto um assunto a preto e branco.

Pessoalmente, alinho com a opção com a opção que a pedofilia é um desvio psiquiátrico e deve-se reagir como tal até às últimas consequências -- com certos limites. Por exemplo, sexo com um indivíduo na faixa dos 15-17 anos, sendo legalmente pedofilia se o parceiro exceder idades estipuladas por lei, já envolve um indivíduo provavelmente sexualmente maduro, que há alguns séculos seria considerado como apto para casar, e que noutras culturas (nomeadamente, a japonesa), está numa faixa etária alvo de um particular fascínio de índole semi-sexual. Ainda menos preto no branco do que estávamos antes.

Ana disse...

Sim, Pedro, isso é verdade. Mas, pelo menos eu, qd falo em pedofilia, falo em crianças da faixa etaria abaixo dos 14 anos. Falo de bébés mesmo. Desculpem lá mas a desculpa dos genes e dos disturbios psicologicos não pega. Honestamente vou mais pela tese de uma pessoa sã ser capaz de pedofilia...o ser humano é bem capaz de cenas que não queremos admitir. A pedofilia é só uma delas.
Comparar trissomia 21 à pedofilia? Acho que não tem mesmo nada a ver...a trissomia 21, como o nome indica, é resultado da existencia de uma copia extra do cromossoma 21 (tem-se 3 copias em vez de duas). A pedofilia, a ser resultado dos genes, seria de um gene que todos nós temos no geral e que de uma maneira ou outra não foi silenciado. Não me perguntem como, porque a cena do silenciamento de genes ainda nem os Nobels descortinaram.
Apesar de o tema ser cinzento, acho que temos de lhe reagir com preto no branco: não há desculpa. E estou a falar de crianças de 3, 4, 5 anos traumatizadas para sempre. Acima dos 14, qd a puberdade já despontou, a coisa torna-se complicada, aí concordo. Mas abaixo dos 14, não há desculpa.

Pedro Pinheiro disse...

Calma lá, que a discussão aqui é simplesmente esta: Ou são pessoas sãs (e vão para a cadeia, e levam o "tratamento extra" que violadores e outros criminosos de índole sexual tipicamente levam, hehehehe), ou não (e são admitidas em instituições psiquiátricas. De forma alguma defendo que se safem.

Por outro lado, temos de ter cuidado que nem todas as doenças crónicas são necessariamente de origem genética. A minha namorada sofre de epilepsia causada por trauma de parto, por exemplo.

Quanto a idades, sim, não há como justificar de qualquer maneira o abuso de crianças pré-pubescentes.

Nuno Pereira disse...

Clap, Clap a toda a discussão e aos seus intervenientes.