17 agosto 2006

Profissão de risco

Corretor de seguros de petroleiros é uma profissão de risco e de desgaste rápido. Deviam ter isenção de IRS (ou imposto equivalente lá no país deles) e pensão completa ao fim de 5 anos de trabalho.

Eu explico: um super-petroleiro transporta cerca de 2 milhões de barris de petróleo numa só viagem. E uma viagem pode demorar à vontade uns 3 meses ou mais. Ora acontece que na actual conjuntura de preços, o petróleo anda a subir a um modesto ritmo de 20 dólares por barril por ano (em Julho de 2004 custava cerca de 40 dólares, em Julho de 2005 chegou aos 60 e actualmente está perto dos 80). Ou seja, quando o petroleiro sair seja lá de onde ele vem o petróleo tá a 80 dólares. Quando descarregar, 3 meses depois, já deve andar pelos 85.

Quer-se dizer... quando saiu o barco transportava 160 milhões de dólares em petróleo; quando chega já transporta 170 milhões, uma diferençazita de 10 milhões de dólares entre o início e o fim da viagem.

Ora bem, o bicho tem de fazer um seguro, claro. Pode acontecer um acidente e perder a sua preciosa carga. Mas com esta especulação, deve ser o cabo dos trabalhos negociar o valor a segurar e calcular o preço da apólice, não? O pobre corretor faz o acordo com a empresa do petroleiro, vai para casa dormir todo sossegado, no dia seguinte volta para assinar os papéis e dizem-lhe que os valores têm de ser corrigidos, o barquito já vale mais.

E se há um acidente? Ora o gajo espatou-se ao fim de 2 meses, portantos, um aumento de 3,33 na cotação (em média), logo no instante do acidente valia uns 6 milhões e meio de dólares a mais que quando partiu. Mas quando chegasse havia de valer ainda mais um bocado! Quer-se dizer: paga-se o valor da carga no arranque, no momento do acidente ou no instante previsto da chegada? E se houvesse um atraso? É preciso andar a monitorizar tempestades e coisas do género para saber quanto tempo é que ele ia demorar a chegar para calcular o valor a pagar?

E o pior nem será isso! Reparem bem: a carga valoriza-se ao ritmo de 6% em três meses, ou seja, 26% ao ano. Quer-se dizer... se há um atraso a dona do petroleiro não só não pode cobrar nada da seguradora como ainda se arrisca a ter de pagar! Eu acho que vou começar uma empresa que compra petróleo na Arábia e vende-o 3 meses depois em Nova Iorque. A este ritmo de preços é uma festa! Alugo um contentor num super-petroleiro.

É claro que toda esta situação passa-nos completamente ao lado. A única coisa que interessa é se a gasolina tá mais cara ou não. Bem, a mim nem interessa assim tanto, tenho carro da empresa, não sou eu que pago. Mas adiante...

Imaginem 2 petroleiros. Um novinho em folha, que demora 3 meses e outro a cair de podre que demora 6. O barco todo podre anda tão devagar que valoriza-se 20 milhões de dólares durante a viagem, e o outro só 10. Quer-se dizer, mais vale ter barcos todos podres e arriscar um acidente (o que só traz vantagens porque ainda faz subir mais o preço do barril, né?).

Eh pá, quando é que começa o campeonato para eu me começar a preocupar com coisas importantes e deixar de pensar nestas merdas?

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