14 agosto 2006

Abaixo o tabaco

Uma empresa irlandesa colocou um anúncio de emprego em que excluía os fumadores. O DN publicou um artigo (já não me lembro bem do dia, mas foi manchete) em que falava da discriminação contra fumadores. Inclusivé, falava empresas portuguesas que adoptam a mesma prática: não contratam fumadores.

E não é que apareceu uma besta qualquer que alega que isso não viola a legislação comunitária, porque esta só condena a discriminação com base em "género, raça ou origem étnica, religião ou crença, deficiência, idade ou orientação sexual" (como se pode ler aqui). Ora, como a directiva não condena a discriminação baseada no tabaco, tá tudo bem! Vá lá, há quem ache que essa interpretação não é correcta, já que a carta fundamental de direitos proibe qualquer tipo de discriminação.

Podem ler as notícias na SIC Online, TSF, ou no Público, por exemplo.

Então, bora lá por partes: O tabaco é prejudicial à saúde, logo pode e deve ser proibido no local de trabalho. Os fumadores podem (e na minha opinião devem) beneficiar de pausas (previamente acordadas com a entidade patronal) para fumar um cigarro. Os não fumadores podem (e na minha opinião devem) trabalhar o mesmo tempo que os fumadores; o tempo gasto nas pausas deve ser compensado, alterando o horário dos fumadores para que saiam mais tarde, ou que os não fumadores saiam mais cedo. Aliás, há uns tempos houve uma greve na Noruega que entre outras, reivindicava este tipo de medidas (eles não se queixam com salários, vínculos precários, falta de condições, ou fraca cobertura social; isso já tá resolvido há muito tempo; queixam-se da diferença de horários entre fumadores e não fumadores e exigiam duches para as pessoas que vão de bicicleta para o trabalho poderem tomar um duche e não ficar a cheirar a suor; enfim, noruegueses...)

Além do mais, convenhamos que é vantajoso para o país que haja fumadores! Por cada maço de 2,75 Euros (Português vermelho é o que fumo) eu pago em impostos 2 euros, aproximadamente (fiz as contas com base nos dados do OE de 2005 e 2006 e nas estatísticas de fumo em Portugal). Ao todo são cerca de 1200 milhões de euros ano em imposto sobre o tabaco (entre um quinto e um sexto do gasto total com o Serviço Nacional de Saúde), mais até que o Imposto Automóvel (apesar de marginalmente).

Como se isso não bastasse, e tendo em conta que o alcoolismo é um problema também muito sério, com alterações de personalidade que só se notam nos fumadores quando tentam deixar de fumar, por exemplo, eu defendo que se deva discriminar quem bebe também! Tal como o tabaco, nada na directiva comunitária proibe a discriminação contra pessoas que bebem um copo de vinho à refeição, ou uma imperial a meio da tarde, ou 8 whiskies logo a começar o dia.

Ah, e a directiva também não fala do peso! Ou da altura! Podemos então discriminar gordos, baixos, ou gordos e baixos. E também não fala da cor do cabelo. Podemos discriminar louras, porque não?

Por isso, eu vou criar uma empresa que só contrata pessoas que:
  • Não fumem,
  • Não bebam bebidas alcoólicas (nem uma pinga),
  • Não sejam gordas (a partir de 10% acima do peso ideal como classificado pela OMS),
  • Tenham pelo menos 1,60 m (apenas porque sim!),
  • Não tenham iPod,
  • Não tenham telemóvel 3G,
  • Não sejam louras (cor de cabelo, quer original, quer pintada),
  • Não usem brincos (quer gajos, quer gajas),
  • Não tenham conta no Hotmail,
  • Não usem relógio de pulso,
  • Não tenham lentes de contacto (se for preciso, usem óculos!),
  • Não tenham aparelho nos dentes (salvo por razões de saúde, sendo que nesse caso devem trazer relatório do médico),
  • Não tenham tatuagens,
  • Não sejam do Sporting.


Aceitamos qualquer pessoa que cumpra estes requisitos mesmo que seja um fundamentalista islâmico com simpatia por movimentos terroristas, hábil com explosivos e tendências suicidas, que goste de não usar calças nem cuecas, tenha piolhos e não tome mais de um duche mensal. Desde que não fume, não beba, etc... tá contratado!

Não é que as características da lista façam das pessoas melhores ou piores profissionais, mas apenas porque a directiva comunitária não proibe este tipo de discriminação.

E havemos de ter um slogan que diga que praticamos "A igualdade de direitos e a tolerância, tal como consagrado nas directivas comunitárias".

Parece-vos bem? Quem quer ser meu sócio nesta empresa? Podemos chamar-lhe "Equity - Nonsense Services, Inc." e fornecemos serviços de alívio da tensão e do stress, usando para o efeito pessoas muito, muito feias para que os funcionários dos nossos clientes se possam rir das suas trombas horrorosas e com isto descomprimir, ajudando à produtividade!

2 comentários:

ana rita disse...

ahem, nelson, sabes que eu, tirando aí a coisa do ipod, encaixo nesses requisitos todos?

Nelson disse...

Então, não podes trabalhar na minha empresa! E isto não é discriminação, é a União Europeia que o diz (ou pelo menos alguns juristas da UE).

Mas abrem-se excepções para a gerência e corpos sociais, obviamente ;)