07 janeiro 2008

Com os anjos e os santos

O Ministério da Educação decidiu que as escolas com nomes de santos vão ter de mudar de nome. Portugal é um estado laico e portanto não podemos ter nomes católicos nas nossas escolas, porque podemos ferir as susceptibilidades dos praticantes de outras correntes religiosas.

Por exemplo, a Escola Básica Integrada de São Domingos vai ter de mudar de nome. Presumo que uma alternativa válida será Escola Básica Integrada de Domingos. Há casos bem piores, como o da Escola Básica do 2º e 3º Ciclos São João de Deus, que terá de passar a chamar-se, por exemplo, Escola Básica do 2º e 3º Ciclos do João (obviamente nem a palavra São nem a palavra Deus serão mais permitidas!)

E também imagino que o mesmo aconteça com as escolas particulares do ensino público. Imagino o Colégio Sagrado Coração de Maria a mudar para Colégio do Coração de Maria, ou talvez, Colégio de Maria. E o Colégio São João de Brito pode passar a chamar-se Colégio João de Brito.

Mas... pelo que pude perceber, a maior parte das escolas com nomes de santos têm o mesmo nome da localidade onde se encontram. Localidades com nomes de laicidade questionável são, por exemplo, São Mamede de Infesta, São Romão do Coronado, Santo André, Santo António dos Cavaleiros, São Martinho do Porto, Vila Real de Santo António, Santo Estêvão, Santa Margarida, Santa Eulália, São João da Madeira, São Brás de Alportel, Santa Iria da Azoia, São Roque do Pico, etc. Podia ter procurado mais, mas não me apeteceu. Estas foram aquelas que me lembrei de repente e acho que já dão para ter uma ideia.

Será que vamos ter de mudar também os nomes das aldeias, vilas e cidades deste país para que se enquadrem na laicidade expressa na nossa Constituição? Terá Vila Real de Santo António de passar a Vila Real do António? E Santo André, terá de passar a chamar-se André?

E mudem-se também os nomes de monumentos nacionais! O Mosteiro dos Jerónimos tem de mudar de nome! É um monumento nacional, pertence à República Portuguesa, estado laico, não se pode chamar Mosteiro. O mesmo vale para os Conventos de Mafra e de Cristo, Mosteiros da Batalha e Alcobaça e demais resquícios desse tempo em que uma coisa chamada religião era professada neste país.

Mas já que estamos nisso, e porque a constituição também diz que somos uma República, devemos também tirar todas as menções a reis, condes, duques e demais figuras da mitologia monárquica (figuras da mitologia uma vez que, sendo uma república, estes seres deixaram de existir, mais ou menos como os unicórnios). Por exemplo, a Escola D. Dinis passa a Escola do Dinis, a Escola D. João II passa a Escola do João nº 2, e a Escola Infante D. Henrique passa a Escola Henrique. ~E também temos de alterar, claro está, os nomes das ruas, praças e afins. Por exemplo: Praça D. Pedro IV (também conhecida como Rossio), Av. D. João II, Av. Infante D. Henrique, Av. Visconde de Santarém, Av. Duque de Loulé... Ah, e localidades com nomes monárquicos e fascizoides, como Vila Real, desaparecem! Vila Real passa a ser conhecida como Vila. Mas, como até já não é vila, é cidade, sugiro que se chame, Cidade. Se "Cidade" é capaz de criar confusão, chamem-lhe "Apenas Cidade", ou "Só Cidade".

Mas pior ainda são os casos em que ambos os mundos se misturam: A Rainha Santa Isabel, claro, que além de rainha era santa e por isso apanha por duas vezes. Passa a ser a Isabel e acabam-se as ilusões de grandeza!

Até eu, que sou ateu convicto, acho que esta é uma medida parva. E lembrando uma famosa campanha publicitária de uma determinada cerveja e a resposta criada por uma sua rival, deixo-vos aqui um novo slogan: "86,7% dos ateus acha que retirar as menções a santos dos nomes das escolas é uma medida parva. E você?"


PS: este post vai catalogado como actualidade, apesar de serem notícias da semana passada, porque.... errr... olha, não houve tempo!

4 comentários:

Teté disse...

AHN? Olha, pelos vistos, andei no liceu do Pedro...

Mas estes gajos só têm ideias de jerico?

Ana disse...

È mandá-los todos badamerda...

Nuno Pereira disse...

Só tu para escreveres um post assim.

Já agora, se a rua D. Pedro V (que existe em Braga) passasse a chamar-se rua Pedro n.º 5, então como é que se colocava a porta nas moradas?
Rua Pedro n.º 5, n.º 4? Havia de ser cá uma confusão na caixa de correio do nº 5 dessa rua...

E eu que nem sou ateu, nem deixo de ser descrente também acho que essa ideia é, digamos, muito estúpida. Só podia ser o Ministério da Educação a ter essa ideia.

Meg disse...

Adoro o meu país... (-_-)