Aborto

Começou hoje a campanha para o referendo do próximo dia 11 (apesar das evidências em contrário, a campanha só começou hoje!). Ontem foi o debate no Prós e Contras. E no meio disto tudo, acho que já percebi a grande diferença entre uma eleição e um referendo!

Numa eleição os slogans de campanha são adjectivos ou expressões que pretendem adjectivar ou chavões soltos. Coisas como "Competência para governar", ou "Faço!". Coisas como "O melhor para Portugal".

Num referendo os slogans de campanha são interrogativos: "Contribuir com os meus impostos para financiar clínicas de aborto?" ou "Abstenção para manter a lei?".

De resto, é tudo mais ou menos igual. Nós somos bons, eles são maus. E no meio do ruido de fundo, escolher uma resposta em consciência é um bocadito complicado.

O debate de ontem foi esclarecedor. Deu para ver adeptos do Sim a acusar os defensores do Não de discriminação, mentalidade medieval, fanatismo religioso, e deu para ver o adeptos do Não acusarem os partidários do Sim de promoção da irresponsabilidade, leviandade e radicalismo liberal. Até aqui nada de novo. O que teve piada foi ouvir de ambos os lados da barricada as mesmas acusações ao outro lado! Uns acusavam os outros de deixar tudo na mesma e os outros respondiam na mesma moeda. Ao fim de um bocado o discurso já estáva no "O aborto é bom" versus "O aborto é mau" do Gato Fedorento de há umas semanas (mas sem porrada, pelo menos à frente das câmaras).

Também serviu para outra coisa: percebi porque é que os debates não são bons para as audiências. Como a coisa começa muito soft, os grandes argumentos são dados logo à partida, e ficamos com muito pouco para a segunda parte. Depois do intervalo o esclarecimento pouco aumenta e um gajo pode mudar de canal. Assim não dá para vender publicidade nos intervalos e assim não vamos lá! Deviam planear melhor as coisas, a bem do marketing do debate. Senão ficamos sem debates daqui a umas quantas eleições (a menos que sejam promovidos pela TVI, com porrada a sério, um ringue de boxe e tudo). E depois perde a piada toda ir votar.