Último post antes de ir de férias; é grandito, mas vão ter uns quantos dias para o ler... ;)
Eu não gosto de provérbios. Em geral porque têm muito pouca informação factual e não fundamentam as suas alegações. Por exemplo, "em casa de ferreiro, espeto de pau"; nunca ninguém apresentou uma estatística credível sobre a percentagem de ferreiros que usa espetos de pau. Eu nem sequer sei se ainda há ferreiros! Ou "cão que ladra não morde" o que é de certeza mentira em muitos, muitos casos. Eu conheço um: o cão ladra que se farta enquanto não conhece as pessoas e, apesar de ser, em geral, pacífico e meiguinho, já houve umas excepções que decerto vos mandarão à merda se lhes disserem que cão que ladra não morde.
O provérbio de hoje é "Nunca digas 'dessa água não beberei'". Ainda por cima, este provérbio é parvo porque como tem uma citação dentro do provérbio tenho de usar aspas e plicas, o que confunde toda a gente menos os informáticos. E isso dá logo um aspecto geek ao post que era escusado.
O provérbio ensina-nos que não se deve dizer "Dessa água não beberei" porque acabamos todos por beber dessa água de que desdenhámos (também há um provérbio que diz que quem desdenha quer comprar, o que é mentira; uma vez tentei vender um carro e um gajo disse "quanto?! por esse chaço?" e não queria mesmo comprar o carro, estava só a desdenhar, mas sem intenção nenhuma de comprar e ainda por cima mandou-me para um determinado sítio feio; bom, voltemos à água, que é o que nos interessa hoje).
Será que este provérbio faz algum sentido? Será que quando alguém diz "não beberei dessa água" está enganado e irá beber parte dessa água mais tarde na sua vida?
Penso que esta questão é de importância vital para a sobrevivência a longo prazo da humanidade e devíamos investir um pouco do nosso tempo a desvendar a resposta.
E foi exactamente isso que eu fiz, até porque tinha outras coisas para fazer mas não me apetecia. A primeira coisa a saber é: quanta água há no planeta Terra.
A resposta a essa pergunta deixou-me logo mal disposto. Depois de muito blá, blá, blá que não me apetecia muito ler, lá encontrei um número em unidades de gente: 1360 milhões de km^3. O que assim de repente parece-me bué. Parece, mas não é. É que o nosso planeta tem mais ou menos um milhão de milhão de km^3. Ou seja, aqueles mil milhões de km^3 são só um milésimo do volume deste chaço (mais coisa menos coisa, é só para dar uma noção de perspectiva). Basicamente se fizéssemos um cubo com um vértice em Lisboa, outro em Andorra e outro em Londres (o quarto vértice ficaria algures no Oceano Atlântico) e com 1000 km de altura (o que nem é muito! é pouco mais que o limite superior da atmosfera; ou, se preferirem cavar um buraco em vez de erguer um cubo, menos de 1 sexto do raio do terceiro calhau a contar do Sol). Se preferem coisas mais redondas, dava para pôr a água TODA do planeta numa esfera com uns míseros 600 km de raio (o que nem chega para ultrapassar o tamanho do núcleo interno!).
Ou seja, nem é assim tanta água. E explica porque raio o planeta se chama Terra em vez de Água. Tá bem que a maior parte da superfície é água, mas isso é porque os calhaus são mais pesados e vão ao fundo! Ora, se a água é pouca (e andam sempre a dizer-nos para poupar água e tal), é natural que um gajo que diga "Dessa água não beberei", venha a bebê-la mais tarde ou mais cedo. Sobretudo, porque há aquela coisa do ciclo da água e a modos que a água que vemos passar no Tejo (ou no Douro, pronto, ou noutro rio qualquer que eu hoje não quero excluir ninguém) vai parar ao mar, depois evapora, chove, volta ao rio e ao fim de umas quantas tentativas algumas dessas moléculas hão-de jorrar da nossa torneira. Ou pelo menos assim eu pensava. Sobretudo porque nós bebemos p'raí um litro de água por dia, 365 dias por ano, uns 60 ou 70 anos de esperança média de vida... bem, havia de ser uma grande sorte não repetir umas moléculas durante a vida!
Acontece que o ciclo da água é um bocadito demorado; só um geólogo ou astrónomo ou assim é que pode achar que o ciclo da água é um fartote de animação (são os únicos gajos capazes de classificar como rápido um fenómeno que demora um milhão de anos). Ao que parece a água fica nos oceanos uns belos 3 ou 4 mil anos antes de voltar a evaporar (3 ou 4 mil anos na perspectiva de um geólogo ou astrónomo é mais ou menos como um Fórmula 1 visto por uma preguiça).
Ainda para mais, o nosso litro de água diária, ou que sejam dois, vá lá, já a contar com a água que ingerimos nos alimentos, dá uns míseros 50 mil litros de água durante a vida toda. Os mil milhões de quilómetros cúbicos de água do planeta são... mil milhões de milhões de milhões de litros de água (1018 se gostam dessa coisa das notações com numerozinhos em cima). Repetir nem que seja uma moleculazita... já vai ser uma sorte, não?
Ou seja, um gajo vê um rio e tal e diz "Dessa água não beberei". E provavelmente tem razão. Não irá beber essa água. Até podem ir mais longe, encher um copo de água no lava-louça, dizer "Desta água não beberei" e despejá-la pelo cano. O mais certo é nunca mais verem aquelas moléculas na vida. Este provérbio é estúpido.
Mas fico muito mais descansado. É que sempre tive problemas de consciência com a questão da poluição das águas e afinal parece que se estraçalharmos o mar todo o pior que nos pode acontecer é o aquecimento global, não é cairem postas de crude em vez de água quando chove; ainda temos uns milhares de anos de transporte de substâncias esquisitas em barcos grandes antes de começar a chover coisas desagradáveis e peganhentas.
25 abril 2007
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8 comentários:
pois... en teoria tens razão. mas na prática nem por isso. o problema é que o vidro é hydrofílico. e a não ser que o aqueças a mais de 200C, tens sempre uma camada de água adsorbida à superfície do copo. da próxima vez que o utilisares, corres o risco de beber essa tal àgua.
david
olha... boas férias!
Booooooooooooooooaaaaaaaaas fériaaaaaaas!!!!!!!!!!!!!!!!
uga chaka uga uga uga chaka uga uh
P.S. O comentário era meu. Dou um dobado debâda.
Foas Bérias :D
Boas! Mas boas mesmo, já foi um fartote de rir aqui deste lado!!
A tua teoria está um must, especialmente a analogia dos tempos geológicos com a formula 1 vista por uma preguiça (nunca mais me esqueço dessa!!!).
Infelizmente, talvez te tenhas esquecido de considerar uma coisa: a percentagem de água doce versus a percentagem de água salgada. E entre a água doce, a percentagem de água potável e a percentagem de água não potável.
Ou seja, há mesmo muita, mas mesmo muita pouca aguinha potável para uma gaja beber (e o ideal para as gajas são 5 litros por dia, já pós gajos, naum sei, depende se são bi, hetero, homo, trans ou metrosexuais)!! O que significa que em cem anos de vida (porque, garanto-vos, antes dos cem daqui ninguem me tira) algumas moléculas H2O que já bebeste vão voltar a entrar-te pelo corpinho adentro.
Mas é engraçado comparar este nunca digas desta água não beberei (cagando para as aspas e plicas e tal) com o a mesma água não passa debaixo da mesma ponte 2 vezes (Heraclito, num qq século antes do cristo cristão...atão mas afinal, querem dar ca gente em doidos? Ou bebes a mesma água ou não!!! As duas coisas ao mesmo tempo é que não pode ser!!
Não tens mais proverbios que queiras analisar??...olha um que nunca pircibi: "água mole em pedra dura, tanto dá até que fura!". ste tb mete água. Só não percebo a parte da água mole???? Desde qd a água é mole??? Como líquido, o seu volume é constante e a sua forma a do recipiente (se bem me lembro das aulas de quimica com a dona graça)...agora mole?...mas sim, se fores um gajo assim com uns genes tão bons mas tão bons que sobrevives eras e eras a despejar água numa pedra, de preferencia dura, ao fim de um qualquer tempo-de-preguiça-a-ver-formula-um a pedra vai ter um buraquinho. Por isso, parece que estamos a chegar a uma conclusão: os provérbios só têm aplicação se forem vistos não em tempo real mas em tempo de preguiça a ver formula um!!!!!
:-D
Ps - pelo menos alguns proverbios...
ps2 - apanhei o teu blog nos links da perdigota.
Vou linkar-te...realmente vale a pena "perder tempo" a comer uns tramoços (imperiais naum são comigo) ;-p
david: bah!
Fausto: foram boas, sim senhor!
Maria: vai curar a bebedeira, moça!
Vanadis: ganda esticanço! Vou ver se comento outros provérbios em breve. dá-me tempo...
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