04 dezembro 2006

Vem aí o aborto

Ouvi dizer que o aborto tá a chegar. Devo dizer que fiquei preocupado. Mas depois disseram-me que é só em Fevereiro, e por isso achei que podia esperar uns tempos até emitir opinião sobre o assunto. Que tenho. Obviamente. Como em todos os outros assuntos.

Em primeiro lugar, o aborto é mau. E quem achar o contrário que pense como reagiria se alguém lhe chamasse "aborto". Assim, no género "sai da frente ó aborto!" no meio do cinema. Aposto que não gostavam. O aborto é mau, sim senhor.

Em segundo lugar, o aborto é feio. Ou pelo menos para descrever uma pessoa particularmente feia costuma-se usar a expressão "é um aborto". E quanto mais vierem com ecografias a mostrar o que é um aborto mais razão me dão. Um aborto é feio que dói.

Em terceiro lugar, anda p'raí gente que devia ter sido abortada e não foi. Eu conheço uns quantos que não foram abortados e é pena. Se o "Sim" ganhar no referendo vou logo a seguir propor uma alteração à lei à AR a sugerir que o aborto seja permitido também com efeitos retroactivos. Mas não preciso que seja nos hospitais públicos, esses abortos atrasados podem bem ser feitos em vãos de escada. Até porque não há grande perigo para a mãe nestes casos. Até podem estar a ver a telenovela enquanto eu aborto os filhos.

Em quarto lugar, e mais relevante para o referendo que se aproxima, vai começar (aliás, já começou, mas o Ó faxavor! prima por dar as notícias fora de tempo) o debate sobre as virtudes e defeitos da alteração proposta à lei. Oba, oba! Vem aí aquele tempo em que vamos ter senhores priores a dizer que quem vota "Sim" vai parar ao Inferno e líderes parlamentares a dizer que quem nunca gerou uma vida não tem direito a opinião. O debate sobre um aborto é uma espécie de época alta para os blogs que não têm mais que fazer. Nos meses que antecedem o referendo a imbecilidade latente em cada um é mais ou menos como as iluminações de Natal: é impossível não as ver, têm pormenores de extremo mau gosto que tão bem ajudam a aliviar as tensões do dia-a-dia e por mais que já tenhamos visto coisas no género surpreendem-nos sempre.

Com isto tudo eu só espero que a dose de imbecilidade do debate seja tal que por uma razão ou por outra toda a gente vá votar. Por várias razões:
1) o direito ao voto tem muito mais piada quando não se consegue estacionar o carro à porta da assembleia de voto e temos de andar 500m a pé; é giro ver gente a praguejar que mais valia ter deixado o carro em casa;
2) ter 60% de abstinentes é mau para a imagem do País lá fora;
3) se tivermos muita gente a votar demora mais tempo a contar os votos e ajuda ao suspense na noite eleitoral. Nas autárquicas há tanto resultado a aparecer ao mesmo tempo que há sempre algo para ver, mas aqui, numa mera resposta de "Sim" ou "Não" ao fim de 15 minutos já está tudo visto, a menos que haja aquela dose de incerteza que nos faça não mudar de canal para ver a Floribela na SIC o José Hermano Saraiva na 2:;
4) se houver muita gente a votar mandam-se menos votos para o lixo; já que temos de dar cabo de árvores para perguntar coisas à malta, ao menos que o papel tenha alguma utilidade.

Finalmente (sim, este post está quase a acabar, VIVA!), acho que há uma questão muito importante e que está a ser ignorada: já que o problema do aborto é uma questão que diz tanto respeito a jovens adolescentes que engravidaram por engano, ingenuidade, excesso de confiança, ignorância ou pura estupidez, não devia neste caso concreto ser perguntada também a opinião aos mais novos? Hmmmm.... (olha, querem ver que eu levantei uma questão relevante?)

Contra a abstinência, vota no referendo do aborto!

5 comentários:

Goncas disse...

Sim, porque um vendedor da banha da cobra, o mais exímio, mas que não tem efeitos em mim, é bastante melhor do que um outro, que apesar de ser o que é, sempre se rodeava de muito melhor gente. É caso para dizer "diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és". O povo engoliu bem a papa que lhe prepararam.

Goncas disse...

Quanto ao aborto e aos padres que aí andam a espalhar condenações pelo mundo, só tenho que dizer isto: se não querem saber da Igreja, não reclamem que ela seja defensora dos valores da vida, porque o que ela diz não vos interessa, mas também não comentem o que não entendem, nem querem entender.

Nelson disse...

quando li os teus comentários tive um lapso freudiano curioso: em vez de ler "O povo engoliu bem a papa que lhe prepararam" li "O povo engoliu bem o papa que lhe prepararam". enfim, a mente prega-nos partidas destas...

ó rapaz: eu não tenho nada contra a igreja. Nem a favor. Nem contra a campanha feita pela igreja nesta questão. nem a favor. só tenho contra algumas argumentações falaciosas usadas no debate da outra vez. E até fiz questão de salientar 2 exemplos, um de cada lado da barricada, ambos vergonhosos.

Quanto a banha da cobra, compra a que te tento vender. Dou 5 anos de garantia.

abelha maia disse...

Gostei da ideia dos jovens (leia-se com idade inferior a 18 porque eu já passei essa idade mas vou sempre ser jovem!!!!!) poderem votar nesta questão: ainda vamos ter um referendo para saber quem pode votar no referendo.
Gostei da iluminação de Natal!

Nelson disse...

e porque não um referendo para decidir se vamos ter referendo e outro para referendar a pergunta do referendo! O que a malta quer é referendos que este país tem piada em dia de eleições.