20 dezembro 2006

Às vezes atraso-me

Mas mais vale tarde que nunca. Tenho lido algumas opiniões (felizmente alguns dos autores do blog não alinham pelo mesmo diapasão) que falam de Pinochet numa óptica que me parece desculpabilizar o ditador chileno enquadrando os defeitos da sua ditadura militar no quadro de um milagre económico chileno e apresentando-o como um mal menor. Mesmo discordando dos métodos apontam o bem maior que foi conseguido com o regime.

Eu nem vou fazer a comparação com números e factos e estudos e coisas que tais, até porque tenho mais que fazer. Mas... se o bem que Pinochet fez ao Chile permite de algum modo justificar (ou enquadrar, ou relativizar, ou contextualizar, ou compreender, ou outra coisa qualquer que não seja a condenação incondicional) 3000 mortos, será que um bem 2000 vezes maior poderia justificar o Holocausto? (pode não ter sido 2000 vezes melhor mas lembro que em pouco mais de uma década e com apenas 6 anos de plenos poderes Hitler transformou uma Alemanha pobre e desmoralizada na maior potência económica e militar europeia, como os primeiros anos da II Guerra Mundial bem mostraram)

Eu sei que a traição é uma questão de datas e que do lado vencedor há vítimas enquanto que do lado vencido há baixas, mas poderá também o assassínio em massa ser apenas uma questão económica, haverá alguma teoria que consiga encontrar o equilíbrio entre o desenvolvimento económico e o homicídio?


Aos leitores assíduos: desculpem a intromissão nas coisas sérias e chatas, mas hoje acordei com os pés de fora.

5 comentários:

Anónimo disse...

Acho todo este assunto uma perfeita idiotice e é nestas ninharias que se vê a merda que a política é.

Ora, pelo que tenho visto temos uma cambada de halucinados a defender Pinochet e a lamentar a sua morte de um lado e uma cambada de igualmente halucinados a celebrar a sua morte do outro.

Como qualquer pessoa que conserve a saúde mental (acho eu) condeno o Pinochet por ter sido um ladrão e assassino que no fim se safou com os seus crimes.

Já vi que a esquerda e a direita não tem nada a ver com política (a não ser que estejamos preocupados com questões de estética) mas sim apenas o velho dilema se os fins justificam os meios (ver que a natureza dos fins pode ser desde enriquecimento pessoal de governantes até à imposição de valores, é irrelevante). Aliás, cada vez sei dizer menos o que raio significa direita e esquerda.

Naquele blog nojento que citas são aparentemente muito católicos com citações de gajos porreiros como o fundador dessa instituição honesta, a Opus Dei. Ora, da última vez que vi qualquer produção de Hollywood acerca da vida de Cristo, fazem questão de sublinhar que os meios não justificam os fins sempre que isso implique o sofrimento de outros seres humanos (aliás o assassínio de Cristo parece ser justificado por Caifaz e os amigos para proteger o povo judaico das mandíbulas de Roma por causa das rebeliões atribuídas a Cristo e da última vez que entrei numa igreja o Caifaz e os amigos não eram os heróis da história).

Mas continuando, naquele blog, sempre que a estética a defender seja a deles, parece que os fins justificam os meios (caso do Pinochet). Nos casos em que a estética não lhes agrada (Castro por exemplo) os fins já não justificam os meios.

Se fôssemos ver a maioria dos blogs de esquerdófilos veríamos o contrário, ou seja no primeiro caso os fins não justificariam os meios e no segundo já estaria tudo bem.

Em último caso parece que tudo se resume a estatística. Há uns que acham que 1 morte para prevenir 10, 100 ou 1000 se justifica. Há os outros que acham que não. Depois temos as diferenças na estética e temos o circo montado para ouvir semanas a fio nos noticiários uns a defender Pinochets e Pérons e a atacar Castros e Lenins e vice versa.

Nestas coisas sou muito simplório (sim, sou da terrinha) e pragmático, estou-me perfeitamente a cagar para as estéticas. E talvez por causa do espírito natalício gostaria de pensar que quando falamos de vidas os fins nunca justificam os meios.

Nota: Sou um bocado cínico e desprovido de fé na humanidade como tal é provável que depois de ver os anúncios de conteúdos para telemóveis defenda a reabertura de Auschwitz e afins dos Gulags russos se for preciso por isso aproveitem o ataque de espírito natalício.

Anónimo disse...

Correcções:

(...)

Ora, pelo que tenho visto temos uma cambada de halucinados a defender Pinochet e a lamentar a sua morte de um lado e uma cambada de igualmente halucinados a celebrar a sua morte.

(...)

Já vi que a esquerda e a direita não [b]têm[/b] nada a ver com política

(...)

Nota: Sou um bocado cínico e desprovido de fé na humanidade como tal é provável que depois de ver os anúncios de conteúdos para telemóveis defenda a reabertura de Auschwitz e afins bem como os Gulags russos se for preciso, por isso aproveitem o ataque de espírito natalício.

Tenho o mau hábito de carregar no botão sem ler o que escrevo...

Nelson disse...

já agora, faz a segunda correcção e escreve "alucinados" em vez de "halucinados" ;)

Anónimo disse...

Credo. Escrevem-se as coisas a horas impróprias e dá nisto, palavras semi escritas em inglês. Ainda no outro dia mandei vir com um gajo a escrever "butões"... É desta que vou abrir conta no blogger para poder editar os comentários.

Nelson disse...

deixa tar. enquanto não ouvires ninguém a dizer "submiter um papel" (para uma conferência) tás com muita sorte (para quem não percebeu porque não é destas andanças: a tradução de "submit a paper" é "submeter um artigo")