O futebol em Portugal é uma delícia. Dá gosto ser adepto. Acredito que os sócios dos vários clubes existentes em Portugal paguem as suas quotas com alegria, que os espectadores exultem com o preço dos bilhetes, que os assinantes da Sport TV rejubilem com as mensalidades. Os leitores dos jornais desportivos decerto estão deliciados com o preço dos jornais. E os cidadãos que não gastam dinheiro com o futebol, directa ou indirectamente, e que não são adeptos têm de certeza a convicção que o mundo do futebol é um admirável mundo novo (sem a parte da clonagem e condicionamento genético da obra de Aldous Huxley) onde há alegria, justiça, honestidade, brio profissional, e todas as outras virtudes conhecidas pela espécie humana (e algumas ainda por descobrir).
Há uns tempos era para pôr uma sondagem sobre futebol (a pedido do João Paulo) mas a oportunidade (e a imaginação para criar a pergunta certa) não apareceram e a ideia ficou na prateleira. Mas acho que o tema futebol merece uma séria reflexão da sociedade portuguesa, tentando levar para outras esferas da sociedade as maravilhas do futebol.
De facto, começando pela transparência dos processos (os sumaríssimos por comportamentos incorrectos de jogadores, o tempo que demora a aplicar castigos, as contas da Federação, da Liga e dos clubes incluindo os ordenados dos seus dirigentes...), pela vontade manifesta em levar as pessoas à festa da bola praticando preços comportáveis, originando as tão frequentes enchentes com necessidade de adquirir bilhetes com meses de antecedência, tal a dimensão da multidão histérica que quer ver os seus ídolos, pelo comportamento dos jogadores de futebol e o maravilhoso exemplo que dão aos nossos jovens (não ao tabaco, não às drogas, repúdio ao consumo de substâncias dopantes, vida recatada sem excessos alcoólicos ou noitadas frequentes em discotecas, condução civilizada sem excessos de velocidate, etc.), mas, acima de tudo, pela frontalidade com que os dirigentes do nosso futebol encaram as questões e respondem às naturais dúvidas que surgem na mente dos espectadores, adeptos e jornalistas, o futebol é um poço de virtudes (este parágrafo com tantas vírgulas e parêntesis ficou quase impossível de ler; leiam outra vez, mas ignorem todos os parêntesis, que fica mais fácil!).
A propósito da redução de 18 para 16 clubes na I Liga e Liga de Honra, a bem da competitividade, constato uns factos curiosos que decerto motivarão uma verdadeira revolução filosófica na sociedade moderna.
O problema da falta de competitividade da Liga Portuguesa (bem patente pela Taça UEFA conquistada 2003 e a Liga dos Campeões em 2004 pelo F. C. Porto, e a presença na Final da Taça UEFA do Sporting em 2005) é o excesso de jogos. Ou melhor, o excesso de equipas. Portugal é pequeno e precisa de um campeonato com poucas equipas, mas boas. Que qualidade é melhor que quantidade é, creio, universalmente aceite. Portanto, vamos reduzir o número de equipas, reduzindo também o número de jogos e com isso melhorar a competitividade do campeonato nacional. Afinal, 34 jogos de campeonato mais 7 da Taça de Portugal é demasiado. Então, passamos a 16 equipas, o que implica uma redução de 4 jogos. Isto contribui de certeza para a melhoria do ritmo competitivo (toda a gente sabe que as equipas jogam muito melhor depois de paragens prolongadas) e evita o acumular de cansaço nos jogadores (que, coitados, não são pagos para andar a correr 90 minutos de cada vez, mais de 40 vezes ao ano). A melhoria de competitividade vai ser de tal forma evidente que ninguém irá contestar esta decisão.
Mas... há umas coisitas que eu não percebo:
1. Como é que reduzindo o número de jogos conseguimos aumentar as receitas dos clubes? Menos jogos implicam menos bilhetes e menos transmissões da Sport TV implicam menos receitas de publicidade, logo menores pagamentos aos clubes pelas transmissões. Certo? Ou a melhoria será de tal ordem que o preço da publicidade vai disparar e com isso aumentar as receitas? E a redução dos jogos tornará o futebol um fenómeno tão raro que os adeptos vão de repente acorrer aos estádios mesmo com bilhetes a 75 euros (bilhete para não sócios no recente Sporting-Benfica) ou a 20 euros (bilhetes para não sócios para o 3º anel em qualquer jogo do SLB em casa no campeonato, excepto jogos grandes que são muito mais caros)? E será que a mensalidade da Sport TV (ligeiramente acima dos 20 euros) passa a ser considerada razoável pelos tele-espectadores se houver menos 4 fins de semana de futebol por ano?
2. Se a redução do número de jogos é necessária para o aumento da competitividade, porque é que a Liga quer criar uma nova competição, a Taça da Liga, à semelhança do que se faz em Inglaterra? Uma Taça da Liga, mesmo que seja a apenas 1 mão, envolverá as 32 equpas da I Liga e Liga de Honra, o que implica 5 jogos. Não vai a criação desta competição um bocadinho (só muito ligeiramente) contra a argumentação a favor da redução do número de clubes? Ou a redução para 16+16 clubes foi só para dar conta certa para as eliminatórias? (32 é potência de 2, por isso dá para fazer as eliminatórias de forma muito mais simples).
3. Se reduzir os clubes torna o campeonato mais competitivo, porque é que em Espanha, Itália, Inglaterra e França, países que ocupam as primeiras 4 posições do ranking da UEFA, os campeonatos têm 20 equipas e na Alemanha, actualmente em 5º tem 18? Andarão todos estes senhores completamente iludidos em relação à necessidade de tempos de repouso dos jogadores? Já para não falar que as Taças nalguns (serão todos?) destes países são jogadas a duas mãos, logo com o dobro dos jogos, e em Inglaterra pelo menos ainda têm a Taça da Liga, que implica mais uma meia dúzia de jogos. Até a Roménia, actualmente em 7º lugar do ranking UEFA e com apenas 3 equipas nas competições europeias (uma foi ontem eliminada, as outras duas mantém-se em prova, na Taça UEFA) tem 18 equipas no campeonato. No próximo ano, a Roménia subirá ao 5º lugar, enquanto que nós descemos ao 9º posto. (os pontos são divididos pelo número de equipas à partida e nós temos 6, pelo que uma vitória nossa vale metade de uma vitória romena)
4. Se menos jogos (e portanto mais paragens) é bom, porque é tão complicado jogar no início da época contra equipas russas que já levam uns meses de ritmo competitivo quando a nossa época está apenas a começar? Além disso, se jogar é mau porque cansa, porque se faz uma pré-época? Deviam poupar ao máximo os jogadores, evitando sempre que possível jogos a feijões, não? Alguém me explica, à luz desta lógica, o paradoxo que é a falta de competitividade de um jogador que venha de lesão prolongada? Se jogar muito faz mal e jogar pouco faz bem, como se explica que o Mantorras jogue por vezes mal e frequentemente não passe da mediania?
Eu gostava mesmo muito de perceber este fenómeno chamado futebol. Era tão bom que alguém me conseguisse responder a estas questões...
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3 comentários:
Se por acaso alguem conseguir responder, da me um toquezinho ok?
Preferia voltar aos anos 90. Ao menos o meu Maritimo nao andava nesta vergonha e ainda se via futebol (e nao pontapes na bola)...
Pontapé pra frente e fé em Deus...
por falar em Marítimo: levaram 4-1 do Belenenses, não foi? tsc, tsc, tsc...
Gastamos os cartuchos todos nos 4-1 com o braga...
Paciencia...
Mas nao é por isso que vamos perder o titulo este ano...
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