16 outubro 2007

Preso por ter cão

e preso por não ter.

Sempre que há notícias em relação a condenação de um criminoso (a notícia de hoje é pela morte de um chefe da PSP numa barreira policial no Algarve há uns anos) há dois tipos de comentários: os directamente relacionados com o caso e os que não têm nada a ver com isso.

Em relação aos comentários que não têm a ver com o caso, há duas opiniões expressas simultaneamente:

1. Vão para a cadeia e aquilo mais parece um hotel e quem paga somos nós.
2. Daqui a uns anitos já estão cá fora, deviam era ficar lá dentro para sempre.

A incoerência só se safa pela defesa, simultânea também, de duas coisas:

1. Obrigatoriedade de trabalhar na cadeia, por exemplo a limpar matas e coisas assim.
2. Prisão perpétua sem possibilidade de redução de pena.

Mas depois levanta-se o problema: como se garante que presos perpétuos não vão fazer tentativas desesperadas de fuga? Afinal, o que tem a perder um preso perpétuo?

E as soluções também não tardam:

1. Guardas de metralhadora que disparam primeiro e fazem perguntas depois
2. Pena de morte que assim ninguém foge

E neste ponto as opiniões fundem-se. Afinal, ter presos com penas pesadas a trabalhar no exterior ao lado de guardas de metralhadora é quase como uma sentença de morte à espera de acontecer. Mas, não há crise, que era só um criminoso. Aí sim, seríamos uma sociedade civilizada!

E depois vemos os outros casos menos dramáticos, em que se pode invocar o "azar" como desculpa. Por exemplo, o caso do fulano que atropelou uma criancinha porque conduzia bêbado: deve ser logo condenado à morte, claro. Afinal, era uma criancinha. Se fosse um adulto a situação era capaz de ser diferente. E o caso do vizinho que ficou sem carta por conduzir com um copito a mais que devia ser perdoado, porque até é boa pessoa.

Gosto da opinião popular! É pragmática a apresentar soluções e a resolver toda e qualquer incoerência, nem que para isso tenha de abrir uma excepção para cada caso e legislar cada situação a posteriori.

4 comentários:

Ana disse...

Clap clap. De acordo. A opinião popular é talvez a mais subjectiva que já conheci. E a mais dificil de satisfazer.

Ana disse...

A mais interessante foi talvez um popular que, aquando da queda de uma árvore (após uma tempestade) não parava de berrar que isto é uma vergonha!!! Como se o Sócrates tivesse culpa das árvores que caem.
Ou pitas de 15 anos a achar que já sabem imenso da vida...

Teté disse...

O que gosto mais é quando vai tudo prá manif em frente ao tribunal, e gritam todos desalmadamente:
"Assassino!", "Canalha!", "Malvado!"
É de um colorido "popular"... ai, ai!

Redus Maximus disse...

Muito bom, meu caro!
Um post de tom crítico e ironia fínissimo.
Do melhor que te tenho lido!