17 outubro 2007

Os perigos dos Prémios Nobel

Os Nobel da Economia são useiros e vezeiros em intervenções sobre tudo o que diga respeito à economia mundial, sejam ou não especialistas no assunto. E haja ou não algum fundamento no que dizem.

Saramago, Nobel da Literatura, defende a união política Portugal-Espanha, criando um novo país, a Ibéria (por coincidência o mesmo nome de uma determinada companhia aérea)

Alguns Nobel da Física foram pioneiros na investigação nuclear com vista à obtenção de armas atómicas, o que mais tarde veio a revelar algumas consequências pouco agradáveis.

E agora é James Watson do duo Watson&Crick, os cientistas creditados com a descoberta da dupla hélice do DNA e vencedores do Nobel da Medicina, a fazer uma intervenção algo... invulgar.

Só me resta uma conclusão: o facto de Portugal contar com apenas 2 prémios Nobel em cento e tal anos de história só pode ser sinal de progresso. Se fôssemos assim tão atrasados já tínhamos uns 20 ou 30.

12 comentários:

Teté disse...

Racista e homofóbico, tá bonito!

Ana disse...

O senhor watson e o sr crick são ladrões e plagiadores. Não foram eles que descobriram a dupla helice do dna. Foi rosalind franklin...um parceiro invejoso de laboratorio roubou-lhe os resultados (a famosa foto de difracção de raios x tirada ao dna, que mostrava claramente a dupla helice) antes que ela os publicasse e levou-os a watson e crik, que assim ficaram com todos os louros numa descoberta que não foi bem bem como dizem...
Rosalind não recebeu o premio nobel por já ter morrido (cancro de mama, provavelmente devido á exposição aos raiosx) e este premio nunca ser entregue postumamente.

Por acaso tb acho piada a terem atribuido recentemente o nobel da medicina aos senhores que desenvolveram o knockout e knockin de genes (tirar um gene e ver o que acontece, por um gene e ver o que acontece)...a tecnica já é utilizada há mais de dez anos (foi desenvolvida por eles há bastante tempo e tem sido largamente utilizada para estudar doenças de origem genetica)...

Pedro Pinheiro disse...

Hmmm, teté, ele não está necessariamente a ser racista.

Quase tudo e mais alguma coisa no funcionamento do nosso corpo é ou inteiramente definido pelos nossos genes ou tem uma componente genética.

Que a inteligência é pelo menos em parte definida por factores genéticos é mais ou menos dado adquirido.

Que existe uma correlação entre todo um conjunto de predisposições físicas e a etnicidade ou género de um indivíduo também é mais ou menos pacífico. Basta ver os jogos olímpicos, e ver os africanos todos a ganhar medalhas nas provas de atletismo, com zonas diferentes de África a produzir corredores de diferentes tipos (etíopes tendem a ser bons corredores de fundo, não sprinters) e tudo.

Mas quando passamos de dizer que além de uma correlação entre a "raça" de uma pessoa e a sua estrutura física, existe também uma correlação entre essa mesma etnicidade e as capacidades intelectuais do indivíduo, quem faz tal afirmação é obviamente racista. Só pode.

Se ele sugere que os africanos são menos inteligentes que a média humana, certamente se consegue produzir um estudo bem estruturado que o comprove ou refute. É assim que se faz ciência, não é recusando uma afirmação só porque vai contra aquilo em que queremos acreditar -- o Galileu que o diga. Agora é claro que se ele quer afirmar isto, é bom que o faça com dados experimentais sólidos e que não seja só da boca para fora -- então é porque é mesmo racista...

Em todo o caso, quando alguém diz "os pretos são (em média) menos inteligentes que os brancos", há três maneiras de reagir:

Há os preconceituosos negativistas: "Claro que são, isso já eu sabia. E como são burros, é bom que não ponham nenhum a trabalhar em ciência ou o raio".

Também há os preconceituosos positivistas: "Não são nada, coitadinhos. E como não são mais burros que os outros vamos contratá-los especificamente para este trabalho, para marcar a posição que não achamos que eles são mais burros".

E depois há pessoas como eu: "Que se lixe a cor de pele. Quando quero pessoas para um trabalho, faço entrevistas e quem quiser, candidata-se. Se os brancos forem mais inteligentes que os pretos, vai haver naturalemente mais brancos a passar as entrevistas que pretos. Ou vice-versa."

Nelson disse...

vanadis: eu sei, conheço a história. Por isso disse que são "creditados com a descoberta".

teté: um nadita.

pedro: sim, mais ou menos isso, mas cuidado, os primeiros parágrafos do teu comentário são suficientes para irritar muita gente. Quanto a estudos, há uns quantos, muito duvidosos, que apontam num sentido, há outros que apontam no sentido inverso, tipicamente em resposta e todos os estudos mais ou menos sérios são inconclusivos. Como seria de esperar.

Nuno Pereira disse...

O homem foi bem xenófobo e racista. Se no resto do texto ainda restariam dúvidas de que se poderia basear em dados científicos, então quando diz "Quem tenha que lidar com empregados negros sabe que isto não é verdade", não restam dúvidas.

Eu acho que podem existir diferenças genéticas no que toca a capacidade física, inteligência, etc, mas que estarão relacionadas com a evolução que os povos negros tiveram ao longo da história, ou seja, no que toca a força e rapidez, tem a ver com a escravatura, e no que toca a inteligência com a mesma, por não terem evoluído tanto na inteligência como os povos europeus e afins. Mas vai mudar com o tempo.

Nelson disse...

começaste bem mas borraste a pintura toda. 500 anos não dão para nada.

se há diferenças genéticas ao nível físico não é por causa de 500 anos de evolução condicionada pela escravatura, mas sim pelas dezenas de milhar de anos de evolução dos europeus em climas mais temperados.

Se há diferenças ao nível da inteligência de origem genética (o que eu duvido) também será consequência de dezenas de milhar de anos de evolução, não de uns meros séculos.

Ana disse...

Nelson, eu sei que tu sabes. ;-p Era um comentário em geral, para reforçar o homofóbico e racista da tete.

Pedro...não concordo ctgo. É verdade que nos genes está a tendência, mas não a definição. Ou seja, não só somos produto dos nossos genes, como também do ambiente. E não só do ambiente em que crescemos, mas tb do ambiente no ventre materno. A inteligencia, idem aspas. A potencialidade da inteligencia pode estar lá, mas se não for estimulada, é pra esquecer.

E o nelson diz bem que 500 anos não são nada em termos evolutivos. Nem mil anos.
Não se esqueçam do pormenor de o primeiro Homem considerado antepassado do homem moderno ter vindo de ... África. Chegou à Europa, encontrou a espécie Neandertal, cruzou-se, trocaram-se uns genezitos e voilá eis o homem de hoje (teoria que tem vindo a surgir mais ou menos desde o menino do lapedo). E lá continuou ele a migrar por aí.
Com isto quero dizer que genes, temo-los todos em potencia e iguais...a pele negra deve-se à concentração de melanina e não é sinónimo de ser portadora de genes menos inteligentes...

Se vamos por médias de experiencias...onde estão os individuos que o sr watson usou na sua experiencia? Se me disser que andou a ver todo os brancos e todos os negros do mundo...quem me diz que não escolheu um punhado de burros negros e um punhado de espertos brancos para conduzir o resultado na direcção que lhe interessava?
Eh páh, o que há mais no meio cientifico é conduzir as coisas na direcção que nos interessa. Eu podia juntar um punhado de brancos burros, um punhado de negros inteligentes e voilá a minha conclusão: os negros são mais inteligentes.

Essas experiencias são muito duvidosas, especialmente por não haver maneira de as fazer...existem demasiados individuos no mundo...cada um com o seu tom de pele, cada um com a sua percentagem infima de diferenças nos seus genes, cada um com o seu ambiente pre-natal, neo-natal e pós-natal...

E experiencias conduzidas por esse senhor em particular são para mim mui duvidosas, especialmente sabendo que foi creditado por algo que não fez.

Nuno Pereira disse...

Tens razão Nelson, borrei a pintura, mas corrigiste-me bem. Assim como o/a vanadis.
Se os negros evoluiram para a situação genética em que estão actualmente, isso não se deve apenas a 500 anos, deve-se a muitos milhares de anos onde os negros viveram sem nenhum estímulo, nenhum clique que levasse a que criassem uma sociedade moderna, e os europeus, que se juntaram aos povos vindos de África há umas largas dezenas de milhares de anos, tiveram esse clique, que levou a terem uma sociedade como tem de há alguns milhares de anos para cá. Mas não só, também o ambiente influencia, ou pode influenciar, mas de certeza que dá os estímulos para a evolução.
Será que nós tínhamos hoje em dia computadores se alguém um dia no passado não tivesse descoberto a electricidade, por exemplo?

E no caso das capacidade atléticas, os europeus há milhares de anos que vivem vidas mais sedentárias que os povos africanos. Os africanos foram tendo o estímulo para desenvolver mais o corpo, os europeus foi mais a mente.
Mas daqui a algumas centenas, milhares ou dezenas de milhares de anos as diferenças vão ser menores. É só misturarmo-nos todos e começarmos, como já andamos a fazer.

Pedro Pinheiro disse...

"a pele negra deve-se à concentração de melanina e não é sinónimo de ser portadora de genes menos inteligentes..."

E suponho que os africanos terem uma maior tendência a desenvolver "sickle cell disease" (não me lembro do nome em português), e uma menor tendência a desenvolver hemofilia também são características relacionadas com a melanina? E que os asiáticos têm uma proporção muito maior da população com sange tipo B também tem a haver a melanina?

Existem diferenças genéticas a vários níveis entre indivíduos de "raças" diferentes, e estas diferenças são perpetuadas pela tendência à formação de casais dentro do mesmo grupo étnico. Não há grande volta a dar a nenhum destes dois pontos, discursos de "diferenças ínfimas de genes" são retórica pura. Aquilo que estamos a discutir é tendências.

Será que a inteligência é uma das várias características que está correlacionada com a "raça" de uma pessoa? Não sei. Tal como o Nelson disse, os estudos são, no seu conjunto, inconclusivos.

Entretanto, Vanadis, sugiro que olhes bem para a definição de tendência. Acho que não contestas que "os nórdicos são tipicamente mais altos que os latinos". É claro que se conseguem encontrar nórdicos baixos e latinos altos. Mas tendencialmente verifica-se que os nórdicos são mais altos que os latinos (e grande chatice que isso é nos jogos da selecção, de vez em quando). Quando alguém diz "os europeus são mais inteligentes que os africanos" não está automaticamente a dizer "todo e qualquer branco é mais inteligente que todo e qualquer preto". Estamos a falar de tendências, portanto o discurso todo da variabilidade é, uma vez mais, retórica.

Nuno, olha bem para os teus dois posts. Parece que estás a pedir desculpa à humanidade em geral por haver diferenças, ou que essas diferenças precisam de uma justificação para não serem de alguma forma injustas. Deixa estar, diferenças são boas, significa que a "gene pool" não está estagnada, e que ainda temos muita mistura para fazer antes de ficarmos tipo os dálmatas, que têm uma tendência enorme para a surdez, ou os labradores, que se fartam de ter problemas (de origem genética) nas articulações .

Finalmente, e para ninguém ficar com a ideia errada: Onde "Toda a nossa política social está baseada no facto da inteligência deles [dos africanos] ser a mesma que a nossa. Mas todas as experiências dizem que não é bem assim" não é necessariamente uma afirmação racista, já "Quem tenha que lidar com empregados negros sabe que isto não é verdade" não deixa muito espaço para dúvidas...

Ana disse...

Nuno, ok, mas evolução social e inteligencia não são a mesma coisa. Desenvolver a mente e inteligencia tb não são a mesma coisa. :-p LOL. Ah, é A vanadis, já agora, ;-p. O Nelson chama-me outra coisa, né Sr P? ;-p
Percebo a tua lógica, mas não sei se concordo.

Pedro, concordamos em discordar. E percebeste mal o que eu disse, ou eu é que me expliquei mal. O que eu quis dizer foi que por uns terem mais melanina na pele que outros não quer dizer que fossem menos inteligentes.
E quanto aquilo que chamas retórica, estás enganado. Em termos percentuais, as diferenças genéticas entre os vários individuos homo sapiens são ínfimas. Eu não disse que não existiam, disse que eram ínfimas.
Obviamente que basta uma porção ínfima de um gene de uma pessoa estar alterada para que o gene seja diferente...embora igual. :-p Ou seja, codifica a mesma caracteristica, mas dá-lhe fenotipos diferentes.
A discussão aqui era a suposta desinteligencia de negros vs brancos. A inteligencia é uma ferramnenta que sem o ambiente adequado não pode ser utilizada.

A propósito, o Sr Watson foi suspenso pelas suas afirmações tendenciosas.

Nuno Pereira disse...

"A discussão aqui era a suposta desinteligencia de negros vs brancos. A inteligencia é uma ferramnenta que sem o ambiente adequado não pode ser utilizada"
Verdade. Se calhar os africanos têm primeiro que pensar em comer e só depois em desenvolver a inteligência, e os europeus não precisam tanto de pensar em comer. Talvez haja alguma apetência genética, mas ela não apareceu por causa da cor da pele, é certo. Aliás, a cor da pele apareceu por causa de desenvolvimentos genéticos para se protegerem melhor do Sol.

"A propósito, o Sr Watson foi suspenso pelas suas afirmações tendenciosas"
Agora pediu desculpas.

Anónimo disse...

Acho que o Pedro Pinheiro já disse exprimiu bem a opinião que também subscrevo.

Já agora, como pequeno exemplo de que as coisas não são tão lineares como alguém exprimiu aqui relativamente à cor da pele negra ou outra característica genética qualquer, veja-se os cães.

O fantástico gene que dá origem às pintas dos dálmatas é também o responsável pela surdez ou perda olfacto nos cães.

Quem percebe um pouco de cães, sabe perfeitamente que existem características muito fortes a todos os níveis dependentemente das raças consideradas não só a nível mais físico como as pintas dos dálmatas mas a nível dos comportamentos, inteligência para determinadas tarefas, etc...

Há milhares de estudos feitos com cães que indicam que as tendências comportamentais e intelectuais, apesar de poderem ser moldadas com treino estão profundamente relacionadas com a origem genética de cada animal e cada raça apresenta características muito específicas por vezes.

No caso do ser humano, é a mesma coisa com duas grandes diferenças. A nossa gene pool é muito mais uniformizada que nas raças caninas e somos muito mais moldáveis a nível intelectual e comportamental que as restantes raças do planeta.

Isto faz com que as diferenças mesmo que existam, sejam maioritariamente abafadas pelo contexto cultural, educacional e pegando no caso dos jogos olímpicos, que precisemos de ir à centésima de segundo para ver as diferenças.

Pá, seja como for, tenho a certeza que as diferenças existem e basta olhar para a apetência no desporto e actividades que envolvam coordenação motora para ver isso. Se calhar até existem diferenças a nível intelectual e mesmo que as provem ou que se pense que tais diferenças existem, não creio que isso seja racismo.

Parece que as pessoas lidam muito mal com algo que toda a gente sabe que é uma treta e se recusam a ver isso. A verdade é que não nascemos todos iguais, não nascemos com a mesma beleza, perfeição física, inteligência, aptidão desportiva. Uns de nós até nascem com deficiências.

Não nascemos todos com igual acesso a oportunidades, em contextos sociais igualmente justos e por aí fora.

Independentemente dessas diferenças, saber viver uns com os outros e aceitar as diferenças entre nós é o não racismo. Não diferenciar as pessoas por aquilo com que nasceram mas apenas por aquilo que fazem com isso e é neste ponto que devíamos de facto ser iguais.

Racismo ou discriminação se preferirem, é identificar um determinado conjunto de diferenças genéticas e assumir que essas características implicam necessariamente certos comportamentos e certo perfil social, mental, físico, wtv... e excluir essas pessoas com base neste pressuposto. É não acreditar que as pessoas possam superar as suas tendências genéticas, sejam elas quais forem.

Acho que está mais que provado que essas tendências podem ser superadas com mais ou menos dificuldade.

De resto, assumir que todas as raças e pessoas são iguais e que o mundo (mesmo a nível genético) é uma paisagem idílica e perfeita cheia de flores e ovelhinhas é enterrar a cabeça na areia.