21 agosto 2007

Outra na ferradura

Não gosto de pedófilos. Bom, não gosto de criminosos em geral: carteiristas, assaltantes, assassinos, violadores, etc. Mas pelos pedófilos nutro particular asco. Alguém que abusa da sua força e/ou autoridade para agredir sexualmente uma criança enoja-me.

Mas também não gosto de políticos. Sobretudo políticos imbecis que aparecem munidos da cura para as maleitas do seu estado/país/planeta/clube de futebol.

Sarkozy anunciou uma medida que me arrepia. Assim ao de leve, arrepia-me. Após cumprir pena por pedofilia o condenado será submetido a uma avaliação médica. Se esta avaliação concluir que ele é um perigo para a sociedade, será internado num hospital fechado. Ou seja, preso. Num hospital, mas preso à mesma. Porque foi considerado que havia risco de reincidência. Como disse, não gosto de pedófilos. Não tenho nada contra as pessoas que sentem atracção sexual por crianças, tenho-o apenas contra pessoas que põem em prática essa atracção sexual e violam crianças. Tal como não tenho nada contra quem se sente sexualmente atraído por mulheres, apenas por quem as viola.

E não consigo perceber como é que podemos viver bem com a nossa consciência implementando um sistema que permite que uma pessoa seja presa para o resto da vida (chamem-lhe o que quiserem, um tipo que é internado num hospital fechado por tempo indeterminado é preso!) por haver o risco de crimes futuros. Sempre achei que as sociedades ocidentais (e não só) só julgavam e condenavam apenas a prática de crimes e não o risco de crimes futuros. Mesmo tratando-se de pedófilos. De quem eu não gosto nem um bocadinho.

A interpretação da constituição francesa que permite prender pessoas pelo risco de crimes futuros pode ser usada também para justificar todo o tipo de atropelos aos direitos de cada um: um condutor embriagado, depois de passar algum tempo sem carta, ao lhe ser perguntado se tem vontade de consumir bebidas alcoólicas responde que sim; em seguida, perguntam-lhe se tenciona conduzir e ele responde que sim. Mesmo que diga que não tencione conduzir sob o efeito do álcool, não existe o risco que ele conduza bêbado novamente? Se calhar deve ser-lhe retirada a carta de condução para sempre. Bêbado uma vez, bêbado sempre. É como o provérbio: Quem mente uma vez, mente sempre. E mesmo que diga verdade, todos dizem que ele mente. E lá se vai a crença (consagrada nos diversos códigos que nos regem) que o sistema penal é uma forma de castigar e reabilitar quem comete crimes.

4 comentários:

Ana disse...

O sistema penal não está desenhado para reabilitar, apenas para castigar. Essa é a triste verdade.
Apesar de os pedófilos me meterem nojo, pejo, asco, e outros sinónimos que tais, concordo com o que o Nelson diz. Uma pessoa que tenha esses impulsos não vai necessariamente po-los em pratica, penso eu.
Seria muito melhor que andasse com uma pulseira electronica que apitasse cada vez que se aproximasse de uma criança...ou então, olha, castração quimica e pronto. Talvez os impulsos desapareçam.
Mas essa ideia de prender por risco de se vir a cometer um crime...andou a ver o Minority Report demasiadas vezes...então assim é melhor prender todos os árabes e simpatizantes muçulmanos do país, há o risco de poderem vir a ser bombistas suicidas...
Faz-me lembrar aquela anedota: uma gaija está a passear num lago com apetrechos de pesca, quando é mandada parar por um policia maritimo (ou lá como se chama quem patrulha lagos), que a acusa de pesca ilegal. Aqui é ilegal pescar!, diz ele. Mas eu não estava a pescar, diz ela. Ah, mas tem o aparato todo para a pesca, o que significa que o ia usar!, remata ele. Sendo assim, pensa ela, vou acusa-lo de violação! Violação, mas eu não a violei!!, diz o policia, estupefacto. Ah, mas tem o aparato todo para isso, o que significa que me vai violar.
Pois...é melhor prenderem então os gaijos (quase) todos. Só pelo facto de gostarem de gaijas...

kanjas disse...

parece caricato mas é ridiculo

Teté disse...

Duvido que a Constituição francesa permita isso...

Tanto quanto sei, nem existe prisão perpétua em França, que assim como assim, era preferível a esse sistema de "castigo para toda a vida", instaurado por psicólogos?!

Um homicida, quando sai da prisão, também não corre o risco de voltar a matar?

Nelson disse...

alguma interpretação criativa da constituição parece permitir...