26 agosto 2008

JO2008 - Parte IV, Telma Monteiro e os árbitros

Este post faz parte de uma série dedicada à participação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Pequim. É aconselhável ler também os posts anteriores.



Telma Monteiro é (ou pelo menos era) a menina bonita do judo português. Antes do início dos jogos era uma das atletas mais mediáticas da comitiva portuguesa: a miuda é nova, é gira, fotogénica, e fica muito bem de kimono. Por todo o lado multiplicavam-se as entrevistas, reportagens sobre a judoca, sobre os seus métodos de treino, a sua disciplina, os resultados que conseguiu, as expectativas para Pequim. Em regra, acompanhadas de fotografias de página inteira, que a miuda é mesmo gira.

Era candidata a uma medalha, mas falhou o pódio. Perdeu o 2º combate contra a chinesa que veio a ganhar a medalha de ouro, foi repescada e perdeu o combate de repescagem. No fim queixou-se das arbitragens. E foi isso que os portugueses levaram a mal.

Claro! Porque em Portugal NINGUÉM SE QUEIXA DOS ÁRBITROS! Aliás, este país nem ficou 2 anos com azia por causa de um penalty (a mão do Abel Xavier) no Euro 2000 nem nada! Ainda por cima, um penalty bem assinalado e durante 2 anos a desculpa serviu para justificar a nossa derrota no europeu. No mundial de 2002 pudemos ver o João Pinto a bater no árbitro, não foi a queixar-se dele! Ainda neste europeu ouvimos repetidas vezes falar da falta do Ballack sobre o Paulo Ferreira no lance do terceiro golo da Alemanha nos quartos de final. Ainda no Euro-2008 falou-se durante semanas do golo marcado pela Holanda contra a Itália, se era ou não fora de jogo, se a posição do Panucci já fora das 4 linhas validava o golo, a UEFA até veio a público comentar o lance. Por estes lados terminou apenas recentemente um processo judicial sobre corrupção no futebol, em que foram condenados dirigentes e árbitros por crimes de corrupção e coacção. O caso deu (e ainda dá) que falar durante longos anos. No fim de cada jornada de futebol fala-se nos lances mal assinalados. Queixam-se os treinadores, os dirigentes, os jogadores, os adeptos. Ainda este fim de semana, em que arrancou o campeonato, vimos esmiuçado o lance do penalty contra o Sporting (que foi incorrectamente assinalado), e o treinador do Belenenses, após perder 2-0 no Estádio do Dragão veio dizer que a arbitragem foi tendenciosa. Há duas épocas falou-se durante um ano no famoso golo do Paços de Ferreira marcado com a mão em Alvalade, que fez com que o Sporting perdesse 1-0. A desculpa serviu o ano todo e era exemplo sempre chamado quando um sportinguista se queria lamentar do grave prejuizo sentido pelo seu clube. Há uns anos Vítor Baía defende um remate do Benfica já dentro da baliza, o árbitro não assinalou o golo e este lance até teve honras de rábula no Diz Que É Uma Espécie de Magazine. O golo de Vata, marcado com a mão, mas meias-finais da Taça dos Campeões Europeus em 1991 e que levou o Benfica à final ainda é lembrado. Nos jornais desportivos todos os lances de arbitragem são esmiuçados, analisados, comentados. Os adeptos multiplicam-se em acusações de favorecimento de árbitros ao clube do lado. Qualquer discussão sobre futebol em Portugal rapidamente evolui para uma contagem de casos. E não falta quem consiga enumerar, por época, 5 ou 6 casos de prejuizo claro ao seu clube e 5 ou 6 casos de benefício aos adversários.

Mas... mas isso é só no futebol. Nas outras modalidades levamos muito a mal que se queixem da arbitragem. No futebol, pode ser. Mas no judo, não, que é isto? Há que assumir as derrotas e não inventar desculpas como essa da arbitragem, que só serve para o futebol. Porque é de futebol que a malta gosta, é de futebol que a malta (acha que) percebe, é futebol que a malta vê.

Foi pena a Telma Monteiro não ter conseguido a medalha. Sem dúvida que foi. Mas daí a termos um país ofendido porque ela se queixou dos árbitros, é preciso uma boa dose de falta de vergonha na cara, lá isso é...

E também foi pena que os que agora aparecem a criticar as "desculpas" de Telma Monteiro não tivessem visto o combate. Eu também não vi. Por isso não avalio a justiça dos comentários de Telma. Mas já ouvi dizer, por mais que uma pessoa que viu o combate, que Telma Monteiro até tem razão nas suas queixas, foi mesmo muito prejudicada pelas arbitragens.


Nota: Telma Monteiro é estudante do ensino superior e atleta do Benfica. É campeã europeia e vice-campeã mundial. Está integrada no Projecto Pequim 2008 desde Outubro de 2004 no nível III (bolsa de 750 euros por mês), tendo sido integrada no nível I (bolsa de 1250 euros por mês) em Outubro de 2007. Participou nos Jogos Olímpicos de Atenas, tendo conseguido na altura o 9º lugar, o mesmo que conseguiu em Pequim.

3 comentários:

Anónimo disse...

Pá, a questão é bastante simples. A arbitragem no futebol e o futebol em geral está envolto numa atmosfera (real ou não) de intrujice e por isso ninguém se choca com críticas ou reacções desproporcionadas.

Nos desportos mais tradicionais a arbitragem tem melhor fama entre nós, independentemente de ser justificada ou não.

Ana disse...

náaaaa, toda a gente sabe que os portugueses têm vergonha, nelson! onde é que foste buscar essa ideia de que a tugalandia é um país sem vergonha na cara??...

ps - a culpa é sempre, ou do árbito ou do mordomo. Toda a gente sabe.

Teté disse...

Olha mesmo que visse, não fazendo a menor ideia de como é que se avalia uma competição de judo, ficava na mesminha!

É impressão minha ou falaste mais de futebol do que de judo???

Cá para mim, neste caso, a culpa é do mordomo... :)))