Este post faz parte de uma série dedicada à participação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Pequim. É aconselhável ler também os posts anteriores.
Antes dos Jogos o Comité Olímpico Português tinha anunciado um objectivo ambicioso: 4 medalhas e um total de 60 pontos (há pontos para os 8 primeiros em cada competição). Porque estes objectivos, a serem atingidos, fariam desta participação olímpica a melhor de sempre, não demorou nem 2 dias para se criar o já habitual clima de euforia em torno das possibilidades olímpicas portuguesas. Havia até quem falasse em 8 medalhas, havia quem dissesse que eram possíveis 11! Isto num país que o melhor que conseguiu foram 3 medalhas (em 1984 tivemos 1 ouro e 2 bronze, em 2004 tivemos 2 prata e 1 bronze)!!! Por vezes existe este paradoxo: por um lado somos um país nostálgico, sempre a recordar os grandes feitos dos descobrimentos; por outro lado, esquecemos facilmente a história e sonhamos com possibilidades mirabolantes, como 8 medalhas numa competição em que, até agora, tivémos 20 medalhas em 21 participações (3 ouro, 6 prata, 11 bronze).
Mas onde estavam as tais possibilidades de medalha? Bom, ao contrário da maioria dos comentadores de trazer por casa que descarrega sobre a equipa olímpica as suas frustrações pessoais, eu tenho acompanhado a sério os Jogos. E acompanhar a sério é ver os resultados de todas as eliminatórias dos atletas portugueses, acompanhar em directo o que posso, ver a biografia dos atletas, o seu palmarés e os resultados recentes para poder fazer previsões minimamente realistas. E estas foram as conclusões a que cheguei:
Judo: 1 medalha possível, para Telma Monteiro ou para João Neto. Eventualmente, se a coisa corresse mesmo bem, uma para cada um. Ambos são campeões europeus em título e Telma Monteiro é vice-campeã mundial. Entre os restantes atletas da comitiva (5 no total), não pondo em causa o seu valor, a possibilidade de chegar às medalhas era muito, muito reduzida.
Tiro: o nosso atirador, João Costa, é líder do ranking mundial de tiro com pistola a 50m. Muito se falou que ele era o favorito, esquecendo talvez que este ano tem um único resultado a assinalar: um 7º lugar no torneio de qualificação olímpica. Muito pouco para justificar a histeria em torno das suas reais possibilidades. Embora, no final, a classificação tivesse ficado aquém do desejado, dificilmente poderia ser considerado um candidato sério a medalhas.
Vela: contando com velejadores com experiência em Jogos Olímpicos anteriores e bons resultados recentes, podíamos contar com 1 medalha. O principal candidato era Gustavo Lima em Laser. Entre os restantes, uma presença na regata final (os 10 melhores) seria sempre um bom resultado. Claro que, a correr mesmo bem, até podíamos sair de Pequim com mais de 1 medalha na vela. Mas isso já seria contar com uma boa dose de sorte. Gustavo Lima era o mais sério candidato ao pódio, mas nem de perto nem de longe seriam favas contadas.
Triatlo: 1 medalha para Vanessa Fernandes, pois claro! Haveria decerto muita gente a contar com o ouro como garantido, mas não nos podemos esquecer que no último mundial foi apenas 10º e que desistiu na prova da Taça do Mundo que realizou em Julho. Forte possibilidade de medalha, sim, mas numa prova do estilo maratona nada é garantido, qualquer pequeno problema físico pode implicar uma séria descida na classificação.
Atletismo: Aqui, por mais que vos tentem convencer do contrário, havia 2 possibilidades de medalha. E eram as duas bastante certas: Naide Gomes no salto em comprimento e Nelson Évora no triplo salto. Apesar da sua combatividade, da sua vontade e do talento que lhe reconheço, Obikwelu, agora com 29 anos, teria muito poucas possibilidades de chegar às medalhas, sendo uma presença na final um resultado muito satisfatório.
Então, contemos, tá bem? No melhor cenário possível seriam 2 no judo, 1 no tiro, 2 na vela, 1 no triatlo e 2 no atletismo, o que dá 8. Um cenário mais razoável seria contar com 1 no judo ou vela, 2 no atletismo, 1 no triatlo. O que dá 4. 3 hipóteses mais ou menos certas, 2 mais incertas. E foi este o objectivo traçado.
25 agosto 2008
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6 comentários:
Megalomania portuguesa, não? Por mim, achei!
Além de que, como tu bem dizes, há sempre a hipótese de um qualquer desaire do atleta... e os outros, de outras nacionalidades, também estão lá para tentar alcançar o pódio!
Fico a aguardar a restante análise! Que é para continuar, né? ;)
Mais uns 10 capítulos. As partes mais "juicy" serão depois de amanhã. Que é quando começa a análise ao atletismo. :)
Bem, eu não tracei objectivo nenhum porque não conheço o percurso profissional dos atletas. Pus esperanças na naide, no nelson, na vanessa e, quanto ao obli, achava que já estava velhito para estas andanças.
Fiquei com imensa pena da naide gomes... nem imagino o que a rapariga terá sentido ao fazer aquele salto meio estupido...mas os azares acontecem mesmo aos melhores, especialmente qd há tanta pressão em cima :(
Nem mais! Expectativas iniciais muito BEM induzidas.
Pessoalmente não sou partidário de folclore mediático em torne do quer que seja. Que criem as expectativas que quiserem mas as guardem para eles.
Como disse esse grande génio, "Prognósticos só depois do jogo".
É melhor ser cauteloso que depois andar duas ou três semanas a dançar de cadeiras na federação, a repetir incessantemente que "o desporto tem destas coisas" ou "que estas coisas acontecem" e a apontar o dedo a este e aquele ainda antes do fim das competições.
Creio que até por uma questão de sanidade e respeito pelo atleta, deve ser este a fazer a gestão individual das expectativas em torno de si mesmo. Ele mais que ninguém saberá como se sente.
No caso do Oblikwelu penso que ele criou as expectativas em torno de si mesmo talvez para minimizar a insegurança face à sua forma e idade.
concordo, mais ou menos.
Mas as expectativas eram, efectivamente, razoáveis. Sobre o fracasso em relação às expectativas, escreverei num dos próximos capítulos.
Sobre o Obikwelu: sim, ele criou expectativas exageradas. É bem capaz de ser para se confortar. Também falarei sobre o Obikwelu mais à frente, até porque houve alguns comentários que merecem ser referidos.
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