04 julho 2006

Mas, mas...

Atão? Depois de tanto tempo a empranhar pelos ouvidos que a homossexualidade é uma aberração, que não é benéfica para a procriação e que portanto é apenas um desvio comportamental, que é contra-natura, que o sexo deve servir, fundamentalmente, fins reprodutivos embora os humanos o façam também pelo prazer, descobri que:
  • Há mais espécies de mamíferos com comportamentos homossexuais ocasionais ou frequentes que as espécies exclusivamente heterossexuais
  • O comportamento exclusivamente heterossexual é encontrado com mais frequência nas aves, embora também neste caso haja muitas excepções
  • O comportamento pedófilo é relativamente comum
  • Há casos de acasalamento (aliás, tentativas de acasalamento)entre indivíduos de espécies diferentes


A sério! Dou-vos uns exemplos:
  • Nas comunidades de macacos do Japão (os tais que gostam de banhos quentes no Inverno) ocorrem com muita frequência relações homossexuais entre fêmeas. Literalmente esfregam-se umas nas outras. Este comportamento ocorre mesmo quando há machos disponíveis e interessados em acasalar. De vez em quando deixam a sua companheira de longa data (as relações chegam a durar anos) e acasalam com um macho. Depois voltam à sua relação lésbica. Não há nenhuma cooperação para cuidar das crias, nem há interesses estratégicos na escolha das parceiras (fêmeas dominantes ou mais fortes, por exemplo); parece que é só porque gostam
  • Os bonobos (espécie de macacos) copulam permanentemente uns com os outros; existem relações homossexuais entre machos, entre fêmeas, relações sexuais com juvenis (homossexuais e heterossexuais), entre parentes directos, chegam a copular de frente (algo que se julgava esclusivo dos humanos) enquanto amamentam as crias (sim, o puto está literalmente entre os dois) e ensaiam qualquer coisa parecida com uma orgia: tudo ao molho.
  • Numa espécie de andorinhas do mar do Massachussets é comum haver casais de fêmeas que além de não terem nenhum interesse particular em manter a relação homossexual ainda têm mais trabalho: o dobro das crias para alimentar (4 em vez de 2), põem ovos mais tarde e as crias são, em geral, mais pequenas; sugeriu-se que este comportamento fosse consequência da poluição, mas há registos de ninhos com 4 ovos desde há mais de 100 anos.
  • Há machos de uma espécie de gansos que formam uniões para a vida toda. Na época de acasalamento juntam-se a uma fêmea e acasalam com ela. Criam as crias em trio; os descendentes dos trios têm a vantagem acrescida de ter 3 pais a protegê-los e alimentá-los. Por vezes um dos machos é dominante e acasala com a fêmea; por vezes acasalam ambos. No fim da estação, deixam a fêmea e continuam a sua vida a 2. No ano seguinte, outra fêmea se seguirá
  • Os roazes corvineiros (uma das espécies mais conhecidas de golfinhos) dispensam apresentações no que diz respeito à promiscuidade. Mas... chegam a excitar-se sexualmente em grupo com outros roazes corvineiros e com golfinhos malhados, uma espécie totalmente diferente. O seu método de excitação é caricato: quer machos quer fêmeas têm uma fenda que é estimulada pelo bico dos outros (sexo oral, portanto); e isto acontece entre machos, entre fêmeas, em grupos mistos, e em grupos com elementos de ambas as espécies; As relações homossexuais entre machos roazes duram para a vida inteira; por vezes juntam-se a outro par de machos e formam um quarteto temporário; se um dos machos morre o outro procura outro macho; pode até ser adoptado por outro casal de machos e formar um trio.
  • O polvo das profundezas é um animal muito pouco conhecido. A primeira vez que se conseguiu filmar um destes polvos em ritual de acasalemento houve natural excitação. O problema foi depois: é que o polvo (macho) estava a tentar copular com outro macho... e de uma espécie diferente, 4 vezes maior! Estamos a falar de animais que podem passar toda a sua vida sem encontrar fêmeas e que apesar disso desperdiçam o seu esperma numa relação que não vai produzir descendentes. E contudo, fazem-no!
  • Mesmo em insectos ocorrem vários casos de cópula homossexual, embora justificável com fins reprodutivos: um macho acasala com uma fêmea e depois finge-se ser fêmea para atrair outros machos para evitar que estes também acasalem.


Afinal, parece que a homossexualidade é muito mais comum do que se julgava... e não se trata de comportamentos com motivações fáceis de entender, nalguns casos são até desvantajosos em relação ao comportamento heterossexual! E depois ainda há gente que grita "Aberração" quando se fala em comportamento homossexual.

Nota: Vi isto ontem à noite num documentário que passou na 2:. Não sei a que ponto a informação é validada pela comunidade científica. Sei que todos estes comportamentos homossexuais foram filmados e acredito que os produtores do documentário não alterassem o sexo dos animais que estávamos a ver com fins desonestos (e nos mamíferos era fácil de perceber; mesmo fácil, if-you-know-what-I-mean)

1 comentário:

João Paulo Costa disse...

No caso de sexo entre animais de espécies diferentes, gostaria de mencionar a existência de animais chamados:

Liger - animal híbrido, resultante do acasalamento de um leão e de uma tigre fêmea;

Tigon - animal híbrido, resultante do acasalamento de um tigre macho e de uma leoa;

Se não acreditam, apenas posso recomendar consultarem os sites:
- wikipedia;
- www.snopes.com - este é dedicado a desmistificar mitos urbanos