13 outubro 2005

Coincidências...

Na missa do 13 de Outubro em Fátima o cardeal (ou bispo, sinceramente não prestei atenção à notícia) espanhol que celebrou a missa deu um grande sermão sobre o valor da vida humana, que de acordo com a igreja começa com a concepção e termina com a morte. Conveniente, numa altura em que se volta a discutir em Portugal o tema do aborto, com referendo previsto para breve. E isto sem o referido cardeal fazer a menor ideia que o tema do aborto está de novo na agenda política portuguesa!



Ele há estranhas coincidências...




Nota: não interessa aqui a minha opinião particular sobre o aborto nem o meu sentido de voto num futuro referendo sobre o tema. Só acho lamentável que a igreja insista em fazer "campanha" num assunto que, por mais que lhe custe, é da consciência de cada um.

3 comentários:

Anónimo disse...

ERRATUM: onde se lê "por mais que lhe custe" leia-se "justamente porque é"

T. disse...

Sabendo contudo que o teu blogue não é lugar para conversas sérias, vou afoitar-me a pôr aqui um comentário sério:

- De modo algum acho lamentável que a Igreja tenha uma posição clara a respeito da vida humana e que a divulgue nas suas celebrações. Afinal de contas, para quem crê, as homilias são lugares onde também se faz catequese. Ou achas que os sacerdotes, que como talvez saibas abordam este tema com alguma frequência nas homilias (talvez exactamente porque o tema da vida humana nunca sai da ordem do dia, talvez exactamente porque todos nós somos humanos e estamos vivos), deviam de repente ter de o evitar porque se pode aproximar um referendo sobre o tema? A Igreja tem tanto direito a fazer "campanha" sobre este tema como terão aqueles que nos meios de comunicação vêm falar de como acham que seria necessária a descriminalização. Afinal de contas, a minha consciência é em última análise minha, e as minhas decisões são minhas, mas sou livre de querer ouvir opiniões e os fundamentos em que essas opiniões se baseiam. E como membro consciente desta mesma Igreja, tomei o compromisso de fazer a minha consciência caminhar lado a lado com a consciência dos outros membros, o que não significa que aceite acriticamente tudo o que me dizem, mas sim que o ouço de espírito aberto e que procuro formar uma opinião coerente com o que acredito ser a Revelação de Deus. Se eu, e como eu milhares de portugueses, aceitei livremente e conscientemente fazer a minha caminhada de mão dada com eles, interessa-me saber a opinião da Igreja.

Em última análise, a Igreja tem tanto direito a dar a sua visão das coisas como terá direito o PCP a fazê-lo. E até a dizer que o único voto aceitável para um verdadeiro comunista seja em determinado sentido. Cabe aos comunistas que discordem optarem em consciência por sair do partido, ou por não sair mas ter uma opinião diferente e defendê-la em público (ou manterem-se calados) ou por seguirem a disciplina partidária. Mas é importante que a posição dita oficial, caso a haja, seja clara.

Ou seja, discordo profundamente.

Nelson disse...

E tinha de vir o comentário sério.

O objectivo do post era apenas o chamar a atenção para a "coincidência". Só. Portanto, presumo que o teu comentário seja à nota da redacção e não ao corpo do post.

De qualquer maneira... Que os bispos venham para a comunicação social fazer "campanha" contra o aborto, como tantos outros movimentos cívicos o fazem, não me chateia. Que um padre o faça no seu sermão, também não. Desde que não se chegue aos limites aberrantes do último referendo (mas aberrações há muitas e conheço quem tenha ouvido um padre dizer numa cerimónia de casamento "os que não acreditam em Deus são como os animais"; adiante). O que me chateia, e chateia profundamente é que se explore:
a) a exposição mediática da procissão das velas e respectiva missa, transmitida em directo por sei lá quantos canais de televisão
b) o facto de ser um bispo/cardeal espanhol que até disse que desconhecia que o tema estivesse na agenda. Acredite quem quiser
c) que o faça numa altura em que nem se sabe se vai haver referendo (embora tudo indique que sim), quando será o referendo (embora tudo indique que será ou no fim deste ano ou pouco depois das presidenciais) nem o texto da pergunta do referendo (embora tudo indique que será a mesma).
Mesmo o PCP com as suas habituais posturas de "obrigar" militantes a votar num certo sentido (posição essa igualmente condenável) está a fazer campanha pelo sim. Limitam-se, no tempo actual, a fazer força para que haja referendo ou alteração da lei.

Se a igreja católica quer contestar a aprovação de uma lei sem referendo, que se converta em partido político e arranje representação parlamentar.

Se a igreja quer fazer campanha pelo referendo que espere para que o referendo seja marcado, a pergunta escolhida e as manifestações comecem. Mas nunca no 13 de Outubro quando se calhar até falta 1 ano para o referendo. Estão com medo que o referendo seja antes da sua próxima "grande oportunidade", o 13 de Maio???

É tão condenável a Igreja usar e abusar de Fátima para propagandear posições (mesmo que de forma dissimulada) no referendo do aborto quanto seria ao Benfica fazer o mesmo na festa do título, ou ao PS fazer o mesmo nas comemorações da maioria absoluta das legislativas ou ainda ao Presidente da República fazer o mesmo numa cerimónia de estado, por exemplo o 10 de Junho.

Uma coisa é ter posição, outra é explorar de forma incorrecta uma exposição mediática que de outra forma não teriam.