30 setembro 2008

Entendam-se, pá! - parte II

Afinal o plano Bush foi aprovado ou não foi aprovado?

Diz o Público, em notícia publicada ontem às 15h19: Nova Iorque reage em forte queda ao plano Bush.

Mas já a notícia publicada ontem às 22h08 dizia: Bolsa de Nova Iorque afunda-se com rejeição do plano Paulson. (Nota: Paulson é o Secretário do Tesouro da administração Bush)

Seria bom que o Público verificasse as suas histórias antes de as publicar, não? Eu andei ontem umas horas (até o André me mandar outra notícia que diz que o plano chumbou; curiosamente uns minutos depois o Queiró escreve um comentário com o endereço da mesma notícia; obviamente, não era no site do Público) a tentar perceber como raio cai a bolsa após a aprovação dos 700 mil milhões de dólares que iriam salvar a banca...

20 comentários:

Ana disse...

Secalhar às 15h reagiu pra cima e às 22 já reagia pra baixo... ? na sei...nem da minha bolsa eu percebo, quanto mais da mundial.

Mas não entendo como pode cair, com tamanha injecção de capital. Já agora, onde vão buscar esse dinheiro todo? Pra injectar na bolsa há e pra ajudar os milhares de norte americanos na penúria, pra revitalizar e reformar o sistema de saúde, para dar guarida às vitimas do Katrina, para ajudar as familias do 11 de setembro...pra isso já não há? Na percebo nada...mas se não percebo o meu próprio país, quanto mais o dos outros...

Nelson disse...

às 15 a bolsa já caia. A coisa esquisita foi o Público ter noticiado a queda da bolsa _apesar_ da aprovação do plano. Plano esse que foi chumbado, não aprovado.

Em relação aos milhares de milhões: a falência de bancos grandes não ajuda ninguém: perde quem tem lá dinheiro depositado, perde quem tem poupanças, perde quem tem empréstimos. Estamos a falar de milhares de empregos directos e uns quantos de milhões de pessoas afectadas. A falência de um sistema bancário em bloco é o fim da economia como a conhecemos. Instala-se uma depressão e a única coisa que conta é quanto dinheiro tens contigo.

E houve sim senhora bastante dinheiro para ajudar as vítimas do Katrina e do 11 de Setembro. Só que para esses não eram precisos 700 mil milhões de dólares.

Agora, como é que eles arranjam dinheiro? Imprimem-no! É isso que fazem os bancos centrais. Quando é preciso dinheiro, imprime-se dinheiro. Claro que tem consequências, nomeadamente, a moeda desvaloriza, e é um equilíbrio delicado que é preciso manter, mas basicamente é isso. São precisos 700 mil milhões de dólares, imprimem-se 7 mil milhões de notas de 100.

a.i. disse...

«U.S. stocks were set to bounce back after Congressional lawmakers rejected a $700 billion bailout plan aimed at stabilizing the financial system, triggering economic turmoil around the world»
fonte: www.cnn.com (updated 9 minutes ago)

a.i. disse...

nao tenho tempo hoje para ler a noticia toda, mas deixo a dica a quem tiver

Nelson disse...

é o que eu digo: ENTENDAM-SE, PÁ!!!

Ana disse...

ora aí está, imprime-se. E assim sem mais nem menos? Então porque é q a tugalandia não imprime dinheiro e pronto?

(ps - não percebo nada de bolsa e economia... mas penso que o dinheiro que um país tem está relacionado com o ouro que guarda? já agora, onde está esse ouro?...)

Teté disse...

Ah, entendi! Afinal a bolsa caíu, porque o tal plano do Bush não foi aprovado, quando a notícia realmente falava na queda, apesar da injecção dos 700M de dólares! (que confusão...)

Oh, Van isso está mal! A querer dar ideias aos múltiplos assaltantes que andam por aí??? :)))

Ana disse...

LOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL! ups!

Nelson disse...

a correspondência entre ouro em reserva e quantidade de dinheiro em circulação já não existe. Mas imprimir dinheiro só porque sim tem os seus problemas: ninguém compra moeda que é impressa à balda, por isso ficas com muitos milhares de milhões de notas que não servem de nada no mercado internacional de divisas.

Nós não podemos imprimir moeda. A impressão de euros é feita pelo BCE, que por sua vez é controlado pelos bancos centrais dos seus estados-membros.

Ana disse...

Mas, o plano que andavam vai não vai para aprovar, nos EUA, no fim de contas não era mesmo "imprimir só porque sim"?

Nelson disse...

não é bem isso. O governo tem de comprar com esses 700 mil milhões de dólares os activos de cobrança duvidosa dos bancos, ou seja, o estado assume o prejuizo, esperando minimizá-lo no futuro.

Para que o presidente possa esbanjar 700 mil milhões de dólares assim sem mais nem menos é preciso que o congresso autorize.

Não é só imprimir por imprimir, a emissão de grandes quantidades de dinheiro obedece a regras.

Anónimo disse...

Nao estas a perceber bem a noticia do publico. Estando aqui nos states posso explicar-te o que raio estao eles a dizer:

Domingo os negociadores democratas e republicanos do congresso anunciaram que tinham um acordo e que iria ser votado na segunda. Em principio isso significava que tinham contado os votos a favor que iam ter e que a coisa ia passar. E isso que o publico refere quando fala do plano ter sido acordado.

Segunda feira os mercados abriram a perder algumas centenas de pontos, e antes da votacao ja tinham perdido uns 300 e muitos pontos.

Aquando da votacao o resultado foi uma surpreendente rejeicao, e o mercado perdeu mais 400 e poucos pontos em alguns minutos.

A noticia do publico esta um bocado mal escrita, mas se vires a hora a que foi publicada, ainda nem tinha sido a votacao, eles estavam so a referir o pre-acordo que todos julgavam ser solido.

Joao

p.s.-estou a usar um teclado americano por isso a falta de acentos e cedilhas

a.i. disse...

boa Joao!, reportagens in loco é que nós queremos!
Já agora, porque é que não há contrapartidas pela compra dos tais activos de cobrança duvidosa? não devia haver algo em troca? ou seja, os bancos devem ter outros activos (leia-se, que tenham valor) que poderiam dar em troca de receberem essa tal injecção de 700 mil milhões

Nelson disse...

joao: belo relatório, sim senhor.

ai: a contrapartida, embora não seja grande coisa no estado actual, é que o estado fica, na prática, dono do banco. Quando (e se) a situação se resolver, poderá ser possível recuperar o investimento. O mais certo é ser dinheiro perdido, mas é esse dinheiro que vai fazer com que as pessoas que têm dinheiro nas suas contas não o percam. Até 250000 dólares o estado vai garantir os depósitos.

a.i. disse...

ah, ok. eu perguntei isso porque no inicio da semana ouvi um comentador qq dizer que uma situação parecida tinha ocorrido na suecia, há nao sei quanto tempo, e que lá o estado exigira que os bancos oferecessem contrapartidas em troca de serem salvos da falência...

Nelson disse...

a principal prioridade aqui não é tanto salvaguardar o investimento, mas sobretudo impedir o colapso do sistema financeiro. As consequências de tal colapso seriam desastrosas para todos. Para quem tem muito dinheiro, para quem tem pouco e para os que não têm nenhum.

Anónimo disse...

nelson e a.i.

As contrapartidas nao sao bem essas. O problema neste momento e que comecaram a re-avaliar os pacotes de emprestimos e hipotecas que os bancos tem e valem muito menos do que eles previam neste momento.

Como tal os bancos tem falta de liquidez, e nao conseguem arranjar dinheiro. Para alem disso deixaram de confiar uns nos outros pelo que nenhum banco empresta dinheiro a outros bancos, sem ser a taxas altissimas. Isso significa que nao ha dinheiro a serio a circular, o que torna complicadas coisas como salarios.

O que o programa previa (pelo menos na anterior versas) era que o estado, que nao tem problemas de liquidez porque pode imprimir dinheiro, ia comprar esses emprestimos e hipotecas aos bancos mais ou menos a preco de mercado (ouvi falar de leilao, mas nao estou certo como seria realmente feito).

O que o programa previa como contrapartidas era participacao na gestao do banco (penso que nao era realmente controlo total de todas as accoes ou coisa parecida) e impunha restricoes no que aqui se chamam os "paraquedas dourados". (indeminizacoes milionarias para os gestores das empresas quando sao despedidos).

Nesta nova versao nao sei o que mudou. A opiniao publica esta a ficar ligeiramente menos hostil ao acordo por isso talvez consigam passar essencialmente a mesma coisa no congresso.

Joao

Nelson disse...

Aquilo a que me referia não são propriamente as contrapartidas ao nível do negócio. Afinal, o estado vai comprar activos que neste momento valem pouco mais que nada e acções de bancos que valem agora 5 ou 10% do seu valor há 1 ano.

Referia-me mais às contrapartidas enquanto entidade reguladora do bem-estar da sociedade, e a obrigação de segurar os depósitos dos americanos tem como contra-partida evitar (espera-se) o colapso financeiro de um país inteiro.

Nelson disse...

ah, em relação à nova versão, mudaram alguns parâmetros: no pacote inicial o estado comprometia-se a assegurar os depósitos até 100k dólares. Nesta nova versão ficam assegurados os depósitos até 250k dólares.

Deve ter havido mais algumas alterações, mas só li sobre esta.

a.i. disse...

Anedota da net para entender a crise:
«Para quem não entendeu ou não sabe bem o que é ou gerou a crise, segue breve relato econômico para leigo entender...
É assim: O seu Biu tem um bar, na Vila Carrapato, e decide que vai vender cachaça "na caderneta" aos seus leais fregueses, todos bêbados, quase todos desempregados. Porque decide vender a crédito, ele pode aumentar um pouquinho o preço da dose da branquinha (a diferença é o sobre preço que os pinguços pagam pelo crédito).
O gerente do banco do seu Biu, um ousado administrador formado em curso de emibiêi, decide que as cadernetas das dívidas do bar constituem, afinal, um ativo recebível, e começa a adiantar dinheiro ao estabelecimento, tendo o pindura dos pinguços como garantia.
Uns seis zécutivos de bancos, mais adiante, lastreiam* os tais recebíveis do banco, e os transformam em CDB, CDO, CCD, UTI, OVNI, SOS ou qualquer outro acrônimo financeiro que ninguém sabe exatamente o que quer dizer.
Esses adicionais instrumentos financeiros, alavancam o mercado de capitais e conduzem a operações estruturadas de derivativos, na BM&F, cujo lastro inicial todo mundo desconhece (as tais cadernetas do seu Biu).
Esses derivativos estão sendo negociados como se fossem títulos sérios, com fortes garantias reais, nos mercados de 73 países.
Até que alguém descobre que os bêbados da Vila Carrapato não têm dinheiro para pagar as contas, e o Bar do seu Biu vai à falência. E toda a cadeia sifudeu !
Viu... é muito simples...!!!»

* lastrear:
Dependendo do contexto a palavra lastrear poderá conter sentidos conotativos ou denotativos. É usual, principalmente aos profissionais do ramo de operações financeiras e creditícias, a aplicação da palavra nos sentidos de dar embasamento e garantia de algum crédito.

Numa operação de crédito, o banco ao emprestar uma certa quantia em dinheiro ao cliente, este pede um lastro, ou seja, pede ao cliente a demontração de um bem que poderá satisfazer a operação caso haja inadimplemento.(www.dicionarioinformal.com.br)