18 julho 2008

Cenas de gaja

Há uns dias mandaram-me (obrigado, Ricardo) um artigo sobre Pilar del Rio, presidente da Fundação José Saramago. Presidente, não. Presidenta, porque é mulher! A gaja acha que só porque é gaja devia ser presidenta e não presidente. E tá-se a borrifar para o facto de a palavra não existir. Porque é que uma mulher ministro é ministra e uma mulher presidente não é presidenta, pergunta Pilar del Rio? Ao que eu respondo: porque seria estúpido. Há palavras cujo género se pode mudar facilmente e outras que não. Mas vão lá dizer isso à gaja que ela passa-se dos carretos. Começa logo com merdas à la anos 60 sobre a supremacia dos homens, a opressão sobre as mulheres e mais não sei o quê.

A gaja queixa-se, queixa-se, mas ela não sabe o que é ser discriminado pela língua. Eu sou canhoto. Por oposição a ser dextro. Uso a mão esquerda em vez da mão direita para escrever, uso o pé esquerdo em vez do pé direito para dar pontapés em pedras ou putos reguilas ou gajas com a mania que são presidentas em vez de presidentes. E não me queixo de discriminação, isto apesar de ela existir a um grau que a senhora Pilar del Rio nem sequer imagina. Ouvir esta senhora protestar contra o machismo da língua é como os negros norte-americanos durante os motins de Los Angeles ouvirem a comunidade gay de São Francisco queixar-se de discriminação por não se poderem casar legalmente na Califórnia (agora já podem). Diz o larilas "ah e tal, a gente não se pode casar, somos muitos discriminados". Responde o preto: "ó mariconço! Nós levamos porrada da polícia, ainda há dias um gajo foi parar ao hospital só porque apeteceu aos polícias fazerem o gajo em merda ao biqueiro". Numa cidade em que os pretos são tratados ao pontapé pela polícia alguém se preocupa com a discriminação contra os gays? Claro que não, temos gente a levar enxertos de porrada, há que definir prioridades. Ou então o menino gordo da escola primária a queixar-se ao menino cigano que os outros meninos chamam-no gordo e não o deixam jogar futebol. Ao que o cigano responde que ele tem sorte; quando um dos outros putos perde um lápis chamam a judiciária para fazer buscas na casa do cigano. Mas já me estou a distrair um bocado, é melhor mudar de parágrafo.

Ah, muito melhor. Estava eu a falar da discriminação contra canhotos. Por exemplo, estudar leis é estudar Direito. Não é Esquerdo, é Direito. O lado direito em inglês diz-se Right, que também significa correcto, certo, bom. Destreza, sinónimo de habilidade, de jeito, vem de destro, que é direito. Em italiano Esquerda é Sinistra, cujo significado em português é tudo menos abonatório. Um canhoto é sinistro, um destro é habilidoso. Estas palavras magoam! (neste momento tenho um ar triste e uma lágrima ao canto do olho) Por isso não me venha uma gaja dizer que a língua discrimina as gajas porque Presidente não tem feminino.

Mas Pilar del Rio lá reclama que devia ser presidenta porque é gaja. Acham que o Rei Juan Carlos reclama quando alguém diz "Sua Majestade"? Acham que Cavaco Silva, quando alguém o trata por "Sua Excelência, o Presidente da República" vem com merdas a dizer "Seu Excelêncio, porque sou muito macho!"? Mas esta gaja vem p'raí chatear porque quer à força toda ser Presidenta. Reclama ela que quando alguém se refere a um grupo composto por mulheres e homens referimo-nos ao grupo sempre no masculino, usando o feminino apenas quando todos os elementos são femininos. Mesmo que o grupo tenha mulheres e animais de género masculino dizemos "eles" e não "elas", dando primazia ao género do animal em vez do género da gaja. E??? Qual é o espanto? Se um gajo chega a casa às 4h da manhã a tresandar a cerveja e com duas putas moldavas uma de cada lado, um cão recebe-o sempre com o rabo a abanar, todo contente. Está há horas sem comer, tem fome, reclama um bocado, assim que lhe damos comida fica todo contente e já nem se lembra das horas de jejum. Não fica com ciumes das putas moldavas ou romenas e até as cumprimenta efusivamente, desde que lhe façam festas. E se o chamarmos vem logo para a cama do dono e lá fica, todo contente, a partilhar o espaço com o dono e duas mulheres de vida pouco católica. Já uma gaja se um tipo chega a casa a tresandar a cerveja às 4h da manhã com duas fulanas de saias curtas pelo braço, recebe-nos de trombas, dá um enxerto de porrada nas putas, põe-nos a dormir no sofá e não pensem que no dia a seguir já se esqueceu, não senhor! No dia a seguir temos de levar com Sua Excelência ainda de trombas, a amuar e a fazer birras, põe as nossas coisas todas em caixas, tipicamente a monte, e ala pela janela! E um gajo que ature estas merdas!

Ó mulher, vá mas é para casa lavar a roupa e cozer meias e deixe-se dessas reivindicações feministas, que isso era bom era nos anos 60 para gajas feias e sem mamas que não tinham intenções de casar e a maior parte até virou lésbica porque não conseguiu arranjar um homem que as quisesse.

20 comentários:

Anónimo disse...

Fixe, fixe, é o facto dessa mulher emancipada parecer viver claramente às custas da fama do marido como escritor. Mas pronto, suponho que ser presidente de uma coisa que existe só porque o arrogante do nosso marido é por algum motivo incompreensível um escritor na berra por esse mundo fora (desconfio que deve ser por causa das traduções, a desregra com que o senhor escreve dá toda uma nova importância ao tradutor) já não lhe parece menosprezador do papel da mulher na sociedade. Enfim...

Nelson disse...

já leste muito saramago para teres essa opinião, ou é assim do ar? Eu do que li (E não foi muito) gostei bastante. Percebo que tanta gente goste de o ler.

quanto ao resto... oh well. É só mesmo a cena da presidenta que me enerva ;)

Anónimo disse...

Li "O Dia da Morte do Ricardo Reis" e li uma ou duas páginas do "Ensaio Sobre a Lucidez".

Acho que ele é um atentado à boa escrita em português e aquela escrita desconexa, mal pontuada ou despontuada, perdida que ele justifica como sendo o seu estilo simplesmente não me convence.

O conteúdo dos livros é razoável mas nada de extraordinário quando comparado com outros escritores e como a meu ver, a forma é medíocre, não tenho grande paciência para ele.

A ausência e desrespeito total e completo pelas mais básicas regras gramaticais gera ambiguidades e quebras de envolvimento na leitura que exigem a leitura repetida de vários excertos (não parágrafos que não existem naquele estilo dele). Para mim, a partir do momento em que a leitura perde plasticidade e exige esta análise constante ao virar de cada página (isto se queremos de facto perceber ao máximo o que ele escreve com todas as interpretações possíveis naquele mar de ambiguidades) torna-se um suplício.

Aguento bem com a extensão dos parágrafos do Proust, com as descrições extensivas do Tolstoi ou do Eça, com o turbilhão de emoções e sensações do Dostoievski mas não suporto a amálgama disforme que é para mim a escrita do Saramago.

Mais, nunca o li em inglês mas não acredito que muita da ambiguidade que preenche os livros em português se mantenha na tradução para essa língua ou outras. Há construções frásicas muito particulares na nossa língua e que têm inúmeros significados que em línguas mais "exactas" como o inglês ou sobretudo o alemão perdem toda essa ambiguidade ficando por isso, nesta escrita desregrada muita interpretação ao cargo do tradutor coisa que num autor de escrita bem definida e regrada acontece em muito menor grau.

De resto, odeio o homem. Sempre que o vejo na TV está a gabar-se de como é bom e Portugal o despreza, não partilho das visões políticas dele, acho no mínimo um cliché que ele viva exilado em Lanzarote e toda a sua pose e postura em geral me enerva. Mas pronto, aqui reconheço que é mania minha, não gosto dele nem da sua pinta e pronto.

Anónimo disse...

Ah! Nem comento as afimações dele ao dizer que o Prémio Nobel é uma "invenção diabólica", isto nas palavras dele... Pelo menos tivesse um pingo de coerência e seguisse o exemplo do Sartre que não sendo concordante com o prémio o recusou. O Saramago à portuguesa diz mal do prémio mas não hesitou em recebê-lo e ao dinheiro... Bah...

Nelson disse...

e eis como um post sobre a palavra presidenta se torna uma discussão em torno de Saramago...

Não tenho nada contra nem a favor do homem. Não me aquece nem me arrefece. Ele que seja muito feliz em Lanzarote, que é para o lado que durmo melhor. As opiniões dele, quando as emite, não surtem em mim nenhum efeito. Nem quando diz que é o maior português de todos os tempos (ou coisa parecida) nem quando diz que devíamos juntar-nos a Espanha. É-me completamente indiferente.

Sobre a escrita dele só li o Ensaio sobre a cegueira e gostei bastante. Mas não me parece que seja um exemplo do "estilo Saramago".

Quanto à fama mundial que tem, ele lá a merecerá. Discutir o mérito da sua fama é como discutir o mérito do ordenado do Cristiano Ronaldo, o estatuto de super-estrela da Britney Spears ou coisas equivalentes. Eu posso não dar valor a uma pessoa, mas há milhões, largos milhões de pessoas no mundo que discordam de mim. E cabe-me aceitar, sobretudo quando o dinheiro não é meu, quando o tempo não é meu e quando o papel gasto não é o meu. Mais uma vez, é irrelevante para a minha felicidade pessoal.

Anónimo disse...

Pá, sei que por vezes sou algo intenso a expor as minhas opiniões pessoais mas não quero com isto converter ninguém ao anti-Saramaguismo nem fundar nenhum clube de anti-fãs.

Não gosto dele da mesma forma que não gosto do Luís Filipe Menezes ou do Miguel Sousa Tavares ou do Sr. Duarte contínuo do Pós-Graduação e só me irrito quando confrontado pessoalmente com alguma coisa que motive essa irritação seja ela motivada pelas pessoas em si ou pelas funções que desempenham.

De resto desejo-lhes felicidades, em particular ao Sr. Duarte com o qual já aprendi ao longo destes anos a lidar melhor, lol e afinal até é simpático e prestável se o tratarmos de certa forma.

E de resto é como dizes, longe de mim querer ir contra os milhares de pessoas que valorizam o trabalho dele. Eu pessoalmente não valorizo mas respeito muita gente que não só valoriza como idolatra a literatura dele. De resto há tantas opiniões como há pessoas e se não discutirmos de vez em quando essas diferenças que tédio que seria.

Por mim, desde que haja um mínimo de fundamento mais ou menos racional nestas discussões, fico muito satisfeito. Espero que não me atirem pedras por não gostar do Saramago em nenhum aspecto que lhe conheço. Pode ser que se ele morrer primeiro que eu, a minha opinião melhore. lol

Posso sempre desculpar-me com o calor. Com este calor não há opinião negativa que não me saia mais biliosa... :P

Nelson disse...

bom, a tua discussão começou com quase nada de fundamento racional e desataste a atirar pedras ao Saramago que atingiriam, por tabela, quem gosta dele ou do que ele escreve.

Eu não sou anti nada. Acho que é mais saudável assim. Mas cada um sabe de si.

Sun Iou Miou disse...

És bestial, quando queres. Já me fartei de rir! (e não foi dos comentários, mas já que a coisa vai por ai, gosto dalguns livros do Saramago -imenso-, doutros nada mesmo, mas que o gajo é um escritor com maiúsculas, isso é). Estou cheia de tanta estupidez com os géneros, os sexos e a morfologia.

Anónimo disse...

Respondendo ao Nelson, não considero que em comentário algum não tenha justificado de alguma forma a minha antipatia por ele.

Mas pronto, como já disse, opiniões há muitas.

Aécio disse...

Em castelhano é Presidenta, sinceramente não acho que faça grande sentido, mas é utilizado. Mesmo cá há umas confusões em que muita malta mesmo cestar Universidades que utilizam em lugar de Mestre, a Mestra.

Não gosto da forma de escrever do Saramago, a minha política também não tem nada a ver com ele. Mas importa perceber porque é que ele foi para Lanzarote.
A Secretaria de Estado da Cultura da altura à falta de melhor palavra censurou-lhe o Evangelho segundo Jesus Cristo.
Isto ainda me custa mais dizer porque quem fez isto foi um dos Profesores que mais gostei. ´
Para todos os efeitos ganhou um Nobel, é campeão e deve ser bem tratado. É melhor tratado em Espanha do que cá porquê?
Fiquei chocado com quando se inaugurou a exposição que agora cá está. A Lanzarote, foi o Embaixador de Portugal e a Ministra da Cultura não tinha agenda.
Agora descobre-se que se perdeu a possibilidade de um exposição permanente do Hermitage em Lisboa.
Agora é a polémica da Fundação, de facto até acho que deveria sim ter sido criado um Centro de Estudos.
Até quem sabe daqui a umas dezenas de anos depois de mais uns quantos acordos ortográficos se chegue à conclusão que ele é que está certo!

Ana disse...

Ou então...deixa lá, tinha mais uns exemplos de discriminação que incluiam surdos. E cegos. E deficientes motores. E daltónicos. E, claro, canhotos. Mas deixa lá. Vou continuar a ler a postada...

Ana disse...

esse ultimo remate do poste....

Ana disse...

quanto ao saramago...sabias que é uma erva daninha? :-p sim, li. não, não gostei. Se ele pode escrever anulando a pontuação, ela tb pode reclamar pelo direito a ser presidenta :p

Ana disse...

Ah, não precisa acrescentar muito mais, estaria apenas a repetir o abc... ;-)

Anónimo disse...

"Eu não sou anti nada"

Falso.

"Sou contra o amarfanhamento de fios de telefone e a favor dos jogos de futebol com realização feita por profissionais e em canais de sinal aberto."

in

http://faxavor.blogspot.com/2008/02/o-fio-do-telefone.html?showComment=1204110600000

Nelson disse...

ok, tou impressionado!

Ana disse...

LOOOOOOOOOOOl, foste caçado por um anónimo pah! =DDDD

Filipe Moura disse...

O escapão tem razão, "presidenta" é em castelhano. Em português "presidente" é masculino e feminino. Alguém deveria ter-lhe respondido isso.

Agora lamento dizer-te: "cozer" meias é pô-las numa panela com água a ferver. Não é isso que querias dizer, pois não :) ?

Nelson disse...

sim, sim, eu sei que devia ler os posts antes de os publicar, mas... não tenho paciência para ler as baboseiras que escrevo, pá! Até me admira que tanta gente tenha... ;)

a.i. disse...

Quanto à falta de pontuação no Saramago: não é necessário porque ele escreve tão bem que se consegue ler tudo de um só fôlego e percebe-se tudo e aliás não se consegue parar de ler o que é mau quando uma pessoa gosta de ir a ler no autocarro ou no metro e de vez em quando começa a sentir aquele enjoo por ir a ler em movimento mas como estamos a ler uma coisa tao fixe e a pensar como é que este gajo se lembra destas coisas para escrever é incrível não conseguimos parar de ler e às vezes até deixamos passar a paragem certa em que devíamos sair