23 junho 2008

Calma, chefe!

A coisa no Zimbabwe tá preta (piada racista não intencional). Há eleições e o Mugabe tem oposição. A coisa até iria bem, não fosse a possibilidade de derrota do actual presidente na segunda volta.

Vai daí, Mugabe disse, entre outras coisas, que o líder da oposição nunca governaria o país (enfim, pode ser só para alguns, mas ainda existe liberdade de expressão no país). Seguiu-se uma onda de violência governamentalizada, protestos, e o opositor de Mugabe (não sei o nome dele e tou com preguiça de procurar) acabou por se retirar das eleições.

A primeira reacção de Mugabe foi de alegria, congratulando-se com a retirada do seu rival. Passado poucas horas veio dizer que lamenta a desistência, e salientando a importância das eleições para o processo democrático no país. Entre uma declaração e outra alguém é capaz de ter dito ao ouvido do presidente: "Ó chefe, tenha lá calma. Pelo menos para manter as aparências devia dizer qualquer coisa a referir a importância das eleições e a saudar o combate político. Senão, ainda pensam que andou por aí a fazer pressões e a ordenar massacres para manobrar as eleições, e isso não nos dá jeito nenhum...". E assim o Mugabe até pode depois vir dizer que respeita o processo democrático e ganhou umas eleições livres! Que culpa tem ele que o seu adversário tenha desistido por causa de uma alegada "orgia de violência"? O homem é um santo, pá!

Aproveito para enumerar alguns dos princípios basilares de qualquer regime democrático em que o governo vê com alguma relutância a alternância no poder:

1. Defender a liberdade de expressão.
2. Defender a liberdade de associação.
3. Defender a realização de eleições livres e democráticas.
4. Defender o direito à vida.

Estes são os princípios oficiais. Quando alguém pedir um resumo das regras que regem o país, dizem-se só estas três. Se pedirem muito e ameaçarem com boicotes comerciais, fim da ajuda internacional ou invasão militar, então mostram-se as letras pequenas (como nas apólices de seguros).

Letras pequenas do ponto 1: claro que quem contrariar o princípio da liberdade de expressão, nomeadamente exprimindo-se contra o governo que a defende e luta por ela, deve ser preso. O governo defende a liberdade de expressão e não permite ataques a esta mesma liberdade veiculados por quem quer derrubar o governo para a limitar.

Letras pequenas do ponto 2: a liberdade de associação é feita com base num sistema de precedência. Ou seja, a liberdade de uma associação é limitada somente quando põe em risco a existência de uma associação pré-existente. Nomeadamente, o partido no poder foi a primeira associação a ser criada, pelo que qualquer associação que tenha como objectivo limitar a liberdade do partido oficial deve ser proibida e os seus responsáveis punidos. Em nome da liberdade de associação, claro.

Letras pequenas do ponto 3: A vitória de um partido rival nas eleições livres entra directamente em conflito com o que está defendido no ponto 2, logo ser ser impedida, se necessário recorrendo à força. Isto não entra em conflito com o que está expresso no ponto 4, como se pode ler de seguida.

Letras pequenas do ponto 4: o direito à vida dá origem a problemas quando há conflito entre o direito à vida de duas ou mais pessoas. Nomeadamente, os opositores do regime acreditam ter razões para atentar contra a vida do Presidente que, como chefe de estado, tem de ser protegido. Logo, para defender o seu direito à vida, estas pessoas devem ser executadas. A bem do direito à vida, pedra basilar da sociedade.

5 comentários:

T. disse...

Nelson: três ou quatro?

Nelson disse...

inicialmente eram três, depois inventei a quarta :)

Teté disse...

Pois, mas esqueceste-te de alterar a parte em que falas em 3 princípios... ;)

Sou contra qualquer tipo de violência, mas parece-me que este fulano só sai de lá quando lhe limparem o cebo. Ainda por cima anda com ideias de "mascarar" o país de democrático, como se todos fossem como os três célebres macacos (cegos, surdos e mudos).

Não me digas que as companhias seguradoras escrevem cláusulas minúsculas nos contratos que ninguém se dá ao trabalho de ler... E esse processo serve para quê? Enganar os clientes? E isso não é escandaloso? Porque é que os governantes admitem que as seguradoras procedam dessa forma??? E porque é que as DECOS e afins não fazem nada contra essa prática?
Se me souberes responder a estas perguntas, muitas das minhas dúvidas serão resolvidas... ;)

Nelson disse...

O Deco fez muita coisa. O Cristiano é que esteve um bocado mais apagado.

Ou... tavas a falar de outra coisa? Desculpa, mas apesar de hoje não haver bola a minha mente ainda só está sintonizada no euro 2008...

Ana disse...

Nelson, essa tirada é minha!!! :-ppp direitos de autor, já!!!

Olha lá, como é que um post sobre o mugabe e a sua pseudo-democracia se transformou numa bola?...

Estou com a tete. O gajo só sai dali à força. Há candidatos para o forçar?...Não,perdão,quero dizer,há petróleo no zimbabué??