Em Portugal existe uma organização chamada Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT). Entre outras coisas, promove acções de informação aos jovens sobre o consumo de drogas e tenta alertar para os seus riscos. E para reunir a informação toda têm um site, o Tu, alinhas?.
Hoje li no Público que algumas associações de pais contestam uma parte do site que é um dicionário de calão relacionado com o consumo de drogas. Mostram-se muito preocupados que tal dicionário funcione como um incentivo ao consumo de drogas.
Fiquei preocupado, devo confessar que sim. Por isso fui ao site, cliquei no "Dicionário" e fui ver a lista de termos que tanta preocupação gera. Quando selecciono a lista aparecem as 26 letras do alfabeto (ou melhor, aparecem 22 ou 24 letras porque parece que não há palavras em calão começadas por W, X, Y ou Z nem termos relacionados com droga começados por Y ou Z; a propósito: as 26 letras do alfabeto, segundo o Acordo Ortográfico; até à sua entrada em vigor o nosso alfabeto só tem 23 letras, por isso temos de escrever "uísque"; este parêntesis já vai longo, o melhor é voltarem a ler a frase e saltarem por cima do parêntesis, para isto fazer algum sentido...), à esquerda de cada letra está um sinalzinho de mais, clico lá e... nada! Nada aparece. Pensei "bom, não deve haver palavras começadas por A", o que me pareceu um pouco estranho; clico no sinalzinho de mais à esquerda do B e... nada. No C... nada. No D... nada. Raios, querem ver que logo agora que eu fui ver isto tiraram o dicionário da net?
E depois lembrei-me: e se eu for ver o site em Internet Explorer em vez de usar o Firefox? Será que já funciona? Abri o IE, e meia dúzia de clicks depois estava a ver a listagem de palavras no dicionário de gíria relacionada com drogas. Oba, oba!
Moral da história:
Pais preocupados com o conteúdo do site: instalem o Firefox, ponham-no como browser por defeito e deixem de se preocupar.
Putos filhos dos pais referidos acima: Cliquem em "Iniciar", depois em "Executar" e depois escrevam "iexplore.exe".
Mais a sério: quando tinha 13 ou 14 anos li um livro que havia na biblioteca municipal (na altura eu ia muito à biblioteca; tinha longos intervalos de almoço de 3 horas, poucos amigos e não sabia jogar bem à bola; hoje em dia deixei-me disso dos livros, mas como continuo a ter poucos amigos e a não saber jogar à bola, fico em casa e vou lendo coisas na net; mas adiante...) que era sobre o consumo de drogas. Contado na primeira pessoa. Era a auto-biografia de um toxicodependente recuperado, que contava histórias da sua vida enquanto viciado em heroína. As artimanhas que usava para arranjar dinheiro, as mentiras que contava, as trips boas e más que teve, etc. E no fim havia um dicionário de calão relacionado com drogas. E eu li-o todo. E não me tornei drogado. E até digo mais: na minha turma havia quem consumisse drogas ocasionalmente, alguns vieram a consumir mais que ocasionalmente e desconfio que nenhum desses tipos alguma vez leu o tal livro. Até acho que não leram livro nenhum. O que é pena, aquilo até tinha uma espécie de manual de instruções sobre a preparação da heroína, os cuidados a ter, etc. E as pessoas que conheço que leram o tal livro, o do manual de instruções com dicionário e tudo, não se tornaram drogadas. Da minha parte fumei charros meia dúzia de vezes, não achei piada suficiente para fazer disso um hábito. Nunca tive curiosidade de ir mais além. Aos 13/14 anos li o livro e não fiquei curioso por causa disso, antes pelo contrário. A existência de informação até me retirou alguma da curiosidade. Só bastante mais tarde, aos 17, é que fumei um charro pela primeira vez, numa viagem de Páscoa com a minha turma de liceu. Éramos 6 só eu é que tinha lido livros sobre o consumo de drogas. Também li o "Os filhos da droga", uma autobiografia de uma toxicodependente de Berlim, a Christiane F.; teria também uns 14 ou 15 anos quando o li; devo dizer que me fez alguma confusão, sobretudo a forma como ela descrevia os seus actos de prostituição para arranjar os 40 marcos necessários para comprar uma dose. Esse livro então não se limitava a descrever como se prepara a droga, alertava também para os vários riscos inerentes ao negócio do tráfico: droga demasiado pura, demasiado cortada, com misturas esquisitas, seringas com impurezas, enfim, tudo o que um agarrado com algum sentido de auto-preservação necessita saber. E não foi por ler o livro que tive vontade de me tornar toxicodependente. A informação por si é inofensiva. É o que se faz com ela que pode não ser. E saber é SEMPRE melhor que não saber. É melhor saber que algodão, neste contexto, se refere ao "Algodão utilizado como filtro na preparação da dose injectável de droga. A partir de um algodão usado pode fazer-se uma «lavagem» e recuperar assim resíduos para uma nova dose (filtro)." do que não saber. Quer para os miudos, quer sobretudo para os pais (se começarem a notar que o algodão lá em casa desaparece num instante... errr...). Deixemo-nos de moralismos bestas. Os putos não vão chutar para a veia só porque leram como se prepara uma dose, tal como não vão mandar uma queca só porque lhes distribuem preservativos (embora, se já estão p'raí virados, aproveitam a oferta), tal como não se vão atirar de um prédio só porque viram no Matrix Reloaded o Neo a fazer o mesmo. Bom, um ou outro, talvez. Mas são os pais os responsáveis por desenvolver nos filhos a capacidade de absorver, analisar e filtrar informação. Ou acham que só porque é um mau exemplo para os miudos vai deixar de haver agarrados a injectarem-se nas ruelas de Lisboa, quando há putos a passar ao lado?
13 maio 2008
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9 comentários:
Tb li os Filhos da Droga, na mesma altura que tu, e as minhas impressões foram exactamente as mesmas. Lembro-me que o que me chocou mesmo foi o que ela fazia para obter a dose.
Tb não me interessei pelas drogas só por ter acesso a informação sobre elas. Aliás, tinha acesso à informação e às ditas cujas, mas usei a minha suposta liberdade de escolha.
Só provei cannabis umas duas vezes (e foi em forma de bolo, que não consigo fumar, LOOOL). Da primeira, um martelo bateu-me na cabeça. Da segunda, chorei baba e ranho. Não houve terceira. =D
No teu relato só me chocou uma cena, quando explicas que os miúdos não se vão atirar do prédio por verem o Neo a fazê-lo. É que há coisa de uma semana uma criança filha de alguém muito próximo fez isso mesmo...(embora não por pensar que era o Neo)... puta de vida, enfim.
Aliás, não percebo a cena desses pais (quer dizer, percebo. Mas tu percebes o que eu não percebo, não percebes? ;-) ). A informação é o melhor veículo para se estar apto a dizer não.
boas, tomei conhecimento do teu blog atraves dum amigo e desde ha um tempo que o venho a ler assiduamente! devo-te dizer que concordo plenamente contigo, o facto de estar informado sobre drogas e consequencias do seu consumo só fez com que eu nao quisesse consumi-las. isto claro aliado a alguma inteligência da minha parte, pq infelizmente conheço gente que teve e tem acesso a toda a informçao possivel e imaginaria e mm assim é um consumidor habitual. admito que ja tive as minhas experiências como quase toda a gente tem e posso-vos dizer que até gostei, mas como sabia onde aquilo tudo podia acabar... fiquei por ali.. lol
Na minha opiniao acho que deve existir tanta informçao quanto possivel, mas isso é so meio caminho! o resto do caminho cabe aos pais, de conversar e alertar os seus filhos pra estes problemas todos..eles n podem nem devem fazer deste assunto um tabu pq os seus filhos podem nao ouvir falar disto em casa, mas na rua ouvem de certeza... a questão é, por quem e como, é que preferem que a historia seja contada?! (dsclpem o testamento..)
cumprimentos
falar? mas, mas... isso obriga a que os pais tratem os filhos como gente de pleno direito e encarem os problemas em vez de fugir deles, não é? Cruzes, credo, valha-nos Deus!!!
Não, não, quando eu tiver filhos só hão-de saber o que são as drogas (e o sexo, e os crimes e as guerras) depois de eu morrer! A ignorância é uma benção...
Nem sempre a ignorância é uma virtude... Neste (e se calhar noutros quiçá!) concordo contigo, mais vale estarem informados. Também me lembro de ler um ou outro livro sobre droga (A lua de Joana) e na verdade só me deu vontade foi de NÃO experimentar drogas...
Nelson n concordo ctg.. falo por experiencia propria, os meus pais sempre me alertaram sobre as drogas, sexo e criminalidade e isso so m ajudou a crescer! claro que tudo no seu devido tempo! nao comecei a ouvir isto aos 8 anos! Hoje sou um adulto que não se droga, tenho todos os cuidados em relaçao a contracepçao e estou alertado pro meio que me rodeia! eu acho que os pais têm que falar com os filhos sobre tudo o que lhes possa afectar a vida e não é tapando-lhes os olhos que os protegem! depois aparecem fulanas que axam que as drogas não fazem mal a nada... ou que acham que se tiverem relaçoes a pé nao engravidam!! LOL isto é veridico!!
cumprimentos
errrrr.... o post era a sério. o comentário era sarcástico.
obrigado, restelo e steve, por mostrarem que o meu sarcasmo passa despercebido. ;)
nao me apercebi.. =P ainda bem que pensas assim entao!
cumprimentos
LOOOOOOOOOOOOOOOOOOL, desculpa la, mas para quem te lê há uns tempos, o teu sarcasmo não passa despercebido... LOLOLOLOLOLOLOL, amei esta!!!
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