A televisão é, na opinião de alguns, a fonte de (quase) todo o mal do mundo. É pela televisão que nos chegam as notícias das desgraças alheias, é pela televisão que chegam (bom, agora também há outros meios, mais práticos) as obscenidades, a violência, o total desrespeito pelos valores tradicionais. Graças à caixa que mudou o mundo (e às caixas que vieram a seguir) os valores tradicionais perdem-se, o mundo só quer saber como andam a mais recente adopção do(a) Brangellina, tornámo-nos uma sociedade descartável.
Podia continuar, on and on, a falar dos malefícios da televisão, da forma como corrompem os jovens e por aí fora, mas nem por isso, não me apetece. Até porque nem concordo muito, acho que a televisão, tendo os seus defeitos, tem muitas virtudes. Se bem usada pode ser educativa, permite-nos aprender coisas interessantes através dos documentários, mantém-nos informados através dos noticiários, entretém-nos com programas de qualidade (poucos, é verdade, mas existem), enfim, permite, desde que não nos deixemos alienar por causa dela, alargar os nossos horizontes e garante-nos um estímulo constante à nossa mente, potenciando o desenvolvimento individual.
Desde que seja bem usada, claro. Quem se limita a ver o Curto-Circuito, a Buffy e a telenovela da TVI não será muito estimulado intelectualmente. Mas nem toda a gente quer ser estimulada, por isso ainda bem que existem programas que não o fazem, ou o fazem menos. Alguns abusam dos enlatados televisivos e limitam-se à programação de baixa qualidade, mas não é pelo mau uso de alguns que devemos condenar a televisão.
Até porque temos, sobretudo na era actual de televisão por cabo, uma grande diversidade de bons canais de documentários que nos permitem aprender algo novo todos os dias. Seja sobre a forma como (não) foi feito o resgate do Kursk, os tesouros das pirâmides, a dieta e relações familiares de um clã de leões africanos, etc.
Por exemplo, ontem não conseguia dormir. Levantei-me e fui até à sala. Liguei a televisão e como os canais de enlatados não davam nada de jeito, fiz um zapping pelos canais de documentários. No Discovery Science estavam a falar de uns quaisquer insectos. Tema interessante, parece, útil e educativo! Então fiquei a ver durante uns minutos. O primeiro diálogo foi qualquer coisas como isto:
Cientista com ar de quem gosta de insectos: estes, por exemplo, são de uma espécie do Suriname.
Protagonista do documentário, ao estido do David Attenborough mas sem o sotaque característico: Suriname? Isso é o quê, um país em África?
Cientista com ar de quem gosta de insectos: sim, vieram de lá.
E continua a falar, a propósito dos insectos do Suriname, de outras espécies de insectos de África.
E eu mudei de canal e fui ver outra coisa qualquer. Querem saber porquê? Leiam a primeira frase desta página. Que o David Attenborough wannabe não saiba onde fica o Suriname, vá lá, percebe-se. Mas que a tal cientista que gosta de insectos se confunda com a origem dos bichos que ela própria estuda, chateia. E que na revisão científica (será que foi feita?) do documentário alguém tinha a obrigação de dar por ela.
A televisão tem, potencialmente, um elevado valor educativo. É pena que se perca em pormenores destes...
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3 comentários:
O mesmo para as revistas. Tá certo que as há que não são publicações propriamente cientificas. Mas dizerem que está a ser desenvolvido um novo medicamento contra a diabetes na univ de coimbra...quando não está coisa nenhuma...isso já roça a mentira. Mentira que lhes foi suspirada claro, mas mesmo assim, facilmente comprovavel...
O problema é que as pessoas acreditam piamente em tudo o que vêem na televisão. Sem qualquer espécie de espírito crítico... ;)
Uma introdução tão longa para isto?
Tanto rastilho para uma bombinha tão pequenina...
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