15 dezembro 2008

Feliz Natal, são os votos dos nossos patrocinadores

Chateia-me que o Marquês de Pombal e a Praça do Comércio estejam carregados de logótipos da TMN. Chateia-me à brava. Tá bem, eles pagaram a iluminação, mas não dava para lhes sacar o guito sem encher as principais praças de Lisboa com publicidade que entra pelos olhos dentro?

Será que isto não incomoda a presidência da câmara de Lisboa? Já se sabe que a CML tá nas lonas e precisa de guito para poder pagar facturas e juros de empréstimos. Mas não dava para fazer algum dinheiro, mesmo que fosse menos, com algo menos invasivo? Algo menos declaradamente publicitário? É que "iluminação patrocinada" e "anúncio comercial" são coisas bastante distintas! Um patrocínio é um pequeno logótipo em posição secundária, a lembrar quem pagou as contas. Num anúncio a mensagem da empresa ou a sua imagem estão em primeiro plano e procuram a máxima visibilidade para criar no destinatário a predisposição para a aquisição dos bens ou serviços. É precisamente isto que se passa nas principais praças de Lisboa. O facto de serem iluminações de Natal tornou-se completamente secundário. As luzes ali presentes não têm estrelas, nem anjos, nem mensagens de "feliz Natal". Só mesmo o gigantesco (e feio) logótipo da TMN.

Mas, sobretudo, chateia-me o patrocínio da Samsung à iluminação do Cristo-Rei. Tá iluminado (e de forma bem pirosa, diga-se) com leds a fazer um qualquer desenho que supostamente é uma representação de um anjo, e na base do monumento, a estátua de Cristo de braços abertos a olhar sobre Lisboa, um gigantesco logótipo da Samsung!

Que a CML está falida, já se sabe. Mas a Câmara de Almada está assim a precisar tanto de dinheiro que corrompa tão facilmente o seu principal monumento, figura omnipresente da travessia do Tejo pela 25 de Abril? Para a Samsung, está-se bem a ver, é um excelente negócio. O tempo necessário para a travessia da ponte cresce à medida que o Natal se aproxima e não dá para estar parado na ponte sem ver em permanência a sua mensagem publicitária, ali aos pés do Cristo-rei.

Espero que o negócio tenha sido volumoso. Muito volumoso. Que as câmaras municipais em causa tenham conseguido, pelo menos, sanear as suas delicadas situações financeiras, a bem dos seus munícipes. Que esta promiscuidade entre Natal e publicidade seja, pelo menos, um mal necessário para a continuação de serviços públicos de qualidade em duas das maiores cidades do país. Fico muito menos ofendido se me disserem "eh pá, nós também não gostamos, mas estamos um bocado de mãos atadas". Porque se foi por uma ninharia (e umas dezenas de milhar de euros são uma ninharia), sinceramente meus senhores, tenham vergonha na cara.

Ah, e porque vem a propósito: o Natal é, sobretudo, a festa da família. Reunimo-nos na noite de 24, trocamos presentes com as pessoas de quem mais gostamos, lembramo-nos da razão porque estamos juntos e recarregamos baterias para voltar ao mundo real dois ou três dias depois. Não é pelos presentes, seja pelo seu valor ou pelo símbolo de sucesso que representam, não é pelos doces, não é pelo subsídio de Natal. No Natal o subsídio é pago para permitir um maior conforto material na quadra festiva, os doces servem para confortar o estômago (e o conforto do estômago conforta a alma) e os presentes são um gesto para com as pessoas mais próximas a dizer que gostamos delas. Mas... experimentem um Natal carregado de presentes e doces e subsídios passado sozinho em casa a ver se é a mesma coisa. Ou então experimentem um Natal com uma refeição banal e uma qualquer sobremesa instântanea, sem presentes e com a conta a zeros mas junto das pessoas que importam. Continua a ser Natal, mesmo sem um telemóvel novo ou um plasma de 42".

6 comentários:

T. disse...

experimentem um Natal com uma refeição banal e uma qualquer sobremesa instântanea, sem presentes e com a conta a zeros mas junto das pessoas que importam. Continua a ser Natal

Isso. E para aqueles que são como eu, Natal seria missa do Galo com aqueles que importam, pelo menos alguns daqueles que importam. Talvez um dia seja.

Meg disse...

Eu vou passar o Natal com os meus pais, avó e tio-avô. É uma pequena amostra de Natal, porque quando eu era pequena era uma mega-festa de família com uns 20 primos, tios e quejandos. Isso é que era bonito :( Mais ainda assim, não está nada mal...

Agora ser obrigado a comprar prendas e tudo... ui! Isso dá-me a volta ao estômago. Só vou oferecer duas e estou a fazê-las agora hehehe!

Missa do Galo é que não é para mim. Já só vou à igreja para casamentos e outras festas... Mas cada um tem os seus motivos, não é?

adavid disse...

52 mil LEDs azuis e brancos que compõem o logótipo da SAMSUNG, com 11 metros de altura por 38 de largura

Realmente "grande formato".

Este Natal estou a tentar rimar "35 C, 95% humidade" com "Arvores e cancoes de Natal". Realmente em Portugues nao bate a bota com a perdigota, mas nas Filipinas eh a tradicao.

Mas depois de uma semana de aclimatacao, agora ate eu ja acho frescas as noites a 25 C.

Boas festas!

Nelson disse...

hey, aqui também temos noites de 25º no natal. Bom, 25ºF

Teté disse...

Concordo que esta promiscuidade entre Natal e publicidade tem contornos deprimentes. E que se não houver uma razão MUITO boa, nem se entende!

Agora para o espírito natalício é necessária mesmo essa reunião em família, com ou sem prendas, com ou sem filhós, com ou sem árvore ou presépio. É essa reunião que conta, tudo o resto são pormenores, mais ou menos agradáveis...

Espero continuar a ter essa felicidade durante toda a minha vida! :)*

Ana disse...

Pois a árvore de natal do forum algarve é bem binita. Não quero saber quem a patrocina, senão ainda deixo de a achar binita.

Natal é famelga. É stress pra conciliar duas famelgas diferentes, aliás, e é ver tudo a correr dum lado pó outro. Vá lá que as famelgas têm tradições algo diferentes: uma comemora o 24, outra o 25. Já facilita a coisa. Mesmo que isso implique derramar mousse de manga pelo caminho pra uma das casas... :S vamos lá a ver se este ano não se repete, senão ainda se torna numa tradição...