Já se sabe que a Wikipedia não é uma fonte fidedigna. Apesar de a quase totalidade da informação nela contida estar devidamente referenciada e ser correcta, porque os artigos podem ser editados por qualquer um corre-se o risco de estar a ler apenas um dos lados de uma questão ou estar a ler apenas parte da informação.
Seria de esperar que os jornalistas soubessem disso: lá porque está na wikipedia não quer dizer que seja automaticamente verdade!
Pois, seria de esperar que todos soubessem mas, pelos vistos, nem todos sabem.
A propósito desta história (que é hilariante, confesso), a senhora que ocupa um cargo parecido com o de provedor do leitor no The Guardian escreve: The moral of this story is not that journalists should avoid Wikipedia, but that they shouldn't use information they find there if it can't be traced back to a reliable primary source. Ao que eu respondo: Nãaaaaaaao, a sério??? Então, a lição de moral que se tira desta história é que os jornalistas devem confirmar as informações junto de fontes primárias? E eu que quase que jurava a pés juntos que esse princípio é ensinado em tudo o que é curso de jornalismo: só se escreve o que pôde ser confirmado! Pelos vistos enganei-me. A obrigatoriedade de confirmar informações é coisa recente, motivada apenas por este caso de fraude que enganou "jornalistas" do mundo inteiro. E limita-se à confirmação de informações da wikipedia. O que estiver num blog, por exemplo, fica aparentemente isento desta obrigatoriedade de confirmação.
Um pormenor delicioso: os tais jornalistas não acharam estranho que a citação não estivesse referenciada numa qualquer nota de rodapé. Já os editores da wikipedia acharam que essa informação, por não indicar as fontes, não era fidedigna e removeram-na. Se calhar devíamos trocar: púnhamos os jornalistas a editar a wikipedia e os editores da wikipedia iam escrever histórias para jornais. Perdíamos uma enciclopédia, mas ganhávamos uma melhor comunicação social.
(obrigado Pedro)
08 maio 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
6 comentários:
"E eu que quase que jurava a pés juntos que esse princípio é ensinado em tudo o que é curso de jornalismo: só se escreve o que pôde ser confirmado! Pelos vistos enganei-me."
O problema é, claro, que eles ensinam isso nos cursos. Toda a gente sabe que, a partir do momento em que sais da faculdade, não voltas a precisar de nada do que lá aprendes.
Terá menos a ver com as faculdades e mais com os editores e com os prazos e carga de trabalho atribuida a cada jornalista. Cada vez os jornais têm menos pessoas a trabalhar e mais suplementos e páginas para encher!
Quanto à Wikipedia, a qualidade dos artigos varia de acordo com quem os edita. Esta é a sua grande vantagem e calcanhar-de-aquiles. Todo a gente pode partilhar conhecimentos, logo abre-se a porta a algumas barbaridades...
Enciclopédia é a Britânica e mais nenhuma!
Se tivesse o capital mais depressa a comprava do que um carro novo...
Hmmmm.... és jornalista! ;)
A pressa pode ser a grande culpada de tudo isto, mas compete aos editores ter como primeira prioridade a qualidade e não a velocidade e compete aos jornalistas, apesar da pressa, garantir uma qualidade mínima assegurada.
Sobre a Britannica: há uns tempos fez-se um comparativo (publicado na Nature) entre as duas. Havia sensivelmente a mesma percentagem de erros numa e noutra e a mesma percentagem de erros graves. Sensivelmente. A Britannica não garante melhor qualidade que a Wikipedia, por mais estranho que tal pareça...
Nota: a Britannica rejeita as conclusões deste estudo. A Nature rejeita as críticas da Britannica.
«Enciclopédia é a Britânica e mais nenhuma!
Se tivesse o capital mais depressa a comprava do que um carro novo...»
Boa sorte. A qualidade vê-se logo por aqui:
http://www.britannica.com/EBchecked/topic/416856/Nobel-Prize
"any of the prizes (five in number until 1969, when a sixth was added) that are awarded annually from a fund bequeathed for that purpose by the Swedish inventor and industrialist Alfred Bernhard Nobel."
O sexto prémio é o suposto Nobel da Economia.
Recomendo a consulta de fontes primárias aqui também, nomeadamente quem atribui o tal prémio.
http://nobelprize.org/nomination/economics/nominators.html
"The Prize in Economics is not a Nobel Prize"
Ou seja, o prémio não é oficialmente um prémio nobel e não é pago "from a fund bequeathed for that purpose by the Swedish inventor".
Aqui a wikipedia claramente ganha embora esteja longe de ser completamente fidedigna:
http://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Nobel_Memorial_Prize_in_Economic_Sciences&oldid=286976665
Além deste exemplo, a Britânica está cheia de consensos sociais que são objectivamente mentira e facilmente refutaveis. Mesmo assim mantêm-nos ao longo das décadas nÁo os corrigindo.
Fontes primárias sempre que possível, independentemente da fonte indirecta, por muito "prestígio" que tenha.
Não sou jornalista mas conheço bem uns quantos e sei como é que algumas notícias são "feitas".
Li uma notícia de jornal sobre isso. Como é normal cada uma das partes defende a sua posição.
Sinceramente foi uma surpresa. E ficaram-me dúvidas.
Ao Manel
Toda a razão em termos de fontes primárias, agora que nós o façamos é outra história...
De facto esse erro é de palmatória. Até eu sei que quem paga o Nobel da Economia é o Banco da Suécia e que não é bem um Nobel.
E quanto ao resto é verdade que o escolher donde retiramos a informação diz muito daquilo que somos. Não é bom nem mau é mesmo assim.
Enviar um comentário