08 maio 2009

Fontes fidedignas

Já se sabe que a Wikipedia não é uma fonte fidedigna. Apesar de a quase totalidade da informação nela contida estar devidamente referenciada e ser correcta, porque os artigos podem ser editados por qualquer um corre-se o risco de estar a ler apenas um dos lados de uma questão ou estar a ler apenas parte da informação.

Seria de esperar que os jornalistas soubessem disso: lá porque está na wikipedia não quer dizer que seja automaticamente verdade!

Pois, seria de esperar que todos soubessem mas, pelos vistos, nem todos sabem.

A propósito desta história (que é hilariante, confesso), a senhora que ocupa um cargo parecido com o de provedor do leitor no The Guardian escreve: The moral of this story is not that journalists should avoid Wikipedia, but that they shouldn't use information they find there if it can't be traced back to a reliable primary source. Ao que eu respondo: Nãaaaaaaao, a sério??? Então, a lição de moral que se tira desta história é que os jornalistas devem confirmar as informações junto de fontes primárias? E eu que quase que jurava a pés juntos que esse princípio é ensinado em tudo o que é curso de jornalismo: só se escreve o que pôde ser confirmado! Pelos vistos enganei-me. A obrigatoriedade de confirmar informações é coisa recente, motivada apenas por este caso de fraude que enganou "jornalistas" do mundo inteiro. E limita-se à confirmação de informações da wikipedia. O que estiver num blog, por exemplo, fica aparentemente isento desta obrigatoriedade de confirmação.

Um pormenor delicioso: os tais jornalistas não acharam estranho que a citação não estivesse referenciada numa qualquer nota de rodapé. Já os editores da wikipedia acharam que essa informação, por não indicar as fontes, não era fidedigna e removeram-na. Se calhar devíamos trocar: púnhamos os jornalistas a editar a wikipedia e os editores da wikipedia iam escrever histórias para jornais. Perdíamos uma enciclopédia, mas ganhávamos uma melhor comunicação social.


(obrigado Pedro)

6 comentários:

Pedro Pinheiro disse...

"E eu que quase que jurava a pés juntos que esse princípio é ensinado em tudo o que é curso de jornalismo: só se escreve o que pôde ser confirmado! Pelos vistos enganei-me."

O problema é, claro, que eles ensinam isso nos cursos. Toda a gente sabe que, a partir do momento em que sais da faculdade, não voltas a precisar de nada do que lá aprendes.

Aécio disse...

Terá menos a ver com as faculdades e mais com os editores e com os prazos e carga de trabalho atribuida a cada jornalista. Cada vez os jornais têm menos pessoas a trabalhar e mais suplementos e páginas para encher!
Quanto à Wikipedia, a qualidade dos artigos varia de acordo com quem os edita. Esta é a sua grande vantagem e calcanhar-de-aquiles. Todo a gente pode partilhar conhecimentos, logo abre-se a porta a algumas barbaridades...
Enciclopédia é a Britânica e mais nenhuma!
Se tivesse o capital mais depressa a comprava do que um carro novo...

Nelson disse...

Hmmmm.... és jornalista! ;)

A pressa pode ser a grande culpada de tudo isto, mas compete aos editores ter como primeira prioridade a qualidade e não a velocidade e compete aos jornalistas, apesar da pressa, garantir uma qualidade mínima assegurada.

Sobre a Britannica: há uns tempos fez-se um comparativo (publicado na Nature) entre as duas. Havia sensivelmente a mesma percentagem de erros numa e noutra e a mesma percentagem de erros graves. Sensivelmente. A Britannica não garante melhor qualidade que a Wikipedia, por mais estranho que tal pareça...

Nota: a Britannica rejeita as conclusões deste estudo. A Nature rejeita as críticas da Britannica.

Manel disse...

«Enciclopédia é a Britânica e mais nenhuma!
Se tivesse o capital mais depressa a comprava do que um carro novo...»

Boa sorte. A qualidade vê-se logo por aqui:

http://www.britannica.com/EBchecked/topic/416856/Nobel-Prize

"any of the prizes (five in number until 1969, when a sixth was added) that are awarded annually from a fund bequeathed for that purpose by the Swedish inventor and industrialist Alfred Bernhard Nobel."

O sexto prémio é o suposto Nobel da Economia.

Recomendo a consulta de fontes primárias aqui também, nomeadamente quem atribui o tal prémio.

http://nobelprize.org/nomination/economics/nominators.html

"The Prize in Economics is not a Nobel Prize"

Ou seja, o prémio não é oficialmente um prémio nobel e não é pago "from a fund bequeathed for that purpose by the Swedish inventor".

Aqui a wikipedia claramente ganha embora esteja longe de ser completamente fidedigna:

http://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Nobel_Memorial_Prize_in_Economic_Sciences&oldid=286976665

Além deste exemplo, a Britânica está cheia de consensos sociais que são objectivamente mentira e facilmente refutaveis. Mesmo assim mantêm-nos ao longo das décadas nÁo os corrigindo.

Fontes primárias sempre que possível, independentemente da fonte indirecta, por muito "prestígio" que tenha.

Aécio disse...

Não sou jornalista mas conheço bem uns quantos e sei como é que algumas notícias são "feitas".
Li uma notícia de jornal sobre isso. Como é normal cada uma das partes defende a sua posição.
Sinceramente foi uma surpresa. E ficaram-me dúvidas.

Aécio disse...

Ao Manel
Toda a razão em termos de fontes primárias, agora que nós o façamos é outra história...
De facto esse erro é de palmatória. Até eu sei que quem paga o Nobel da Economia é o Banco da Suécia e que não é bem um Nobel.
E quanto ao resto é verdade que o escolher donde retiramos a informação diz muito daquilo que somos. Não é bom nem mau é mesmo assim.