31 agosto 2008

JO2008 - Parte XIII, Uma de ouro, uma de prata

Este post faz parte de uma série dedicada à participação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Pequim. É aconselhável ler também os posts anteriores.

Até à final do triplo salto não faltava quem anunciasse na comunicação social a calamidade eminente: vamos sair de Pequim só com uma medalha, um resultado vergonhoso (bem pior foi o de Barcelona em 1992, em que saímos com zero medalhas, mas nestas alturas a comunicação social tem o condão de se esquecer do que não lhes dá jeito).

Já se previa a fanfarra em torno de Vanessa Fernandes, a única que trouxe dignidade às cores nacionais.

Até o presidente do COP veio dizer que não iria candidatar-se a novo mandato, porque falhou os objectivos. Tinham acabado as provas de Naide Gomes e Gustavo Lima, restava 1 possibilidade de medalha.

2 dias depois, salta Nelson Évora (salta, não, que digo eu? VOA!) uns espectaculares 17,67m e ganha a medalha de ouro.

E de repente... passamos de uma prestação "vergonhosa", "decepcionante", "fraca" para "a melhor prestação de sempre". E isto segundo quem? Segundo os critérios do COI, que primeiro ordena por medalhas de ouro, depois por medalhas de prata e depois por medalhas de bronze. Critério que serve muito bem os propósitos: salvar a face! De toda a gente: salvar a face do secretário de estado do desporto, do COP, da missão portuguesa, da comunicação social. A melhor prestação de sempre só o é porque dá jeito.

A "melhor prestação de sempre" conseguiu sê-lo por 6 cm. 6 cm a menos e Nelson Évora ficaria com a prata. 9 cm a menos e ficaria com bronze, 16 cm a menos ficaria fora do pódio.

Como é possível que a "melhor prestação de sempre" dependa de tão pouco? Como é possível que as condições que o presidente do COP não tinha, apareceram de repente, fruto de apenas 16cm? Das duas, uma: ou o COP fez bem o seu trabalho e providenciou aos atletas as melhores condições possíveis, ou não! Se o fez, se o trabalho está bem feito, se as bases estão lançadas, então a continuidade do projecto não pode depender do número de medalhas. Até poderia, se fôssemos um país com a tradição de ganhar medalhas às dezenas, mas quando o objectivo são 4 estamos demasiado à mercê de imponderáveis para hipotecar o projecto numa aposta frágil. Se não fez, se as condições não foram as melhores, se os atletas não tiveram tudo aquilo de que necessitavam, então não é uma medalha de ouro, por mais saborosa, desejada ou merecida, que vai disfarçar o problema.

Vicente Moura fez mal ao anunciar que não se recandidatava. Fez mal porque o anunciou durante os jogos. Deveria ter feito o anúncio, se era essa a sua intenção, no fim dos jogos quando fosse altura de apresentar um balanço. Mas fez muito pior em dar o dito por não dito dois dias depois. Feita a asneira, assume-se a asneira. Sob pena de se perder toda a credibilidade. Até ao seu anúncio de renúncia eu apoiava a liderança de Vicente Moura. Agora acho que é altura de mudar de chefia. Esta perdeu a face e dificilmente a recupera. Junto de atletas, treinadores, federações e público em geral.

Finalmente, como é possível que uma equipa tão contestada, tão criticada, tão atacada por todos os lados, seja agora levada aos píncaros apenas porque em vez de 1 medalha trouxeram duas? Sinceramente, não concordo que esta prestação tenha sido a melhor de sempre. Ou pelo menos não tenho assim tanta certeza. Em 2004 trouxémos 3 medalhas e uma batelada de diplomas olímpicos. Gostei muito dos resultados de Atenas. Não tanto dos de Pequim. Os melhores em Pequim foram melhores que os melhores em Atenas, mas ficámos aquém do desejado nalgumas modalidades e nalguns eventos.

Classificar esta prestação como a melhor de sempre é injusto. É injusto para com os atletas que esperavam ter feito melhor do que fizeram. Dizer que esta prestação foi a melhor de sempre é dizer a Naide Gomes, Gustavo Lima e Telma Monteiro, para citar apenas os 3 casos mais mediáticos, que os seus maus resultados (maus, tendo em conta as expectativas) não nos incomodam. Não estamos nada aborrecidos com o pódio falhado por 1 ponto de Gustavo Lima, com a eliminação surpresa de Naide Gomes ou com a derrota inesperada de Telma Monteiro. Pois eu estou chateado! Estava a contar com melhor. Por isso, não acho que tenham sido os melhores Jogos Olímpicos de sempre. E quero que estes atletas vão a Londres para a desforra dos resultados de Pequim!!! Merecem eles e merecem aqueles que os apoiam.


Próximos episódios:
- O dinheiro dos contribuintes
- Conclusão

JO2008 - Parte XII, Portugueses e Estrangeiros

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Há quatro anos Francis Obikwelu, então atleta português recém-naturalizado, ganhou uma medalha de prata nos 100m nos Jogos Olímpicos de Atenas. A prova foi transmitida em directo no Telejornal e assim que terminou, a grande manchete era "Primeira medalha olímpica portuguesa na velocidade".

Há 4 anos ninguém tinha dúvidas que Obikwelu era português, que a sua medalha era portuguesa. Contudo...

Este ano foi diferente. Foi com a eliminação de Francis Obikwelu nos 100m e consequente abandono da carreira internacional, anunciado minutos depois, que me divorciei completamente da comunicação social portuguesa. Foi nesse momento que achei que a coisa tinha, pura e simplesmente, passado das marcas. E depois só piorou.

1. Após a eliminação, a pivot do programa Desporto 2, transmitido na RTP2 paga com o dinheiro dos contribuintes portugueses, conseguiu a proeza de se referir a Francis Obikwelu como "o atleta nigeriano"; na frase seguinte, Obikwelu passou a "luso-nigeriano" e na frase seguinte já era "atleta português de origem nigeriana". Não, isto não se admite! Nenhum órgão de comunicação social pode, por um lado, dizer que são "vitórias nossas" e no momento seguinte referir-se às "derrotas deles". Muito menos um órgão de comunicação social do estado, pago com dinheiros públicos e obrigado a prestar serviço público.

2. Poucos dias mais tarde, Naide Gomes que até ao momento era uma "atleta portuguesa" foi eliminada na qualificação do salto em comprimento. Em todas as notícias que li, nomeadamente no site do Público, a sua origem "são tomense" foi referida. Em TODAS as notícias, ela foi "atleta portuguesa de origem são tomense".

3. Gustavo Lima, que ao longo de toda a competição da classe Laser foi o "velejador português" passou subitamente, ao perder o pódio por 1 ponto, a ser "o velejador português nascido no Rio de Janeiro". No site do Público.

4. Talvez em virtude da onda de protestos que estes comentários depreciativos acerca da naturalidade dos atletas desencadearam, Nelson Évora passou a ser, em TODAS as notícias, referido como "atleta português, nascido na Costa do Marfim e filho de cabo-verdianos". Assim os órgãos de comunicação social defendem-se das acusações de parcialidade, referindo a naturalidade estrangeira de um atleta apenas quando perde.

Foi vergonhoso. É uma vergonha ver os órgãos de comunicação social a referir a naturalidade dos atletas, mas apenas de alguns. Porque ninguém disse, em nenhuma das notícias, qual a naturalidade de Vanessa Fernandes (é de Perosinho, Vila Nova de Gaia). O tema só surge quando se referem à sua família, que ainda lá mora, à forma como os seus conterrâneos vêem as provas, à festa que ocorreu em sua homenagem. A naturalidade de Vanessa Fernandes não é relevante quando se dá uma notícia sobre a sua participação numa prova, tenha corrido bem ou mal. Porque há-de ser relevante a naturalidade de Francis Obikwelu, Naide Gomes, Nelson Évora ou Gustavo Lima? A naturalidade de um atleta nascido em Braga, Castelo Branco, Almada, Coimbra ou Funchal é tão relevante quando a de um atleta nascido na Costa do Marfim, Nigéria, Guiné Bissau, Brasil, França ou São Tomé e Príncipe.

Os órgãos de comunicação social perceberam bem que meteram a pata na poça pela quantidade de comentários a esse respeito. E por isso salvaram a face referindo a origem Costa-marfinense de Nelson Évora. E podem dizer descansados que "não é só quando perdem, fizémos isso com todos!". O único problema é que... esqueceram-se de alguns: Jessica Augusto nasceu em França e Edivaldo Monteiro nasceu na Guiné-Bissau. Esqueceram-se de referir a naturalidade destes dois quando noticiaram as respectivas eliminações. Para a próxima, tomem nota das naturalidades dos atletas todos, podem vir a ser úteis.

E para terminar, uma pequena nota: considero meu compatriota todo aquele que assim tenha nascido e não manifeste vontade de deixar de o ser; e todo aquele que não o sendo de nascença manifeste a vontade de passar a sê-lo e assim concorde o Estado Português. A partir do momento em que o Estado Português reconhece alguém como meu compatriota, então, sê bem-vindo! Pelo que vi há tanto português "de gema" com vergonha de o ser que abraço qualquer estrangeiro que, tendo melhores opções, opta pela nacionalidade portuguesa. Não me importa onde nasceram. Isto também vale para futebolistas como Pepe, Deco (ambos brasileiros de origem), Bosingwa ou Makukula (ambos da República Democrática do Congo, ex-Zaire).


Notas:
- Francis Obikwelu nasceu na Nigéria, naturalizado português a partir de Outubro de 2001; radicou-se em Portugal em 1994, com 16 anos de idade.
- Nelson Évora nasceu na Costa do Marfim e é de ascendência cabo-verdiana; vive em Portugal desde os 5 anos de idade, tendo-se naturalizado português em 2002 (com 18 anos)
- Naide Gomes nasceu em São Tomé e Príncipe e naturalizou-se portuguesa em 2001. Vive em Portugal desde os 11 anos de idade.
- Gustavo Lima nasceu no Rio de Janeiro. Pelo que percebi, é português de nascença, tendo a família regressado a Portugal quando ainda era criança.
- Edivaldo Monteiro nasceu na Guiné-Bissau e reside em Portugal desde os 10 anos de idade. Naturalizou-se português aos 23 anos (em 2000 ou 2001, não conseguir determinar a data precisa).
- Jessica Augusto nasceu em França, mas pelo que pude determinar, desde sempre foi portuguesa. Não conseguir perceber desde quando reside em Portugal.
- Nelson Sousa (eu) é português desde que nasceu, em 1977, em Leiria. Viveu toda a vida em Portugal (Leiria e Lisboa), excepto durante 1 ano em que morou em Estrasburgo (França). E não se sente mais português que nenhum dos referidos acima.


Nota adicional: protestei junto do provedor do tele-espectador da RTP, contra o tratamento dado a Obikwelu pela pivot do Desporto 2. A resposta que obtive é que, em virtude das inúmeras queixas de espectadores sobre a cobertura da RTP aos Jogos Olímpicos, o provedor vai dedicar o seu programa de 6 de Setembro integralmente ao tema.

29 agosto 2008

JO2008 - Parte XI, Nelson Évora

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Nelson Évora sagrou-se campeão olímpico no triplo salto. Junta assim o mais cobiçado título do atletismo ao título mundial que conquistou no ano passado e ao 3º lugar nos mundiais de pista coberta em Fevereiro deste ano.

Acho que até é desnecessário dar os parabéns a Nelson Évora. Foi um feito histórico. Tornou-se o 4º campeão olímpico português, depois de Carlos Lopes em 84, Rosa Mota em 88 e Fernanda Ribeiro em 96. Graças a ele pudemos ouvir, 12 anos depois, o hino português no estádio olímpico.

Mas, olhemos com um pouco mais de atenção para o resultado de Nelson Évora. É que classificá-lo de extraordinário é pouco.

À partida havia 14 atletas com records pessoais acima de 17,50m. O líder desta lista é Jadel Gregório, com uns impressionantes 17,90, seguido de Marian Oprea com 17,80 e depois Nelson Évora com 17,74. Contudo, mais relevante ainda que as melhores marcas pessoais é a melhor marca desta época. E nas melhores marcas do ano temos Philip Idowu, o principal favorito, com 17,58, David Girat e Alexis Copello com 17,50 e lá para o meio da tabela, em 12º lugar, temos Nelson Évora em 12º com 17,33.

Note-se que 17,50 já é um salto "estratosférico" numa competição como os Jogos Olímpicos. 17,50 metros garantiram sempre uma medalha nas edições anteriores dos Jogos.

Nelson Évora qualificou-se com 17,34 (melhor marca pessoal do ano) ao segundo ensaio, após ter feito nulo no primeiro. Na final, Nelson Évora começou em segundo, atrás de Idowu que arrancou com um extraordinário 1º ensaio a 17,51. Ao segundo ensaio Nelson Évora melhor para 17,56. Ao terceiro ensaio Idowu faz 17,62 e Levan Sands bate o record nacional com 17,59, relegando Évora para o terceiro lugar. Entretanto Girat está em 4º, com 17,52 a escassos 4 cm de Évora. Se Girat melhorar pode atirar Nelson Évora para fora do pódio!

Não foi isso que aconteceu, Évora melhorou para 17,67 ao 4º ensaio, ninguém mais melhorou e ficou em primeiro. Mas... olhemos um pouco para os resultados:

1. Nelson Évora, 17,67
2. Philip Idowu, 17,62
3. Levan Sands, 17,59
4. David Girat, 17,52.

Destes 4 atletas, 3 deles bateram a melhor marca mundial do ano até aos jogos, que pertencia a Idowu com 17,58. Girat com um excelente resultado fica apenas em 4º.

Nelson Évora ganhou a medalha de ouro por apenas 5cm (a mais pequena diferença de sempre), Sands fica a em terceiro a apenas 8cm da medalha de ouro e Girat, que saltou só 15cm a menos que Évora, fica fora do pódio.

Já deu para perceber o quão à justa foi? Não tira mérito nenhum a Nelson Évora, antes pelo contrário! Foi o mais competitivo concurso de triplo salto da história dos Jogos Olímpicos e Nelson Évora ganhou! Mas... e se?

E se Évora não tem melhorado os seus 17,56, que já eram uma marca extraordinária? Ficaria em terceiro.

E se Évora tem feito apenas 17,51, o que mesmo assim já eram 17cm a mais que a marca da qualificação (e sua melhor da época)? Ficaria em 4º, fora das medalhas. Por uma unha negra, mas fora das medalhas.

E então? O que teria acontecido? Nelson Évora seria apenas "mais um que foi lá para gastar dinheiro e nem uma medalha trouxe". Se tem saltado "apenas" 17,50 teria ficado em 4º, a menos de um palmo da medalha de ouro. E seria mais um a juntar ao rol das "desilusões nacionais".

Mas não foi isso que aconteceu, e ainda bem. Nelson Évora merece mesmo esta medalha, e mostrou que é o melhor triplista da actualidade.

Mas porque é que Évora se torna heroi nacional porque ganhou (mesmo que por uma unha negra), e os que falharam por uma unha negra são umas bestas? Onde está o meio termo? O que é um resultado "assim-assim"? E um resultado "bom, mas não excepcional"?

O que percebi, é que não há. Entre o 8 e o 80 não há nada em Portugal. As coisas são sempre excepcionais. Ou pela positiva, ou pela negativa. O que não deixa de ser estranho num país em que a resposta nº 1 à pergunta "então, como vai a vida?" é "vai-se andando".

As consequências da medalha de ouro de Nelson Évora foram imediatas: de repente fazem-se as pazes com os resultados, os portugueses já podem sentir orgulho na sua equipa olímpica, e a contestação de há apenas 2 ou 3 dias esbateu-se como ruido de fundo entre gritos de "Viva Portugal" e "Somos campeões". Em apenas 2 ou 3 segundos (o tempo que demora a saltar 17,67m) passámos de "os piores" a "os melhores". Até a comunicação social, que aproveitou a escassez de notícias típica de Agosto para procurar polémicas em Pequim, começou imediatamente a falar na "melhor prestação de sempre". 1 dia antes dizia-se que "Vicente Moura não se recandidata face aos maus resultados"; 2 dias antes falava-se na "falta de brio e empenho dos atletas"; Uma semana antes falava-se de "ainda não termos subido ao pódio ao fim de uma semana de jogos". Mas agora, já está tudo para trás das costas. Ganhou, é só isso que importa!

E agora é até escusado virem acusar a comunicação social de ter provocado pressão sobre os atletas. Porque se a Vanessa Fernandes e o Nelson Évora conseguiram aguentar a pressão (são os verdadeiros campeões), os outros também o deveriam ter feito (não serão verdadeiros campeões de certeza). Além disso, esta foi "a melhor prestação olímpica de sempre"!!! E o resto, infelizmente, é só conversa.

Mas sobre os "pecados" da comunicação social falo nos próximos capítulos.


Nota: Nelson Évora tem 24 anos, é estudante do ensino superior e atleta do Benfica. Está integrado no projecto Pequim 2008 desde 09/2005 no nível II (bolsa de 1000 euros/mês), passando ao nível I (bolsa de 1250 euros/mês) em 09/2007. Esta é a sua segunda participação olímpica, tendo ficado em 40º lugar no triplo salto em Atenas.


Próximos episódios:
- Portugueses e estrangeiros
- Uma de ouro, uma de prata

JO2008 - Parte X, Razões e desculpas

Este post faz parte de uma série dedicada à participação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Pequim. É aconselhável ler também os posts anteriores.



Após a eliminação surpresa de Naide Gomes viveu-se em Portugal uma era conturbada. Digo que foi uma era porque o ritmo das notícias, das opiniões, dos comentários, a visibilidade do tema, dava a entender que a situação se arrastava há anos. E digo que se viveu porque apenas 48h depois (tema a discutir no próximo capítulo) a tempestade desapareceu e entrámos na era da bonança.


Gustavo Lima
O tom de críticas aos atletas olímpicos subiu de tom de tal forma que Gustavo Lima, que perdeu a medalha de bronze por 1 ponto, decidiu desistir da vela. Espero (e acredito que esperem muito mais de metade dos portugueses) que ele reconsidere.

Depois do 6º lugar em Sidney, do 5º lugar em Atenas, do 4º lugar em Pequim, queria mesmo muito vê-lo subir ao pódio. Poucos atletas se sentirão tão injustiçados pela opinião pública portuguesa como Gustavo Lima se sente neste momento.

A opinião pública neste momento criticava os atletas por terem ido a Pequim gastar dinheiro dos nossos impostos (assunto sobre o qual falarei mais à frente), por estarem em Pequim mais a passear que a competir e, obviamente, porque ninguém consegue o raio de uma medalha. Ninguém, não! Porque a medalha de prata conseguida por Vanessa Fernandes só veio dar mais um argumento ao Zé: "Tão a ver, a Vanessa é que é, ela trabalha e traz uma medalha, não fica de fora por um ponto, nem é eliminada. Ela é que é uma grande atleta!".

Lembrem-se que Gustavo Lima falhou a medalha de bronze por um ponto. Vai ser relevante no próximo post.

Em defesa de Gustavo Lima podia-se dizer que do Clube Naval de Cascais, segundo palavras do próprio, só recebe mensagens SMS ou e-mails a agradecer a boa representação que faz do clube. E que da Federação Portuguesa de Vela obteve 10 treinos mensais com treinador. Acho razoável supor que os medalhados olímpicos disponham de treinador próprio, com o qual treinem todos os dias, mas como não conheço a situação da vela, prefiro não especular.

Espero que Gustavo Lima reconsidere e que continue na vela. Porque que os Jogos Olímpicos devem-lhe uma medalha e os portugueses devem-lhe um pedido de desculpas.


Por favor, desculpem
Todo o clima que se viveu em torno da comitiva portuguesa deu azo a situações que roçam o ridículo! Emanuel Silva, após falhar a qualificação para a final dos 1000m na canoagem, disse que fez o seu melhor e que "se desiludi alguém, peço desculpas". Agora todo e qualquer atleta que enfrenta os jornalistas vem de peito cheio, a falar na importância de representar Portugal, defendendo o seu desempenho e pedindo desculpas, contrito, se não conseguiu o apuramento ou a medalha. Fosse ou não um resultado expectável. Foi a este ponto que chegámos: qualquer atleta sente que, se não ganhar, os portugueses vão dizer que mais valia não ter ido. Num dia passa à fase seguinte e é usado como exemplo de dedicação, no dia seguinte perde uma medalha e é acusado de falta de empenho. Por vezes pelas mesmas pessoas que o louvaram na véspera!

Mas... um pouco de história.

Há 4 anos, Emanuel Silva era um desconhecido. Chegou aos jogos olímpicos, tornando-se, salvo erro, o primeiro português a fazê-lo. Qualificou-se para uma final e uma meia-final na canoagem. ERA O MAIOR!!! O maior feito da canoagem portuguesa de sempre! Só à conta dele houve imensos jovens a começar a praticar canoagem. Como resultado este ano temos outras 3 atletas na canoagem: uma em singulares e uma dupla. Em Atenas Emanuel Silva teve honras de reportagem, entrevistas, artigos no jornal a louvar os seus feitos. Pouco faltou para aparecer um novo Camões a transcrever o seu heroísmo em poema.

4 anos depois, falhou a final por 35 milésimos de segundo (na televisão até dá a ideia que até cortou a meta à frente), ficando em 4º da sua meia-final. E vem pedir desculpas se alguém se sente desiludido. Porque nem se atreve a dizer que chegar à meia-final é um bom resultado, não vá alguém acusá-lo de não se aplicar com afinco, de estar em Pequim só para passear, de não dignificar as cores portuguesas.

Também se apurou para a meia-final de K1 500m e ficou em 5º na sua série, falhando também o apuramento para a final. As outras atletas também chegaram às respectivas meias finais, não conseguindo o apuramento para a final. A todos, muitos parabéns! Para um país que há 4 anos não tinha canoagem olímpica fizeram um verdadeiro milagre em Pequim! Espero ver-vos em 2012 em Londres.

Em defesa de Emanuel Silva e dos restantes atletas da canoagem, se tal fosse necessário, poder-se-ia dizer que em Portugal não existe ainda uma pista de canoagem. Está uma em construção, mas não existe. Não faço ideia como se fazem as marcações de distâncias ou de pistas. Também não sei onde se treina, se usam rios ou barragens ou se treinam com frequência no estrangeiro.

Vicente Moura
Em face dos resultados (eliminação de Naide Gomes e 4º lugar de Gustavo Lima), Vicente Moura disse que não continuaria à frente do COP. A notícia até foi dada como se ele tivesse dito que se demitia, vindo depois o próprio a dizer que leva o mandato até ao fim (Dezembro de 2008) mas que não se candidata a novo mandato.

Acho que sim senhor, fica bem. Ainda durante os jogos o presidente do COP diz que vai largar o barco, que os resultados ficam abaixo do esperado. Como se não houvesse críticas suficientes vem o responsável máximo dizer que a coisa correu mal.

Seria o mesmo que um treinador demitir-se ao intervalo de um jogo, porque está a perder e já não é possível dar a volta.

De um atleta espera-se que dê o máximo (e todos deram, que não restem dúvidas!) até ao fim da prova. De um dirigente espera-se que leve a missão até ao fim e que só faça balanços no final das provas. Não é a meio, quando ainda faltam competir uns 20 atletas, que se vem fazer balanços finais.

Claro que, por um lado, Vicente Moura tinha razão: até à eliminação de Naide Gomes as nossas esperanças de 4 medalhas estavam intactas. Ela era candidata a medalha, Nelson Évora também e Gustavo Lima partia para a última regata em terceiro da geral.

Mas se calhar, caso tivesse ficado calado logo na véspera quando veio falar no brio e profissionalismo, nem Naide Gomes teria sido eliminada, nem Gustavo Lima teria ficado em 4º. Não quero dizer que a culpa do fracasso destes atletas é de um dirigente, longe disso. O mérito quando ganham é deles, a responsabilidade pelo fracasso é, em última análise, deles também. Mas que não ajuda ter a sua dedicação posta em causa na véspera da prova decisiva, lá isso não.


Nota 1: Gustavo Lima tem 31 anos e é velejador profissional do Clube Naval de Cascais. Participou pela terceira vez nuns Jogos Olímpicos. Foi integrado no projecto Pequim 2008 em Setembro de 2004 no nível II (bolsa de 1000 euros/mês). Entre 08/2006 e 07/2007 esteve integrado no nível I (bolsa de 1250 euros/mês), voltando ao nível II em 08/2007.

Nota 2:Emanuel Silva tem 22 anos e estuda no 12º ano. É atleta do Clube Náutico do Prado. Participou pela 2ª vez nos Jogos Olímpicos. Está integrado no projecto Pequim 2008 desde Setembro de 2004, no nível II (bolsa de 1000 euros/mês).

28 agosto 2008

Descaramento

Roubar uma caixa multibanco é crime. Roubar uma caixa multibanco dentro de um tribunal é puro descaramento.

JO2008 - Parte IX, Naide Gomes

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É o caso mais dramático da comitiva portuguesa. De muito longe a principal favorita à medalha de ouro na sua especialidade, e o primeiro ensaio, bem para cima de 7,20 caso tivesse sido válido mostrou isso mesmo. Este salto teria sido record nacional por larga margem e uma das melhores marcas desde a era dos esteroides em que americanas, alemãs de leste e russas carregadas de dopantes saltavam 7,40 ou mais. Desde 1994 que os saltos acima de 7,20 são verdadeiras raridades.

O primeiro ensaio foi nulo, o segundo ensaio foi nulo. A ansiedade do terceiro ensaio deu borrada. Hesitou, travou e saltou, quase sem balanço, para fazer apenas 6,29, a 46 cm da qualificação directa e a mais de 30cm de um lugar na final por repescagem. Quem viu a transmissão viu como ela ficou. Naide Gomes ficou inconsolável, desolada. Há muitos anos que não falhava uma qualificação. Falhou agora. Tivesse algum dos primeiros dois ensaios sido válido, tinha-se qualificado, era a maior. Como foi eliminada, não serve, não presta, não honra Portugal. Devia era ser castigada e devolver o dinheiro que o estado lhe pagou (sim, cheguei a ler comentários desta índole no site do Público!). Mas sobre dinheiro, já falaremos..

No fim da qualificação, Naide Gomes falou aos jornalistas. E disse que todos os atletas presentes têm brio e se aplicam a fundo para representar bem Portugal. Pois, era precisamente isto que eu receava. Com as palavras de Vicente Moura e Vanessa Fernandes sentiu-se atingida Naide Gomes. Decerto que não era a ela que Vicente Moura se referia. Também não seria da falta de empenho de Naide Gomes que falou Vanessa Fernandes. Mas foi ela que se sentiu atingida. Vicente Moura defendeu-se das críticas desviando a culpa para o empenho dos atletas e, de todos os atletas, é Naide Gomes, actual campeã do mundo de pista coberta (Fevereiro 2008) e detentora da melhor marca mundial do ano a sentir-se afectada. E mostrou em pista que ficou afectada.

Naide Gomes é uma atleta excepcional e sem dúvida merecia uma medalha. Aliás, bem vistas as coisas, era a principal candidata da comitiva portuguesa a uma medalha de ouro. Já se sabia que Vanessa Fernandes ia defrontar forte concorrência das australianas, já se sabia que o inglês Idowu seria um adversário difícil para Nelson Évora. Mas Naide Gomes neste momento era de longe a que se apresentava em melhor forma, tendo em apenas 1 mês batido o seu record nacional por duas vezes, e, após igualar a melhor marca mundial do ano com 7,04 a meio de Julho, melhorou-a por 8cm 1 semana depois.

Acusou a pressão e foi uma Naide Gomes irreconhecível que saltou. Acusou o peso que caia sobre os seus ombros, como uma das últimas esperanças de uma nação que estava, naquele momento, de costas voltadas para a equipa olímpica.


Nota: Naide Gomes tem 28 anos, é estudante do ensino superior e atleta do Sporting. É actualmente campeã mundial de pista coberta, depois de ter sido 4ª nos últimos mundiais ao ar livre em 2007. É campeã europeia de pista coberta e vice-campeã europeia ao ar livre. É a detentora do record nacional com 7,12m e actual líder mundial do ano, quer ao ar livre, quer em pista coberta. Esteve nos JO de Atenas no heptatlo tendo sido 13ª com novo record nacional; nos jogos de Sidney participou nos 110m barreiras por S. Tomé e Príncipe. Está integrada no projecto Pequim 2008 desde Setembro de 2004 no nível III (bolsa de 750 euros/mês), tendo subido ao nível II (bolsa de 1000 euros/mês) em Setembro de 2007 e ao nível I (bolsa de 1250 euros/mês) em Março de 2008. Tendo sido eliminada nas qualificações dos JO de Pequim está de fora do projecto para Londres.


Próximos capítulos:
- Razões e desculpas
- Nelson Évora

JO2008 - Parte VIII, Vanessa Fernandes e Vicente Moura

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Vanessa Fernandes fez o que se esperava, nadou bem, pedalou bem, correu bem e ganhou uma medalha de prata. Antes de mais, parabéns à Vanessa Fernandes por este resultado excelente! Vi a prova de triatlo em directo e houve uma altura, perto do fim do ciclismo, em que achei que ela conseguiria ganhar o ouro. Depois, já na corrida, temi que lhe falhassem as pernas e fosse apanhada pelas perseguidoras.

No dia seguinte veio dizer, instigada pela comunicação social, que alguns atletas estão em Pequim mais para passear que para se aplicarem a fundo. Duvido que ela soubesse como andavam as coisas por cá. Se soubesse, talvez nunca tivesse dito uma coisa destas (update: ontem, à chegada a Lisboa, ela própria disse que não devia ter dito aquilo e que as declarações dos atletas portugueses foram mal interpretadas).

Note-se que as afirmações polémicas de Vanessa Fernandes foram proferidas em resposta às repetidas perguntas dos repórteres (p. ex. da RTP) que lhe pediram uma opinião sobre algumas das frases proferidas pelos atletas à saída das suas competições. Coisa que nem sequer deviam ter perguntado. A Vanessa Fernandes pergunta-se pela sua prova, pelas suas rivais, pelo seu resultado, pelas suas expectativas. Aos dirigentes da missão portuguesa pergunta-se sobre a comitiva em geral. Pedir opiniões a quem as não deve dar é mandar mais achas para a fogueira e a comunicação social foi demasiadas vezes a instigadora de polémicas absurdas e desnecessárias. Mas sobre a comunicação social e o seu papel, falei mais à frente.

Com a polémica totalmente instalada e os atletas portugueses a serem acusados em catadupa de falta de empenho, o que se ouviu da boca de Vanessa Fernandes, quisesse ela dizer isso ou não, foi que há uma generalizada falta de empenho na comitiva portuguesa. Vanessa ganha medalha, reclama com a falta de empenho dos outros. Mostra serviço, tem o nosso apoio, se o diz é porque é verdade. E neste momento, já não interessa mais nada. Já não interessam as circunstâncias de uma vitória ou de uma derrota. Já não interessam os recordes nacionais batidos. Já não interessa se um determinado atleta se estreia e perdeu logo contra o nº 1, não interessa se uma qualificação escapa por 35 milésimos (Emanuel Silva, na meia-final da canoagem K1 1000m), não interessa se a medalha se perde por 1 ponto (Gustavo Lima, vela, classe Lazer), não interessa se é um desporto sem tradição em que Portugal teve este ano a sua estreia (tae kwon do, ténis de mesa, badminton). Neste momento, está o caldo entornado. Quem trouxer uma medalha é bom, é um heroi nacional. Os outros são todos uma merda, mais valia não terem ido, só lá foram gastar o nosso dinheiro. Mas sobre dinheiro falarei mais à frente.

Vanessa Fernandes não devia ter dito o que disse. Mas disse-o. Pior, foi o que veio depois: o próprio presidente do COP, Vicente Moura, veio dizer que apenas se exige aos atletas brio e profissionalismo. A mensagem que passa? Que não há brio nem profissionalismo na comitiva.

Isto dito durante os jogos! Em plena competição, quando ainda havia mais de 20 atletas em prova, vem o presidente do Comité Olímpico Português sacudir água do capote, apontando responsabilidades à falta de empenho dos atletas. Se há falta de empenho na comitiva portuguesa (o que, muito sinceramente, duvido), a responsabilidade é do COP que não soube gerir melhor a equipa que seleccionou. Que não soube em tempo útil prevenir ou castigar os atletas que não levam os Jogos Olímpicos suficientemente a sério. Duvido que algum atlteta tenha ido a Pequim só para ver as vistas, ou para fazer férias à conta do orçamento. Mas depois de o próprio presidente do COP o afirmar, comecei a ter dúvidas...

Dias mais tarde surgiu a primeira frase decente de um dirigente da comitiva portuguesa: o chefe de missão, quando lhe pediram um comentário às declarações de Vanessa Fernandes e Vicente Moura, bem como uma análise ao desempenho dos atletas, pediu mais respeito pelos atletas ainda em prova. Deu um grande raspanete à comunicação social que procura polémicas, desestabiliza a comitiva e vem depois colher os frutos dessa desestabilização semeando mais polémicas.



Nota: Vanessa Fernandes é atleta profissional do Benfica. É actualmente penta-campeã europeia e foi campeã do mundo em 2007, depois do 2º lugar em 2006 e 4º lugar em 2005. No último mundial foi apenas 10ª. Venceu a Taça do Mundo de triatlo em 2005, 2006 e 2007 e é a recordista absoluta de vitórias em provas de Taça do Mundo, contando já com 21 vitórias. O facto é tão mais notável quando Vanessa Fernandes tem apenas 22 anos e compete numa modalidade em que o pico de forma se atinge por volta dos 27 ou 28 anos. Esteve presente nos JO de Atenas em que foi 8ª classificada. O seu curriculo é impressionante e não restam grandes dúvidas que é a melhor triatleta da história, tendo ainda 7 ou 8 anos pela frente ao mais alto nível. Está integrada no projecto Pequim 2008 desde Setembro de 2004 no nível II (bolsa de 1000 euros/mês), tendo ascendido ao nível I (bolsa de 1250 euros/mês) em Setembro de 2005.

Nota 2: Vicente Moura é presidente do COP desde 1997. No seu curriculo enquanto presidente do COP conta com 3 edições dos Jogos: Sidney (2 medalhas de bronze), Atenas (2 medalhas de prata e 1 de bronze) e Pequim (1 medalha de ouro e 1 de prata). Desde que assumiu a presidência do COP o número de modalidades em que Portugal compete aumentou, bem como foram criadas as condições para que aumente também a qualidade das prestações portuguesas nos Jogos Olímpicos. Foram assinados diversos contratos-programa e criadas inúmeras infra-estruturas, sendo o Centro de Alto Rendimento do Jamor o caso mais notável. Já está contratada e vai ser construida uma pista coberta no Jamor para atletismo, permitindo aos nossos atletas treinar durante a época de Inverno em Portugal, em vez de rumar ao estrangeiro.

Civismo

Em Portugal há auto-estradas. Nas auto-estradas há áreas de serviço. Nas áreas de serviço há restaurantes. Os restaurantes têm portas. E em frente às portas dos restaurantes das áreas de serviço das auto-estradas de Portugal há lugares de estacionamento para deficientes. Que às vezes são ocupados por quem não é deficiente, mas isso já sabemos. O que vi ontem foi algo mais que isso: uma carrinha estacionada a ATRAVESSAR, ocupando não 1, mas 2 lugares de estacionamento para deficientes. Note-se que são precisamente 2 os lugares para deficientes à porta. E aquela carrinha, com aspecto de pertencer a um museu ou sucata, estava na diagonal a ocupar AMBOS OS LUGARES!!!

Claro que isto não me escandaliza. Não me ofende, nem me incomoda. Afinal, um gajo que nem sabe estacionar em espinha e tem de deixar a carrinha atravessada ou tem limitações motoras que o impedem de fazer as manobras, ou então tem uma qualquer deficiência de civismo. De qualquer forma, dêm um autocolante azul ao homem, faxavor, para ele colar no vidro da viatura!

27 agosto 2008

JO2008 - Parte VII, Jessica Augusto

Este post faz parte de uma série dedicada à participação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Pequim. É aconselhável ler também os posts anteriores.


Uma frase que fez história é a que diz respeito às férias de Jessica Augusto. Disse, no final da qualificação dos 3000m obstáculos, que não ia competir na prova de 5000m e que ia aproveitar para fazer férias. Que nem valia a pena entrar nos 5000m, com a concorrência das africanas não tinha hipótese.

E foi isso que passou na TV, foi isso que foi dito nos jornais. Claro que não demorou nem 1 hora para que a frase fosse citada como se Jessica Augusto tivesse desistido sem competir numa única prova! Claro que ficou a ideia que foi a Pequim só para fazer turismo!

Infelizmente estamos pouco habituados a atletas que se qualificam em mais de uma modalidade. Jessica Augusto qualificou-se nos 3000m obstáculos e nos 5000m. Era atleta de 5000m e este ano mudou-se para os 3000m obstáculos precisamente porque a concorrência africana nos 5000m é imbatível, o máximo que poderia atingir era a presença nas finais.

E efectivamente é assim. Para a final dos 5000m qualificaram-se 3 quenianas, 3 etíopes e 2 etíopes naturalizadas turcas. Estas atletas ocuparam os 5 primeiros lugares. Em 6º apareceu uma atleta russa, depois outras duas da armada africana. A última destas atletas surgiu em 10º lugar na prova, onde competiram 15 atletas. As africanas dominam os 5000m e 10000m. Já é assim há alguns anos, não é novidade nenhuma. Quando Jessica Augusto, há cerca de 1 ano, decidiu mudar-se para os 3000m obstáculos porque a concorrência africana nos 5000m é demasiado forte, ninguém a censurou, antes pelo contrário, nos 3000m obstáculos ela tem hipóteses!

Jessica Augusto correu a 2ª eliminatória dos 3000m obstáculos. Não era, de todo, uma favorita, mas era candidata a uma presença na final. Na última vala houve uma confusão entre algumas atletas, Jessica Augusto tropeçou e com isso perdeu tempo. Terminou em 5º lugar na sua série, a 1 lugar da qualificação directa.

Nos 3000m obstáculos estão qualificaram-se para a final 1 etíope e 2 quenianas. Mas nem de perto, nem de longe exerceram qualquer domínio, esse coube à armada russa que arrecadou os 1º, 3º e 4º lugares

Depois de toda a bronca ter estoirado, e das acusações que Jessica Augusto estava a fazer férias em Pequim com o nosso dinheiro, ela resolveu fazer os 5000m. O que não correu nada bem, claro. Ela não tem treinado 5000m, não os preparou convenientemente, e só foi fazer a prova para evitar acusações parvas. Ficou nos últimos lugares, falhando a qualificação.

Agora, o desafio para os leitores: havia mais duas portuguesas a competir na prova de 3000m obstáculos. Como se chamam?


Nota: Jessica Augusto tem 26 anos, é estudante de enfermagem e é atleta do Maratona Clube de Portugal. É estreante em Jogos Olímpicos e é a primeira vez que, numa prova de topo, participa nos 3000m obstáculos. Entrou no projecto Pequim 2008 em Julho de 2007 no nível 4 (bolsa de 500 euros/mês). No mês seguinte, passou para o nível 3 (bolsa de 750 euros/mês), em virtude do 15º lugar nos mundiais de Osaka.


Próximos capítulos:
- Vanessa Fernandes
- Naide Gomes

JO2008 - Parte VI, Marco Fortes

Este post faz parte de uma série dedicada à participação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Pequim. É aconselhável ler também os posts anteriores.



Chegada ao fim a primeira semana de jogos, começa o atletismo. E foi aí que tudo aconteceu. Foi aí que surgiu a grande revolta do povo português contra os Jogos Olímpicos, as despesas com os atletas olímpicos, o brio dos atletas olímpicos. A seu tempo, lá chegaremos. Para já, vou só falar do caso do Marco Fortes, que foi o início da polémica.

Marco Fortes, após a prova do lançamento do peso, referiu que não se dá bem com provas de manhã, que para ele, de manhã, é só na caminha. A frase foi muito mal escolhida. Caiu muito mal. Foi repetida mais de 100 vezes. Toda a gente a cita agora, quando quer atacar os atletas olímpicos. Claro que nem por uma vez, após o próprio dia, se ouviu a repetição das declarações de Marco Fortes na conferência de imprensa na véspera da qualificação. Ele foi um dos atletas que respondeu às questões dos jornalistas. E sobre as suas expectativas referiu que em provas internacionais anteriores se sentiu um pouco deslumbrado pelo ambiente do estádio, era a sua estreia em provas de topo, e se desconcentrou. E continuou dizendo: "desta vez vai ser diferente. Amanhã só vou disfrutar do ambiente lá mais para o fim do dia quando me entregarem a medalha". A audiência respondeu com risos. Afinal, só para conseguir a qualificação directa teria de bater o seu record pessoal por 27cm (a melhor marca é de 20,13, era exigido 20,40 para passar). E depois concluiu com "Porque eles são grandes, mas não são Fortes". A audiência voltou a responder com risos. As piadas da véspera, cairam bem. A do dia da prova, não. Mais vale cair em graça do que ser engraçado, e Marco Fortes aprendeu esta lição da pior maneira possível.

A frase, a famosa frase, era uma piada. Já tinha dado para perceber que ele é o homem das piadas na comitiva, é o que está sempre bem disposto. Foi uma piada mal escolhida, uma piada sem graça, uma piada infeliz. Mas, tirando o facto de Marco Fortes não ter grande jeito para fazer piadas em situações sérias, não percebo do que pode ser acusado.

Após estalar a bronca, e após se repetirem acusações aos atletas olímpicos e, por seu lado, aparecerem várias pessoas a defendê-los, a comunicação social começa a sua dança. No site do Público, por exemplo, não foram referidas as marcas atingidas por Marco Fortes na qualificação. Nem qual era o seu record pessoal.

Uns dias mais tarde, Marco Fortes marca presença no programa Noites Olímpicas da RTP. Uma das coisas que o jornalista lhe perguntou foi se ele não se sentia um pouco injustiçado, porque toda a gente repete a frase, mas ninguém sabe quais são as suas marcas. A resposta por parte do Público não se fez esperar: no dia seguinte o Público noticia a ida de Marco Fortes à RTP. Acham que foi pôr água na fervura? Não, foi mesmo para responder à letra à acusação da RTP que na comunicação social só foi dado ênfase à reacção após a prova em vez de aos resultados desportivos. E por isso o Público achou por bem referir, coisa que não tinha feito na notícia anterior referente à sua eliminação, que Marco Fortes fez 18,05m num dos ensaios e 2 ensaios nulos, sendo a sua melhor marca pessoal de 20,13 e que terminou em 38º entre 45 atletas. Assim, o Público já pode estar defendido, está lá toda a informação! E agora, sim, quem quiser pode ofender o Marco Fortes, porque a informação factual até aponta para a falta de empenho do atleta(coisa que pelos vistos a opinião pública já tinha decidido há muito tempo).

O problema da cobertura destas situações na comunicação social, no Público em particular, não tem sido a informação que é dada. Essa é factualmente correcta (em regra, há excepções miseráveis!). O que é lamentável é que haja informação relevante que não é dada. Por exemplo, o facto de, à partida, Marco Fortes ter a 39ª melhor marca pessoal entre em 45 atletas. No que toca às melhores marcas desta época era 33º. Ficou em 38º. É uma prestação assim tão baixa?

Um pormenor que talvez escape a uma leitura na diagonal: Marco Fortes ficou em 38º, quando a sua melhor marca era a 39ª. Contudo, ficou a 2 metros do seu record pessoal. Não é estranho que um atleta fique tão longe da sua melhor marca e, apesar de tudo, não desça lugares na classificação? É estranho. E é mais estranho que em 45 atletas tenha havido apenas um record pessoal e uma melhor marca da época na qualificação. Estranho, sobretudo tendo em conta que apenas 6 atletas conseguiram a qualificação directa, logo outros 6 tiveram de lutar pelas repescagens. Apenas 6 atingiram os 20,40m necessários, quando havia 31 atletas com record pessoal superior a essa marca. Efectivamente, os resultados foram tão maus que caso Marco Fortes tivesse igualado o seu record pessoal tinha-se qualificado em 10º lugar! Isto para um atleta que estava à partida em 39º lugar, é notável! Algo de muito errado se terá passado no lançamento do peso. Ou não?

A parte curiosa é que o cenário se repetiu um pouco por todos os concursos de lançamentos. Nas qualificações as marcas foram todas, em geral, baixas. Os próprios comentadores (Eurosport e RTP2) referiam o facto falando das queixas dos atletas sobre o horário das provas e referindo que os concursos estão a começar bastante cedo, tendo em conta o normal horário em meetings, campeonatos da Europa ou do Mundo.


E esta é que é a parte irónica da bronca toda: a piada que Marco Fortes escolheu foi muito mal escolhida e não teve grande graça. Mas... até é bem verdade. De manhã, para ele e para todos os outros lançadores do peso, só na caminha!

Se uma prova que começa às 9 da manhã o atleta tem a acordar bem antes das 7 horas. Não sei como é a generalidade dos portugueses, mas quando eu acordo às 7h preciso de 2 cafés para despertar e mesmo assim só lá para as 11 é que rendo o máximo. Entre as 9 e as 11 vou acelerando...



Nota: Marco Fortes tem 25 anos, estuda no ensino secundário e é atleta do Sporting. É recordista nacional de lançamento do peso e é o primeiro atleta português a conseguir a qualificação para uns Jogos Olímpicos nesta modalidade. O seu record pessoal foi atingido esta época, quer ao ar livre quem em pista coberta. Passou de 19,13 ao ar livre e 18,33 em pista coberta em 2007 para records pessoais de 20,08 em pista coberta e 20,13 ao ar livre. Foi integrado no Projecto Pequim 2008 em Março deste ano, quando conseguiu os mínimos, no nível IV (bolsa de 500 euros por mês).

26 agosto 2008

Prémios Ó Faxavor!

A redacção do "Ó faxavor! É uma imperial e um pires de tremoços" tem o prazer de atribuir à leitora a.i. uma menção honrosa, na categoria Imperial e Tremoços, pela sua notável contribuição para elevar a média de page views do blog.

Para que percebam a importância desta contribuição, ontem houve 250 pageviews; na semana passada o número oscilou entre as 150 e 200. Hoje já vão mais de 400!!! Só numa das visitas registadas conta com mais de 100 page views, o que é notável! Mesmo lendo depressa são umas boas 3 horas a ler posts e caixas de comentários.

JO2008 - Parte V, A Natação

Este post faz parte de uma série dedicada à participação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Pequim. É aconselhável ler também os posts anteriores.


A onda de críticas ao desempenho dos atletas portugueses em Pequim que se seguiu à eliminação de Telma Monteiro (ver post anterior) teve ainda mais eco depois das declarações do Presidente da Federação de Natação. Disse que dos 8 atletas presentes, Tiago Venâncio decidiu abandonar o programa de treino da federação e preparar-se sozinho. E que os 7 atletas restantes melhoraram os seus máximos, mas Tiago Venâncio não. E disse ainda que um nadador brasileiro, que há 3, 4 anos perdia para o Venâncio, sagrou-se campeão olímpico.

Até pode ser verdade. Mas acho que é o tipo de recado para mandar em privado. Acho que era escusado referir esse facto na conferência de imprensa. Fica mal a um dirigente vir, a posteriori, comentar em público a decisão de um atleta em mudar o seu programa de treino. Se o erro de Tiago Venâncio era assim tão clamoroso, competia à Federação Portuguesa de Natação ter dado por ele a tempo e ter alertado o atleta ou tê-lo retirado da equipa olímpica. Se não o fizeram, foi uma decisão da Federação, pela qual apenas a Federação é responsável.

Vir a público, numa altura em que a comunicação social já reclama sangue pela falta de medalhas, criticar um atleta de 21 anos, e que, portanto, ainda está em início de carreira dispondo de mais 2 campanhas olímpicas pela frente, é contra-producente e deselegante, para não dizer mais.

Até pode ser verdade. Mas isso é o mesmo que ver o treinador de uma equipa de futebol queixar-se de um atleta e do seu método de treino depois de uma derrota. Se o atleta estava em má forma não devia ter alinhado. A culpa, num tal caso, é sempre do treinador.


Nota: Tiago Venâncio é estudante do ensino secundário e atleta do Palmela Desporto EM. Participou nos Jogos de Pequim em 100 e 200m livres. A sua estreia olímpica foi em Atenas, nos 100m livres. Foi 19º e 20º em 100m e 200m livres, respectivamente, nos campeonatos do Mundo de 2007. Foi integrado no projecto Pequim 2008 em Abril de 2005, tendo estado 1 ano no nível III (bolsa de 750 euros por mês) e o resto do tempo com o nível IV (bolsa de 500 euros por mês).


Próximos capítulos (amanhã):
- Marco Fortes
- Jessica Augusto
- As outras frases chave do atletismo

JO2008 - Parte IV, Telma Monteiro e os árbitros

Este post faz parte de uma série dedicada à participação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Pequim. É aconselhável ler também os posts anteriores.



Telma Monteiro é (ou pelo menos era) a menina bonita do judo português. Antes do início dos jogos era uma das atletas mais mediáticas da comitiva portuguesa: a miuda é nova, é gira, fotogénica, e fica muito bem de kimono. Por todo o lado multiplicavam-se as entrevistas, reportagens sobre a judoca, sobre os seus métodos de treino, a sua disciplina, os resultados que conseguiu, as expectativas para Pequim. Em regra, acompanhadas de fotografias de página inteira, que a miuda é mesmo gira.

Era candidata a uma medalha, mas falhou o pódio. Perdeu o 2º combate contra a chinesa que veio a ganhar a medalha de ouro, foi repescada e perdeu o combate de repescagem. No fim queixou-se das arbitragens. E foi isso que os portugueses levaram a mal.

Claro! Porque em Portugal NINGUÉM SE QUEIXA DOS ÁRBITROS! Aliás, este país nem ficou 2 anos com azia por causa de um penalty (a mão do Abel Xavier) no Euro 2000 nem nada! Ainda por cima, um penalty bem assinalado e durante 2 anos a desculpa serviu para justificar a nossa derrota no europeu. No mundial de 2002 pudemos ver o João Pinto a bater no árbitro, não foi a queixar-se dele! Ainda neste europeu ouvimos repetidas vezes falar da falta do Ballack sobre o Paulo Ferreira no lance do terceiro golo da Alemanha nos quartos de final. Ainda no Euro-2008 falou-se durante semanas do golo marcado pela Holanda contra a Itália, se era ou não fora de jogo, se a posição do Panucci já fora das 4 linhas validava o golo, a UEFA até veio a público comentar o lance. Por estes lados terminou apenas recentemente um processo judicial sobre corrupção no futebol, em que foram condenados dirigentes e árbitros por crimes de corrupção e coacção. O caso deu (e ainda dá) que falar durante longos anos. No fim de cada jornada de futebol fala-se nos lances mal assinalados. Queixam-se os treinadores, os dirigentes, os jogadores, os adeptos. Ainda este fim de semana, em que arrancou o campeonato, vimos esmiuçado o lance do penalty contra o Sporting (que foi incorrectamente assinalado), e o treinador do Belenenses, após perder 2-0 no Estádio do Dragão veio dizer que a arbitragem foi tendenciosa. Há duas épocas falou-se durante um ano no famoso golo do Paços de Ferreira marcado com a mão em Alvalade, que fez com que o Sporting perdesse 1-0. A desculpa serviu o ano todo e era exemplo sempre chamado quando um sportinguista se queria lamentar do grave prejuizo sentido pelo seu clube. Há uns anos Vítor Baía defende um remate do Benfica já dentro da baliza, o árbitro não assinalou o golo e este lance até teve honras de rábula no Diz Que É Uma Espécie de Magazine. O golo de Vata, marcado com a mão, mas meias-finais da Taça dos Campeões Europeus em 1991 e que levou o Benfica à final ainda é lembrado. Nos jornais desportivos todos os lances de arbitragem são esmiuçados, analisados, comentados. Os adeptos multiplicam-se em acusações de favorecimento de árbitros ao clube do lado. Qualquer discussão sobre futebol em Portugal rapidamente evolui para uma contagem de casos. E não falta quem consiga enumerar, por época, 5 ou 6 casos de prejuizo claro ao seu clube e 5 ou 6 casos de benefício aos adversários.

Mas... mas isso é só no futebol. Nas outras modalidades levamos muito a mal que se queixem da arbitragem. No futebol, pode ser. Mas no judo, não, que é isto? Há que assumir as derrotas e não inventar desculpas como essa da arbitragem, que só serve para o futebol. Porque é de futebol que a malta gosta, é de futebol que a malta (acha que) percebe, é futebol que a malta vê.

Foi pena a Telma Monteiro não ter conseguido a medalha. Sem dúvida que foi. Mas daí a termos um país ofendido porque ela se queixou dos árbitros, é preciso uma boa dose de falta de vergonha na cara, lá isso é...

E também foi pena que os que agora aparecem a criticar as "desculpas" de Telma Monteiro não tivessem visto o combate. Eu também não vi. Por isso não avalio a justiça dos comentários de Telma. Mas já ouvi dizer, por mais que uma pessoa que viu o combate, que Telma Monteiro até tem razão nas suas queixas, foi mesmo muito prejudicada pelas arbitragens.


Nota: Telma Monteiro é estudante do ensino superior e atleta do Benfica. É campeã europeia e vice-campeã mundial. Está integrada no Projecto Pequim 2008 desde Outubro de 2004 no nível III (bolsa de 750 euros por mês), tendo sido integrada no nível I (bolsa de 1250 euros por mês) em Outubro de 2007. Participou nos Jogos Olímpicos de Atenas, tendo conseguido na altura o 9º lugar, o mesmo que conseguiu em Pequim.

Dr. House

Um grupo de médicos na Itália está a tentar que a série Dr. House seja eliminada da televisão italiana. Protestam contra a falta de rigor médico nos episódios.

Ora aí está uma excelente ideia, mas acho que peca por escassa. Os médicos podiam (e deviam) ter protestado também contra a série Nip Tuck, ER e Grey's Anatomy. Os advogados deviam protestar contra Boston Legal ou The Shark, ambas as séries retraram advogados muito pouco escrupulosos e que ganham os seus casos quebrando a maior parte das regras. Qualquer cientista forense, bioquímico, biologo, químico ou mesmo informático deve sentir-se ofendido com as várias versões do CSI, pelo que também devem ser eliminadas. Os psiquiatras forentes devem bradar aos céus com os atropelos cometidos por Mentes Criminosas.

E qualquer pessoa com formação em ciência, em física em particular, deve protestar e exigir a remoção das grelhas de programação, dos títulos de DVD disponíveis e dos cartazes de cinema de coisas como:
- Star Wars
- Star Trek
- Stargate
- Armagedon
- 2001, Odisseia no Espaço
- Qualquer outro filme com naves espaciais, excepto o Apolo XIII
- Roswell
- ET
- Predador
- Coccoon
- Qualquer filme ou série que meta ETs
- Os ficheiros de Dresden
- As feiticeiras
- Buffy
- Qualquer série ou filme que envolva vampiros, demónios, bruxos e afins
- Homem Aranha (ambos)
- Batman (todos)
- Super-Homem (todos)
- Hulk (ambas as versões)
- Matrix
- Qualquer outro filme com super-herois ou gente a voar, em geral
- Medium
- O Sexto Sentido
- The Others
- Poltergeist
- Ghostbusters
- Qualquer filme que envolva gente morta ou fantasmas, gente que fala com gente morta ou fantasmas ou que vê gente morta ou fantasmas
- The Evil Dead (A Noite dos Mortos-Vivos)
- The Evil Dead II (A Morte chega de madrugada)
- Army of Darkness (O Exército das Trevas, 3º filme da trilogia Evil Dead)
- Qualquer filme com zombies

E, para acabar em beleza, é escandaloso que se permitam na televisão:
- Bip-bip
- Bugs Bunny
- Tom&Jerry
- Qualquer desenho animado em que: a) personagens morram num episódio e apareçam no seguinte; b) personagens expludam mas não morram, fiquem só chamuscadas; c) personagens sejam atingidas por pianos a cair escadas abaixo e saiam ilesas após sacudir a cabeça; d) personagens fiquem a pairar sobre um precipício e só caiam depois de olhar para baixo

Esta falta de rigor na televisão e no cinema TEM DE ACABAR E JÁ! Basta de fantasias! A partir de agora, só se permitem na televisão os seguintes conteúdos:
- Noticiários (sem opiniões de comentadores);
- Documentários (após passar pelo crivo da censura, a avaliar o seu rigor);
- Desporto;


E mai nada!

Microsoft... o que se há-de fazer...

Tou de volta de um PC que não arranca. Tinha alguns problemas, é certo, mas tem vindo a ficar pior. O problema é que o computador é da "patroa", se lhe dou cabo do disco ela dá-me cabo do canastro.

Para que se perceba a enrascada em que me meti:

1. O PC tinha virus. Encontrei uns quantos, limpei, mas com o PC infectado é difícil garantir que a própria detecção é fidedigna. Vai daí, porque o filho da mãe continuava a aparecer (provavelmente um programa lança uma nova cópia do virus sempre que detecta que não está nenhuma a correr), resolvi limpar à mão algumas coisas que estavam a arrancar e que cheiravam a esturro.

2. Como consequência, deixei de conseguir entrar no PC: diz o windows que a conta de administrador (a única que existe) não tem privilégios ou há um problema com os privilégios da conta. Então, resolvi trazer o PC cá para casa, e reparar a instalação do Windows.

3. Aparentemente corria bem, mas agora o PC não arranca: ecrã azul logo no início, com um daqueles erros muito explícitos: diz "STOP: 0x0000007B", seguido de uns quantos endereços que a mim não dizem nada, mas que o Google encontra facilmente. Basicamente quer dizer "tás fodido".

4. Então resolvo correr as ferramentas para reparar o sector de arranque (é onde o windows vai buscar informações sobre os discos e sistemas operativos instalados para saber o que deve arrancar). Corro o ficheiro e recebo uma mensagem a dizer que o computador tem um sector de arranque inválido e correr o fixmbr (o comando que supostamente resolve problemas destes) pode dar cabo das partições.

5. Vai daí, volto ao site da Microsoft para perceber que raio de problemas pode isto dar. A resposta que obtive é: "Ignore a mensagem de erro. O Fixmbr dá sempre essa mensagem, seja o sector de arranque inválido ou não".

A pergunta que se coloca é: se o aviso ocorre sempre, como raio vou saber se alguma vez o sector de arranque estiver mesmo corrompido? Para que raio é que se põe uma mensagem de erro que dá a entender que algo foi testado e falhou no teste se não houve teste nenhum?

E ainda se admiram que a malta saque o Windows? Pudera! Quem no seu perfeito juizo é que paga por aquela merda?

25 agosto 2008

JO2008 - Parte III, A primeira semana

Este post faz parte de uma série dedicada à participação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Pequim. É aconselhável ler também os posts anteriores.

Há 4 anos Sérgio Paulinho ganhou prata nos Jogos de Atenas. De forma completamente inesperada, mas conseguiu. O ciclismo de estrada corre-se logo nos primeiros dias e em 2004 os portugueses foram surpreendidos com uma notícia invulgar: ainda só estavam decorridos 1 ou 2 dias de jogos e já lá estávamos nós no quadro de medalhas.

Desde o início dos jogos ou melhor, desde o fim da prova de estrada no ciclismo, que ouvi falar, pelo menos 3 ou 4 vezes, nas "esperanças que Portugal suba ao pódio na primeira semana". Como se fosse uma coisa comum. Como se fosse uma coisa expectável. Não fosse a medalha do Sérgio Paulinho há 4 anos, sem lhe tirar valor, mas com uma boa dose de acaso, e em Portugal nem se saberia que havia medalhas na primeira semana.

Dos 5 candidatos sérios a medalhas, 3 só competiam na segunda semana (Nelson Évora, Naide Gomes e Vanessa Fernandes), e Gustavo Lima, estando já em curso a competição de vela, apenas discutiria as medalhas já bem no fim dos jogos.

Só no judo, com a participação de Telma Monteiro, havia alguma esperança de atingir uma medalha e quando essa se desmoronou, foi um rol de entrevistas a atletas candidatos a medalhas a perguntar se o desaire de Telma Monteiro (de que falarei no próximo capítulo) não teria colocado maior pressão sobre os atletas portugueses à luz dos objectivos iniciais. Bom, se a derrota de Telma Monteiro não colocou pressão sobre os atletas, de certeza que as perguntas dos jornalistas fizeram bem esse trabalho!

Mas pronto, para a comunicação social portuguesa (e para a RTP em particular), a esperança de uma medalha na primeira semana tinha de se manter acesa.

Nota: Sérgio Paulinho estava seleccionado para representar Portugal nos Jogos Olímpicos, mas não alinhou na prova. Já ouvi vários comentários sobre o facto, em geral em tom acusatório. Para quem não acompanhou o evoluir dos acontecimentos aqui fica a síntese: Sérgio Paulinho tem asma e precisa de tomar medicação para controlar a doença. Solicitou a autorização ao COI para usar os medicamentos e esta autorização foi negada. Por essa razão recusou participar (e fez ele muito bem!). A medalha de há 4 anos foi fruto de algum acaso e sobretudo das pernas de Sérgio Paulinho. Nada se tinha feito no ciclismo português para o merecer e em 4 anos nada de mais se fez.

Nota 2: O actual recordista mundial da maratona, o etíope Haile Gebrselassie, também sofre de asma. Anunciou que não iria participar nos Jogos Olímpicos devido à má qualidade do ar em Pequim. Não sei como terá sido a reacção na Etiópia, mas nenhum país tem o direito de exigir a um atleta que sacrifique a sua saúde em nome de um qualquer orgulho nacional. No entanto, espero que aqueles que o fazem sejam louvados como herois independentemente dos resultados.


Próximos capítulos (amanhã):
- Telma Monteiro e os árbitros
- Natação

JO2008 - Parte II, 4 medalhas

Este post faz parte de uma série dedicada à participação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Pequim. É aconselhável ler também os posts anteriores.

Antes dos Jogos o Comité Olímpico Português tinha anunciado um objectivo ambicioso: 4 medalhas e um total de 60 pontos (há pontos para os 8 primeiros em cada competição). Porque estes objectivos, a serem atingidos, fariam desta participação olímpica a melhor de sempre, não demorou nem 2 dias para se criar o já habitual clima de euforia em torno das possibilidades olímpicas portuguesas. Havia até quem falasse em 8 medalhas, havia quem dissesse que eram possíveis 11! Isto num país que o melhor que conseguiu foram 3 medalhas (em 1984 tivemos 1 ouro e 2 bronze, em 2004 tivemos 2 prata e 1 bronze)!!! Por vezes existe este paradoxo: por um lado somos um país nostálgico, sempre a recordar os grandes feitos dos descobrimentos; por outro lado, esquecemos facilmente a história e sonhamos com possibilidades mirabolantes, como 8 medalhas numa competição em que, até agora, tivémos 20 medalhas em 21 participações (3 ouro, 6 prata, 11 bronze).

Mas onde estavam as tais possibilidades de medalha? Bom, ao contrário da maioria dos comentadores de trazer por casa que descarrega sobre a equipa olímpica as suas frustrações pessoais, eu tenho acompanhado a sério os Jogos. E acompanhar a sério é ver os resultados de todas as eliminatórias dos atletas portugueses, acompanhar em directo o que posso, ver a biografia dos atletas, o seu palmarés e os resultados recentes para poder fazer previsões minimamente realistas. E estas foram as conclusões a que cheguei:

Judo: 1 medalha possível, para Telma Monteiro ou para João Neto. Eventualmente, se a coisa corresse mesmo bem, uma para cada um. Ambos são campeões europeus em título e Telma Monteiro é vice-campeã mundial. Entre os restantes atletas da comitiva (5 no total), não pondo em causa o seu valor, a possibilidade de chegar às medalhas era muito, muito reduzida.

Tiro: o nosso atirador, João Costa, é líder do ranking mundial de tiro com pistola a 50m. Muito se falou que ele era o favorito, esquecendo talvez que este ano tem um único resultado a assinalar: um 7º lugar no torneio de qualificação olímpica. Muito pouco para justificar a histeria em torno das suas reais possibilidades. Embora, no final, a classificação tivesse ficado aquém do desejado, dificilmente poderia ser considerado um candidato sério a medalhas.

Vela: contando com velejadores com experiência em Jogos Olímpicos anteriores e bons resultados recentes, podíamos contar com 1 medalha. O principal candidato era Gustavo Lima em Laser. Entre os restantes, uma presença na regata final (os 10 melhores) seria sempre um bom resultado. Claro que, a correr mesmo bem, até podíamos sair de Pequim com mais de 1 medalha na vela. Mas isso já seria contar com uma boa dose de sorte. Gustavo Lima era o mais sério candidato ao pódio, mas nem de perto nem de longe seriam favas contadas.

Triatlo: 1 medalha para Vanessa Fernandes, pois claro! Haveria decerto muita gente a contar com o ouro como garantido, mas não nos podemos esquecer que no último mundial foi apenas 10º e que desistiu na prova da Taça do Mundo que realizou em Julho. Forte possibilidade de medalha, sim, mas numa prova do estilo maratona nada é garantido, qualquer pequeno problema físico pode implicar uma séria descida na classificação.

Atletismo: Aqui, por mais que vos tentem convencer do contrário, havia 2 possibilidades de medalha. E eram as duas bastante certas: Naide Gomes no salto em comprimento e Nelson Évora no triplo salto. Apesar da sua combatividade, da sua vontade e do talento que lhe reconheço, Obikwelu, agora com 29 anos, teria muito poucas possibilidades de chegar às medalhas, sendo uma presença na final um resultado muito satisfatório.

Então, contemos, tá bem? No melhor cenário possível seriam 2 no judo, 1 no tiro, 2 na vela, 1 no triatlo e 2 no atletismo, o que dá 8. Um cenário mais razoável seria contar com 1 no judo ou vela, 2 no atletismo, 1 no triatlo. O que dá 4. 3 hipóteses mais ou menos certas, 2 mais incertas. E foi este o objectivo traçado.

Inconveniência

Inconveniente é: conduzir numa cidade cheia de radares com o velocímetro avariado...

24 agosto 2008

JO2008 - Parte I, Introdução

Acabaram os Jogos Olímpicos de Pequim. Decorreu hoje a cerimónia de encerramento, todas as provas estão concluidas, as medalhas estão entregues e está na altura de fazer um balanço.

Muita gente vai fazer balanços em Portugal. Como habitualmente, sempre que cheira a sangue, vão aparecer dezenas de opinadores profissionais que vão usar do seu tempo de antena para ganhar protagonismo e visibilidade e falar sobre tudo o que diz respeito aos Jogos Olímpicos. Infelizmente, como também é habitual, vão falar muito para dizer muito pouco e vão, sobretudo, dizer muita coisa errada. Quer factualmente errada quer apenas errada por serem profundamente ignorantes no assunto sobre o qual agora opinam. Para usar uma analogia futebolística (que vou usar com bastante frequência nos próximos tempos), seria como vermos opinadores de futebol incapazes de dizer quem ganhou o campeonato há dois anos, quem é o campeão europeu em título ou em que clube jogou Cristiano Ronaldo antes de ir para o Manchester.

Já li várias opiniões sobre a nossa participação nestes Jogos Olímpicos e são quase todas unânimes: a nossa participação nos Jogos Olímpicos está envolta em vergonha.

Eu concordo plenamente: a nossa participação nestes Jogos Olímpicos ficou envolta em vergonha. Envergonhei-me por diversas vezes de alguns dos meus compatriotas, envergonhei-me por diversas vezes do meu país. Mas, curiosamente, discordo completamente das causas dessa vergonha. A vergonha que senti não veio de Pequim. A vergonha que senti nestes jogos veio, quase sempre, de Lisboa, de Santarém, do Porto, de Braga, de Fornos de Algodres, do Funchal, de Angra do Heroísmo.

Porque estes jogos me encheram de vergonha, vou dedicar a próxima série de posts à Participação Portuguesa nos Jogos Olímpicos de Pequim. Era para ser só um post, mas estava já a ficar demasiado grande, por isso resolvi parti-lo aos bocados, por capítulos.


Próximo capítulo: 4 medalhas: As aspirações olímpicas portuguesas

21 agosto 2008

Opinadores

Luís Delgado é um dos opinadores de serviço na SIC Notícias. Opina sobre quase tudo, é sempre o primeiro a ser chamado a comentar um qualquer tema da actualidade. Já o vi opinar sobre armamento, sobre política internacional, sobre bolsas de valores, sobre ciência, sobre futebol, sobre tudo. Nestas semanas tenho visto pouco a SIC Notícias, tenho dedicado mais atenção à RTP1, RTP2, RTPN e EuroSport para acompanhar os Jogos Olímpicos. Por isso ainda não o ouvi opinar sobre os jogos.

Luís Delgado é um opinador único. Consegue sempre ter uma opinião ou um argumento que escapa aos outros opinadores, da SIC e de outros canais. Tem sempre uma qualquer opinião que é verdadeiramente nova. É isso que faz dele um opinador especial. Bom, especialmente parvo, porque em geral as opiniões exóticas de Luís Delgado são um bocado estapafúrdias.

Ontem ouvi-o comentar o veto do PR à lei do divórcio. O PR lá terá as suas razões, ainda não as li, por isso não comento, mas Luís Delgado já as teria lido, já teria formado opinião sobre as razões do PR e já teria também descoberto algo novo, algo em que mais ninguém reparou. Ou não fosse ele o opinador excepcional que é.

E em que reparou Luís Delgado? Na preocupação eleitoral de Cavaco Silva, escondida por baixo dos motivos enunciados. Porque vai a eleições em breve, daqui a pouco mais de um ano, e é um tema polémico, que divide a opinião pública, Cavaco não quer dividir o seu eleitorado na luta por um segundo mandato.

Bom, a bem da sanidade da discussão, vamos supor que as premissas são válidas. Analisemos então a motivação que pode ter o PR para vetar, pensando nas sondagens: daqui a 1 ano ninguém se lembrará que Cavaco vetou a nova lei do divórcio. Além disso, como previsivelmente Cavaco só terá adversários à esquerda, favorável a estas alterações, não vejo como um veto o poderia beneficiar porque todos os candidatos seriam a favor da lei, não o iriam questionar caso ele a tivesse promulgado. Por outro lado, tendo vetado, até é possível que o tema surja nos debates e Cavaco pode passar uma imagem de conservador e retrógrado se não souber gerir bem as suas respostas.

Mais: desde quando é que um PR perde uma eleição em Portugal? Tivémos 3 presidentes desde o 25 de Abril (com eleições e tudo a funcionar) e todos ficaram 10 anos, 2 mandatos, o máximo permitido. Um Presidente, para perder uma re-eleição, só mesmo se cuspisse na cara do Cristiano Ronaldo, violasse freiras, ou fosse apanhado a conduzir bêbado e a atropelar uma turma de um jardim de infância. Fora coisas dessa gravidade, nenhuma questão da governação alguma vez terá qualquer peso na eleição para PR. Mas isso é uma questão de opinião e até dou a Luís Delgado o benefício da dúvida, alguma coisa ele saberá que eu não sei, ele acompanha melhor que eu a política nacional.

Mas eu acima que ia supor que as premissas são válidas, porque de facto, quando ouvi o homem a falar estava a jantar e ia-me engasgando. É que as eleições daqui a ano e pouco de que ele falou são em Janeiro de... 2011. Que, se a matemática não me falha, isso é daqui quase a 2 anos e meio. Eu sei, eu sei que é confuso isto de as autárquicas, europeias e legislativas serem a cada 4 anos e as presidenciais a cada 5. Acredito que faça confusão a muita gente. Se calhar devíamos mudar esta coisa de eleger um presidente a cada 5 anos, para evitar confusões futuras.

O que eu acho é que, já que não terá sido o primeiro a opinar sobre algo argumentando com a proximidade das eleições autárquicas (daqui a 1 ano), nem das legislativas (daqui a 2 anos), quis ser o primeiro a opinar referindo as próximas eleições presidenciais. Para, com isso, manter a sua imagem de opinador único e excepcional. E isso ninguém lhe tira: foi mesmo o primeiro a falar nas presidenciais. E com um tempo que é record do Mundo! Houvesse Jogos Olímpicos do Opinanço e Luís Delgado teria ganho a medalha de ouro na modalidade de Antecipação.

Com a pressa adiantou-se 1 ano. Oh pá, acontece.

Aviões

Caiu um avião em Madrid. É uma tragédia, morreram bem mais de 100 pessoas. São acidentes, acontecem. Mas à margem da tragédia, tenho ouvido nos últimos tempos algumas barbaridades dignas de nota.

1. Os problemas de segurança das companhias Low-cost
A SpanAir NÃO É UMA COMPANHIA LOW-COST! É uma companhia regular regional, tal como o era a Portugália antes de ser absorvida pela TAP. Companhias low-cost são a EasyJet, Germanwings, Air Berlin, Monarch, etc.

2. A qualidade da manutenção
A manutenção não é decidida pelas companhias. Não é como um carro que eu posso escolher a oficina onde vou mudar o óleo ou resolvo mudá-lo só aos 24000 km em vez dos 20000 que manda o livro. Em Portugal manda o INAC, nos restantes estados-membros da UE mandam outros organismos, mas a manutenção é feita segundo padrões que são inimagináveis para, pelos vistos, a quase totalidade das pessoas. Por exemplo: cada peça tem um número de série. A identificação da peça, bem como da pessoa que a colocou no sítio e da pessoa que foi conferir o trabalho faz parte da ficha de manutenção. Cada número de série permite saber em que fábrica, em que máquina e porque pessoa foi fabricada.

3. A segurança dos aviões, em geral
Por mais voltas que dêm. Se caíssem 6 aviões em Portugal (longe vá o agoiro) até ao final do ano, mesmo assim morriam menos pessoas que morrem anualmente nas estradas. O avião é, de muito longe, o meio de transporte mais seguro do mundo! Acidentes acontecem. Por mais que se evite, por mais cuidado que se tenha, acontecem. O problema dos aviões é que quando há um acidente morre muita gente.

4. Os aviões velhos
Outra coisa que se tem referido com insistência é a idade do avião. Tem 15 anos. Bom, um autocarro de passageiros de longo curso tem uma vida útil de 20; um autocarro urbano vive 30 anos. Quantos anos acham que vive um avião? Um de pequeno curso pode viver 20 ou mesmo 30 anos, dependendo do número de ciclos descolagem/aterragem que sofre; um de longo curso chega a viver 40 anos. Ao longo da sua vida todas as peças são trocadas várias vezes, só a fuselagem se mantém. E mesmo essa é sujeita a testes estruturais ao longo da sua vida útil, para garantir que mantém a integridade.

5. As causas do acidente
Um avião tem, sem exagero, milhões de peças. Se há coisa que todos os jornalistas perguntaram a um qualquer entendido foi qual seria a causa do acidente. No dia do acidente, no dia seguinte, para a semana, a única resposta possível é "Sei lá!". Há acidentes que demoram semanas a investigar. Todas as peças são recolhidas, analisadas, até se encontrar a falha.

Coisas do caraças, parte III

Agora é o site da missão portuguesa em Pequim que está em baixo. Este país é mesmo de extremos. Passamos de euforia, a desprezo, a histeria colectiva.

Coisas do caraças, parte II

O site do Público também está em baixo. Quando se tenta aceder aparece a versão ultra-leve que é usada quando o site normal não aguentar com o tráfego.

Há coisas do caraças...

Anda-se há 15 dias a insultar atletas e a reclamar do dinheiro gasto, dos apoios do COP, da direcção do COP...

Nelson Évora ganha uma medalha de ouro e o site do Comité Olímpico Português tá em baixo: Too many connections.

Évora de Ouro

Nelson Évora mostrou-se digno do nome próprio que ostenta! ;)

1º Lugar no triplo salto, com melhor marca mundial do ano e a 7 cm do record nacional (em dia de muita chuva, duvido que se consigam marcas tão boas como com o tartan seco). É o 4º campeão olímpico da história portuguesa, depois de Carlos Lopes (Maratona, 1984), Rosa Mota (Maratona, 1988) e Fernanda Ribeiro (10000m, 1996).

Mas para que se perceba bem o ataque de nervos que íamos tendo... aqui fica o resumo.

Antes de mais, no triplo salto 17,50 é um grande salto, a melhor marca do ano era, antes do concurso, de 17,58. Os 8 finalistas têm todos, à entrada para a final, melhores marcas do ano entre 17,16 e 17,58 (Idowu, britânico, principal candidato ao ouro a par de Évora é o detentor desse máximo).

1º Ensaio:
Idowu lidera com 17,51;
Évora é segundo com 17,31, a 3cm do que conseguiu fazer na qualificação;
Girat (Cuba) terceiro com 17,27.

2º Ensaio:
Évora melhora para 17,56;
Girat melhora para 17,52;
Idowu não melhora e é terceiro, 17,51;
Só 5 cm separam os três lugares do pódio!

3º Ensaio:
Évora faz nulo;
Idowu melhora para 17,62;
Sands, Bahamas, faz 17,59 e é segundo de forma excepcional. É novo record nacional;
Girat não melhora;
Temos Idowu 1º com 17,62, Sands com 17,59, Évora com 17,56 e Girat com 17,52.
10 cm são a diferença entre ouro e nada. Não me lembro de um concurso assim.

4º Ensaio:
Évora melhora para 17,67 e volta a ser 1º!
Idowu faz nulo;
Sands e Girat não melhoram.

5º Ensaio:
Ninguém melhora. Este concurso não é próprio para cardíacos, os nervos começam a pesar...

6º Ensaio (por ordem inversa da classificação):
Girat não melhorou;
Sands fez nulo;
Idowu, com uma grande chamada e um grande salto, faz 17,41. Não melhorou, Nelson Évora é campeão.

Idowu fica a meros 5cm, Sands falha a prata por 3cm e Girat fica fora do pódio por 5cm. É quarto, sem honra nem glória nem conferência de imprensa, a apenas 15cm do campeão olímpico.

Nelson Évora faz o sexto ensaio, sabe-se lá em que estado de nervos, mas é o seu primeiro salto como novo campeão olímpico. É uma bela bosta, como são todos quando o título já está ganho, ninguém consegue manter a calma: fez 16,52, uma marca que ele era capaz de bater quando estava nos júniores, mas já não interessa. Nelson Évora é Campeão Olímpico, acumulando com o título mundial ganho o ano passado em Osaka e o terceiro lugar nos mundiais de pista coberta em Valência.

Foi um concurso simplesmente perfeito.


Outras notícias:

Na canoagem acabaram-se as provas. Bom, as nossas. Para quem há 4 anos comemorava a primeira participação na canoagem, este ano conseguimos levar 4 atletas: 2 singulares e um par. Conseguiram 4 presenças em meias finais. Um pequeno milagre operado em 4 anos (a propósito, duvido que alguém dê o devido valor a estes resultados, à luz da contestação recente e com a medalha de Évora a ofuscar.

Nos 20 km marcha femininos tivémos um 8º lugar (para uma estreante, ainda por cima!) que podia ser 6º só faltaram pernas na recta final e um 10º. Susana Feitor, já com 33 anos e 5 Jogos Olímpicos no curriculum, desistiu.

Uma última palavra para Lavrentiev, o nosso maratonista dos 10km de natação em águas abertas. Eu nem sabia que isso havia, soube há um mês ou dois, e tivémos uma participação masculina e uma feminina; nos femininos ficámos com o 17º tempo, nos masculinos a prova correu mal e ficámos com 22º, penúltimo entre os que acabaram.

O balanço ainda não está concluído, ainda nos faltam os 50km marcha e a maratona masculina. Poucas ou nenhumas hipóteses de somar uma terceira medalha. Para já, fica o resumo do dia. Segunda-feira emito as opiniões.

20 agosto 2008

As Duas Odetes

Há muito tempo havia uma rábula qualquer, da Ivone Silva, que era com a Olívia costureira e a Olívia patroa. Era a mesma Olívia, que era costureira e patroa de si própria.

Acabou agora o programa "Noites Olímpicas" na RTPN, contando com a presença de Odete Santos como convidada. Também lá esteve o Marco Fortes, mas sobre a sua participação, as suas razões, e as polémicas declarações que proferiu, irei falar mais tarde, quando fizer o balanço da nossa participação nestes Jogos (tá a ser escrito, mas vai demorar tempo...). Agora só me apetece falar da participação de Odete Santos.

Odete Santos foi igual a si própria. Claro, nem outra coisa seria de esperar. É uma pessoa notável a muitos níveis. E neste programa isso notou-se. Se, por um lado, quando se falou nas questões estritamente desportivas ou nas questões mais ou menos periféricas em torno da participação portuguesa, interveio de forma ponderada, razoável, inteligente, eis que quando o assunto é a China, a coisa muda totalmente de figura! Já antes tinha ameaçado quando resolve elogiar o patriotismo exacerbado dos atletas cubanos ou o grande sucesso desportivo da União Soviética que caiu por terra com o fim do comunismo.

Foi uma reportagem sobre as limitações à liberdade na China, à liberdade de imprensa, à liberdade de associação, à liberdade de manifestação, que deu a Odete o pretexto procurado. E salta ela, defendendo os méritos do regime, exprimindo a sua solidariedade tendo em conta as enormes contrariedades sofridas pela China nos últimos tempos, a contestação que tem sido sentida por todo o mundo, as manifestações à passagem da tocha olímpica e chega-se à questão do Tibete, claro! E lá vem Odete, munida da sua artilharia pesada, acusando o Dalai Lama de atrocidades cometidas no Tibete, acusando o comité Nobel de lhe ter atribuido o Nobel apenas por questões políticas, um prémio que foi, segundo Odete Santos, muito mal atribuido, referindo os inúmeros relatos (infelizmente não precisou nenhum, gostava de os ler) que enumeram as atrocidades cometidas no Tibete antes de aparecer a China, no seu cavalo branco, a libertar o povo do jugo desses monges budistas tirânicos.

Foi um verdadeiro show das duas Odetes: a Odete moderada e a Odete comunista. A Odete moderada é moderada, mas só quando a Odete comunista não vê. Porque a Odete comunista é acérrima defensora do comunismo e de todos os regimes comunistas da história e não pode, por mais que brade a Odete moderada, abrir mão dos seus princípios para dar os parabéns, por exemplo, ao regime de treino norte-americano em detrimento do regime de treino chinês. Parabéns às duas Odetes, estiveram iguais a si próprias.

Lightning Bolt

O homem até assusta. Alto, bem mais alto que o típico sprinter, magro, bem menos musculado que o típico sprinter, capaz de um arranque como nunca antes tinha visto, acelera a uma velocidade impressionante e arranca recordes que eu achava que demorariam décadas a atingir.

No sábado foram os 100m, hoje foram os 200. A juntar às habilidades já conhecidas mostrou-se excelente ao curvar (um grande talento que é necessário para fazer boas provas de 200m) e a aguentar o ritmo. Embora desta vez não o tenha feito em ritmo de passeio, o record do mundo estava ao alcance mas por pouco.

Vê-lo a correr na recta, olhar para o cronómetro e com um esgar de esforço acelerar um pouco a passada é, para mim, a imagem destes Jogos Olímpicos. Caiu o record dos 200m, que já tinha 12 anos. Por 2 centésimas. E fez história.

19 agosto 2008

Burburinho

Se há coisa que não tem faltado a estes Jogos Olímpicos tem sido burburinho. Opiniões, tomadas de posição, citações polémicas, histórias empoladas pela comunicação social, críticas, queixas, desabafos, enfim, tem havido de tudo um pouco à margem da competição propriamente dita. Já anda gente a fazer os seus balanços à prestação portuguesa, a comentar os resultados, a comentar as medalhas ou falta delas, já há heróis a serem criados e heróis a serem destituídos do seu estatuto.

Por enquanto, não me vou juntar à onda de comentadores que, falando mais alto que os demais, se tentam fazer ouvir.

Os Jogos acabam no próximo domingo, dia 24, e após a conclusão da maratona masculina, última prova dos Jogos Olímpicos, vou fazer o meu balanço. O que gostei e não gostei de ver seja a nível dos atletas, treinadores, dirigentes, comunicação social, público em geral, resultados, expectativas e por aí fora.

Até lá vou continuar a ver os Jogos, e vou continuar a ver as provas dos atletas portugueses. Vou continuar a ver os Jogos porque gosto de ver desporto. E vou continuar a ver as prestações dos atletas portugueses porque o orgulho que sinto ou deixo de sentir pelo meu país bem como a opinião que tenho sobre o meu país ou as gentes do meu país não dependem dos resultados de nenhuma olimpíada.

Acontece...

A Naide Gomes tá de fora da final. Depois de dois saltos ENORMES (que seriam melhor marca do milénio ou muito perto disso) mas nulos, os nervos falaram mais alto no terceiro e decisivo salto e falhou completamente a chamada. Saltou 6.29, a quase meio metro da marca necessária para a qualificação e, à vontade, perto de 1 metro abaixo do seu primeiro salto, caso tivesse sido válido (mesmo descontando 10 cm à chamada teria sido um salto de uns 7.20).

Foi uma grande, grande pena. Pelo que vi quer dos saltos dela, quer das suas oponentes, ela teria ganho a medalha de ouro nas calmas!

18 agosto 2008

Prata

Ao fim de semana e meia de jogos chegou a primeira medalha! Tava difícil, han? Foi de prata, para a Vanessa Fernandes (pois claro!).

Valeu a pena ficar acordado até às 5h da manhã para ver a prova, mesmo se o que eu queria era uma medalha de ouro. No entanto, a australiana Snowsill não deu mesmo hipótese, fez um arranque espectacular para a prova de corrida e aos poucos começou a construir uma vantagem que se revelou demasiado grande.

A primeira já está. A Missão Olímpica Portuguesa colocou a fasquia alta, em 4 medalhas (o nosso máximo foram 3, em 2004). O judo e o tiro ficaram um pouco abaixo das expectativas, faltam o atletismo e a vela para completar o ramalhete (temos boas possibilidades de medalha no triplo salto masculino, no salto em comprimento feminino e na vela, sobretudo na classe Laser).

17 agosto 2008

Sinal da crise

Vi no outro dia um anúncio que me deixou um nadita preocupado: Numa determinada urbanização oferecessem um carro (!!!) na compra de um apartamento! É caso para perguntar: a coisa tá assim tão má?

De volta

Prontos, acabaram-se as férias... foi bom, mas acabou-se. Enfim, o costume, passa-se o ano, chega o Verão, vamos de férias, sabe bem, mas chega um dia e tem de ser, há que voltar para a labuta diária. O que no meu caso equivale a dizer que agora é que vou começar a acompanhar os Jogos Olímpicos a sério!!! E começa já hoje, com o triatlo feminino, às 3h da manhã.

Até agora tenho acompanhado só algumas transmissões (poucas) e visto as notícias por alto. E houve uma coisa que me chamou a atenção: não sei se era por estar cansada, por ter dormido pouco, por falta de café ou apenas por mau feitio, mas ontem na RTP2, após a eliminação do Francis Obikwelu nos 100m a pivot referiu-se a ele como "o atleta nigeriano", depois como o "luso-nigeriano" e finalmente como o "atleta português de origem nigeriana". Parabéns, RTP, é bonito de se ver! Há 4 anos ele ganhou a medalha de prata nos 100m com novo record da Europa e a notícia de abertura do telejornal foi "Francis Obikwelu ganhou a primeira medalha olímpica portuguesa na velocidade". Claramente Obikwelu era português há 4 anos atrás. Desta vez foi eliminado e passou logo a ser nigeriano. Note-se, tendo em conta a idade do Obikwelu e as marcas conseguidas este ano por ele e pelos seus rivais, que dificilmente se poderia esperar mais da sua prestação, apesar de o próprio ter colocado a fasquia muito alta, dizendo-se na melhor forma de sempre e que ia a Pequim para ganhar. No rescaldo anunciou o fim da sua carreira. E eu só tenho uma coisa a dizer: Obrigado!

Será que, caso Naide Gomes falhe uma presença no pódio do salto em comprimento (eliminatórias amanhã) ou o Nelson Évora falhe uma medalha no triplo salto (eliminatórias esta noite) vão ser referidos, respectivamente, como são tomense e costa marfinense? O que vale é que a Vanessa Fernandes é portuguesa p'raí há umas 10 gerações, senão ainda a despromoviam a outra nacionalidade qualquer caso falhasse a medalha...

12 agosto 2008

O maior crash de sempre

Acham que o crash bolsista de 1929 foi grande?

Pfffff, isso não é nada! O maior crash de sempre aconteceu na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim: um PC crashou e o famoso ecrã azul foi projectado com uns 20 metros de diagonal, para todo o mundo ver! Ao todo 4 mil milhões de pessoas assistiram pela televisão à cerimónia de abertura. E lá estava ele, o Blue Screen of Death, a exibir as suas virtudes.

Notícia e foto


(obrigado Pedro)

11 agosto 2008

A propósito

Link do dia


(obrigado pela sugestão, André)

Máquina do tempo

Tou a pôr o mail em dia, aproveitando o intervalo do intervalo para férias, e dou de caras com uma notícia que diz que as vítimas de violência doméstica vão deixar de pagar taxas moderadoras. E pensei que tava bêbado. Fui ver a data, conferi e não há dúvidas, a notícia é mesmo de 2008! E eu que jurava a pés juntos que já tinha falado no assunto, p'raí há um ano...

Intervalo no intervalo para férias

Voltei. Hoje. Por 1 dia.

É só para dizer que as férias estão a ser boas, há muito sol, calor, e água salgada. Ah, e peixinhos. Olha eu, no meio deles:

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06 agosto 2008

Férias

É só p'ávisar que vou p'a férias por tempo indeterminado. Portantos, nã me tá a par'cer que isto leve tralha nova nos próximos tempos (que é como quem diz, p'raí uma semana).

04 agosto 2008

Chapa virgem

Tinha de acontecer, mais tarde ou mais cedo. Até foi bom, durou 4 meses e meio. Mas acabou-se: deram um toque no meu carro. Cabrões! O carro estava estacionado (BEM estacionado, diga-se!) e quando vou a sair do estacionamento olho pelo espelho e vejo que está virado ao contrário. Saio do carro para ver o que se passa e estava lá, perfeitamente definida, a marca da passagem de alguém demasiado vesgo/bêbado/azelha para conseguir apontar o carro/camião/motorizada/o que for ao meio da faixa, deixando a necessária margem para não rebentar com os espelhos de ninguém. E para piorar a coisa, descobri um vinco na cava da roda de trás que pode ou não ter sido feito ao mesmo tempo.

Aspectos negativos: o meu carro tem 2 toques, a chapa já está amolgada. Já não é virgem. Se conseguisse apanhar o cabrão (ou cabra) que me fez isto ao meu maravilhoso carro acho que o desfazia à porrada, o que é uma vontade muito pouco saudável.

Aspectos positivos: não encontrei o cabrão (ou cabra) que me fez os riscos no carro, o que é bom, porque como sou um bocado lingrinhas o mais certo era ter sido feito em papa. E também os riscos têm, respectivamente, 0,5 e 1,5 cm. E não é nada de muito sério, basta polir e nem se nota.

01 agosto 2008

Homossexualidade

Um homem foi sujeito a uma operação cirúrgica de transplante dos dois braços.

O doente tinha sofrido um acidente há vários anos e ficou sem ambos os braços e agora puseram-lhe dois braços novos.

E porquê o título deste post? Bom, porque agora estou curioso: como o doente em questão vai viver com os braços (e por conseguinte, as mãos) de outra pessoa, quando ele se masturbar é um acto homossexual? Afinal, são as mãos de outra pessoa! Mais: será um acto de homossexualidade necrófila, já que o dador estará já morto?

Acho que esta questão deveria ter sido debatida antes da operação, em pé de igualdade com as restantes questões de ética médica.

A questão é de extrema importância, senão, notem: um gajo no Irão é condenado à morte por actos homossexuais. Mas não por masturbação. Ora, se este senhor for ao Irão e for apanhado a satisfazer-se sexualmente, poderá ser apedrejado, de um ponto de vista estritamente legal? (supondo que o Irão pode condenar à morte por apedrejamento um cidadão alemão, claro!)

Rigor jornalístico

Diz o site do Público:

"Taça UEFA: Adversário do Braga vem da Bósnia-Herzegovina

O Braga SC vai discutir com o NK Zrinjski, da Bósnia-Herzegovina, o acesso à fase de grupos da Taça UEFA 2008/2009, segundo o sorteio realizado hoje de manhã, na Suíça.

O adversário da equipa de Jorge Jesus é um desconhecido das competições europeias, tendo sido 4.º classificado no último campeonato do seu país. A primeira mão disputa-se a 14 de Agosto, com a equipa portuguesa a receber em casa o NK Zrinjski, deslocando-se depois ao terreno do adversário, em Mostar, no dia 28.

Para chegar à fase de grupos, onde já tem lugar garantido o SL Benfica, a equipa do Minho tem de ultrapassar o adversário hoje designado e vencer a eliminatória seguinte. O Braga é um dos sete clubes que chegaram à Taça UEFA via Taça Intertoto. Os minhotos eliminaram os turcos do Sivasspor, com duas vitórias em dois jogos.

A final da Taça UEFA 2008/2009 joga-se em Istambul, Turquia, a 20 de Maio de 2009."

Podem ler a notícia aqui (embora não me surpreenda que o texto seja alterado em breve, tal o chorrilho de disparates).

A notícia é de um rigor estupendo, como nunca tinha antes visto no site do Público: tem pelo menos 3 erros factuais e um de omissão. A saber:

1. O Braga disputa com o tal clube da Bósnia-Herzegovina o acesso à 1ª eliminatória da Taça UEFA, não à fase de grupos. O facto de necessitar de passar a eliminatória seguinte para chegar à fase de grupos é referido de passagem no meio da notícia, mas o lead, que deve dizer o quem, onde, como, etc. dá informações contraditórias.

2. O Braga é uma das 11 equipas, e não 7, que garantiu o acesso à Taça UEFA através da Taça Inter-toto.

3. Na fase de grupos ninguém tem lugar garantido; o Benfica irá disputar o acesso À fase de grupos na 1ª eliminatória, a mesma a que chegará o Braga se eliminar o clube bósnio.

4. Além do Benfica, também o Marítimo e o Vitória de Setúbal têm lugar garantido na 1ª eliminatória, seria bom terem referido esse facto.

Credo, tanto erro numa notícia tão pequena...

Vêm aí os jogos

Falta 1 semana. Dos nossos vão estar presentes 74 em 17 modalidades:
- Atletismo (27)
- Badminton (2)
- Canoagem (4)
- Ciclismo (3)
- Equestre (3)
- Esgrima (2)
- Judo (5)
- Natação (10)
- Remo (2)
- Taekwondo (1)
- Ténis de mesa (3)
- Tiro (1)
- Tiro com arco (1)
- Tiro com armas de caça (1)
- Trampolins (2)
- Triatlo (3)
- Vela (8)

Lembrando que há 28 desportos olímpicos e que conseguimos o feito de não qualificar nenhuma equipa de desportos colectivos, é uma presença substancial.

E não se trata de uma equipa numerosa mas fraca. Entre estes 74 contam-se uma boa dúzia de campeões ou vice-campeões em título, quer europeus, quer mundiais, uns quantos líderes de rankings mundiais e mais uns quantos com resultados de relevo a nível mundial conseguidos recentemente. É uma participação a ter em conta, haverá talvez uns 10 atletas capazes de lutar de igual para igual pelas medalhas.

Links úteis:
- Site Oficial dos Jogos Olímpicos de Pequim
- Site Oficial da Missão Portuguesa a Pequim (inclui horário e calendário das provas em que participam atletas portugueses e pequenas biografias)
- Site do Eurosport sobre os Jogos Olímpicos onde podem consultar a programação da emissão, que vai contar com transmissões 24 horas por dia, 15 das quais em directo.

Afinal, já não

Parece que os chineses recuaram e decidiram liberalizar o acesso à informação durante os jogos olímpicos. A Great Firewall of China afinal vai ser desactivada ou pelo menos vai usar critérios mais abertos durante os Jogos.

Afinal, parece que a conversa entre os senhores do COI, já com a lágrima ao canto do olho a dizer "oh pá, mas vocês tinham prometido! Maus!" sempre funcionou, e os dirigentes chineses ficaram com alguma pena.

Se calhar era mesmo isto que o PR ia dizer ontem: ia dizer que Portugal devia boicotar os jogos, mas uns 15 minutos antes da comunicação ao país soube-se que os chineses eram capazes de levantar o bloqueio e foi preciso inventar qualquer merda para entreter as televisões quando chegassem as 20h. Afinal, um PR não pode dizer que vai fazer uma comunicação de emergência ao país e depois dizer "ah não, não era nada de especial, deixa tar".

Nem ser preso por ter cão

nem por não ter.

Há já uns tempos que tinha os documentos provisórios do meu carro fora de prazo. Ainda não tinha os documentos definitivos e andava com uma guia, que só tem uma validade de 30 dias. E volta e meia pensava: "se sou mandado parar pela polícia numa operação stop lixo-me".

Pois bem, há umas duas semanas chegaram finalmente os documentos. Agora já ando com tudo legal. Ontem passo por uma operação Stop. E eu todo contente a pensar que me iam mandar parar e podia exibir os documentos todos certinhos. E... não. Mandaram-me seguir. Estavam a mandar parar mais ou menos metade dos carros e nem assim consegui que me pedissem os documentos!

Raios, pá, o que é preciso para ser mandado parar pela polícia neste país?

PR

Tanta coisa, tanto suspense, o país à espera, a pensar no que aí vinha (eu já tava a pensar que ia ser comunicado um boicote português aos Jogos Olímpicos, um golpe de estado, ou a demissão do PR por ter ganho o Euro-Milhões) e sai-nos uma série de queixinhas por causa do estatuto dos Açores! Quem ouviu ontem o homem deve ter chegado à mesma conclusão que eu: o PR interrompeu-nos a programação normal da hora do jantar para vir dizer que os deputados são maus, que quiseram aprovar uma lei que condicionava os direitos do PR, que obrigava o PR a não sei o quê, que os Açoreanos são todos uma cambada de ladrões, uma cambada de gatunos e uma cambada de chupistas (nota: acho que não foi o PR que disse isto, foram os Gato Fedorento, e era sobre outro assunto qualquer que agora não me alembra, mas vai dar ao mesmo).

Eh pá, ó homem, a malta não votou em si para depois andar por aí a fazer queixinhas! Ainda por cima a pregar-nos um susto desses antes de irmos para férias! Para a próxima, se tem queixinhas a fazer, faça-as ao Tribunal Constitucional que eles têm pachorra para o ouvir e dê o assunto por encerrado.

Ao menos, tivesse a decência de acabar a comunicação ao país desejando boas férias aos portugueses, pá!