30 setembro 2008

Ainda os combustíveis...

Segundo a Autoridade da Concorrência, noticia o Público, o gasóleo subiu 28% no segundo trimestre de 2008, e a gasolina subiu 8%, face a igual período de 2007.

No mesmo período, o preço do petróleo (em euros) subiu 54,8%. Dá que pensar, não dá?

O preço do gasóleo mantém-se 1,7% abaixo da média europeia, ao passo que o da gasolina está 4,25 acima da média (média dos 27 estados-membros da União). Se no caso da gasolina, estar uns pontos acima da média é algo com que nos devemos preocupar, embora a diferença para a média não seja muito grande, no caso do gasóleo continuo sem perceber como é que afinal o nosso gasóleo está "entre os mais caros da Europa".

O preço à saída das refinarias subiu 19,7% no caso da gasolina sem chumbo 95 e 62,2% no caso do gasóleo. Novamente, comparando com as subidas dos preços finais, há aqui alguma disparidade que convinha explicar.

Gostava que o senhor camionista que me veio insultar a propósito das minhas conclusões sobre o artigo publicado na Visão da semana passada (post de 25 de Setembro), viesse com a sua sapiência e longa experiência de vida, explicar esta aparente contradição.

Nota 2: o que diz o Público não é lei, e cada vez dou menos crédito às notícias publicadas no site, sobretudo quando se trata de analisar números; de igual modo, não considero que a AdC goze de particular credibilidade. Contudo, números são números. Se os números estão correctos, queria mesmo que alguém conseguisse explicar tamanha discrepância entre o que pensa o comum dos tugas e os factos; se os números estão errados gostaria que me indicassem uma fonte segura para poder confirmar os dados correctos.

Entendam-se, pá! - parte II

Afinal o plano Bush foi aprovado ou não foi aprovado?

Diz o Público, em notícia publicada ontem às 15h19: Nova Iorque reage em forte queda ao plano Bush.

Mas já a notícia publicada ontem às 22h08 dizia: Bolsa de Nova Iorque afunda-se com rejeição do plano Paulson. (Nota: Paulson é o Secretário do Tesouro da administração Bush)

Seria bom que o Público verificasse as suas histórias antes de as publicar, não? Eu andei ontem umas horas (até o André me mandar outra notícia que diz que o plano chumbou; curiosamente uns minutos depois o Queiró escreve um comentário com o endereço da mesma notícia; obviamente, não era no site do Público) a tentar perceber como raio cai a bolsa após a aprovação dos 700 mil milhões de dólares que iriam salvar a banca...

29 setembro 2008

Entendam-se, pá!

Os bancos abrem falência, as bolsas caem.
O Presidente americano anuncia um plano de recuperação, as bolsas crescem.
O Congresso aprova o pacote de medidas, as bolsas caem outra vez.

Não há quem entenda estes gajos da bolsa...

Aconteceu o pior...

Aconteceu o que eu temia: logo este ano que nem estou a ligar nada ao futebol, recebemos o Sporting à 4ª jornada e ganhamos 2-0. Que autoridade moral tenho eu agora para vir gozar com a lagartada? (só vi bocados da segunda parte, mas pelo menos vi o que mais importava: os dois GOLAÇOS!!!)

25 setembro 2008

Et tu, Brute?*

*"Também tu, Brutus?", para quem não sabe latim (dispenso comentários a corrigir a sintaxe, gramática ou ortografia da frase, se tiverem queixas dirijam-nas directamente à Wikipedia)



Já se sabe que a comunicação social deixa algo a desejar; ponho a frase assim porque sou bonzinho, porque se quisesse ser mauzinho diria que a única coisa que preocupa os órgãos de comunicação social é o aumento das tiragens/audiências e as receitas de publicidade que daí advêm, sem qualquer tipo de preocupação por coisas tão comezinhas como verdade/honestidade/factos/fundamento/etc.

Mas... também a Visão?

No número desta semana o assunto de capa da Visão é o sobe e desce dos combustíveis (nem de propósito ainda ontem/hoje de manhã - riscar o que não interessa, tou demasiado preguiçoso para ver a data do post que eu próprio escrevi e acontece tanta coisa ao longo do dia que os dias confundem-se e já nem me lembro do que comi ao almoço; por acaso até me lembro, foi chili com carne, mas isso agora nem vem ao caso. Errr... onde é que eu ia? É melhor fechar este parêntesis e voltar ao princípio.)

No número desta semana o assunto de capa da Visão é o sobe e desce dos combustíveis e a sua correlação, ou ausência dela, com o sobe e desce da cotação do crude (aproveito para abrir mais um parêntesis: tou a ripar uns DVDs para copiar para um amigo meu fazer cópias de segurança e como estão protegidos por copyright o Nero é maricas e não os copia; vai daí tive de usar o DVD Decrypter, que usa um sinal sonoro para indicar que a sua missão de crackar o DVD está concluída; mas em vez dos habituais sinais sonoros que se ouvem no Windows, com uma ou duas notas, o DVD Decrypter usa uma música que faz lembrar os luaus do Hawaii; tem uma certa piada; a propósito, o DVD Decrypter é, para os devidos efeitos, ilegal, embora o uso que lhe dou não o seja... eventualmente... bom, mas é ilegal e já não existe, o desenvolvimento parou e já não se encontra disponível; por isso, eu nego que tenha o DVD Decrypter no meu computador. DVD Decrypter? Quem é que falou em DVD Decrypter? Não faço ideia do que isso seja... bolas, perdi-me outra vez. Vamos começar lá do princípio outra vez que isto hoje está a correr mal).

No número desta semana o assunto de capa da Visão é o sobe e desce dos combustíveis e a sua correlação, ou ausência dela, com o sobe e desce da cotação do crude. A reportagem começa na página 52 se alguém estiver interessado.

Independentemente das razões que assistem ao jornalista, que decerto as terá, na página 56 está um quadro comparativo dos preços do gasóleo e gasolina, aumentos verificados este ano e respectivas cargas fiscais, em 15 estados membros da EU (os que já pertenciam à União antes do alargamento de 2004). O título é: "Caros, mas a subir menos que os outros". E lê-se no texto que acompanha o quadro que "Portugal continua a ser um dos países europeus onde os combustíveis são mais caros - e o peso dos impostos maior." E continua dizendo "Mas tem sido um dos estados-membros da UE onde os preços registaram menor variação desde Janeiro." Presumo que ambas as frases se refiram aos países da UE15, que são os que constam do quadro, e que a referência a "países europeus" e posteriormente a "estados membros da UE", sem especificar quais, sejam abusos de linguagem sem grande relevância. Portanto, considero que a informação, tal como o quadro, se refere aos países da UE15, como deve ser. Se o texto acompanha o quadro as conclusões para que aponta devem ser as que estão fundamentadas pela informação apresentada.

Diz a Visão, e o quadro está lá para confirmar, que somos um dos países onde os combustíveis são mais caros e a carga fiscal é maior. Não fiquei admirado, e olhei para o quadro para ver até que ponto o cenário era o esperado. E fiquei espantado. Não por ser assim tão grande a diferença, por termos combustíveis tão caros que dão vontade de emigrar ou porque os nossos impostos sejam tão elevados que dá vontade de gritar "CHULOS!" e outros impropérios dirigidos ao Governo ali no meio da rua. Não. Fiquei espantado porque a frase está completamente... ao contrário em relação aos dados! Na Visão!? Não pode ser... mas é.

É que:
- Na gasolina temos o 5º preço mais elevado; a Bélgica e Itália têm em relação a nós diferenças de apenas 0,6 e 0,2 cêntimos por litro, o que é quase nada. Ou seja, há 8 estados membros com preço inferior ao nosso em pelo menos 1 cêntimo/litro, 4 em que é mais caro e 2 em que o preço é sensivelmente o mesmo; Ok, somos um dos países com gasolina mais cara nesta comparação, mas nem é nada de extraordinário, estamos ligeiramente abaixo de meio da tabela.
- Na carga fiscal, a nossa é muito elevada: 57% na gasolina. Mas 6 estados-membros têm impostos mais elevados, 2 têm precisamente a mesma carga fiscal que nós e outros 6 têm carga fical inferior; estando precisamente a meio da tabela, dificilmente concordo que somos um dos estados-membros onde "a carga fiscal é maior".
- No gasóleo a coisa até me deixou pálido! Há 10 países na lista com gasóleo mais CARO e apenas 4 com o gasóleo mais barato que o nosso: Bélgica, Espanha, Grécia e Luxemburgo. Dizer que temos dos gasóleos mais caros é, objectivamente, falso.
- Quanto à carga fiscal do gasóleo, a nossa é de 44%. Mais baixa que em 8 dos 15 países referidos e mais alta que em 6 outros. Sendo que em 2 desses 6 a carga fiscal no gasóleo é de 43%, apenas 1 ponto abaixo da nossa, até se pode dizer que temos uma carga fiscal razoável a tender para o baixo, em comparação com a UE15.

O texto só concorda com os dados na questão dos aumentos: quer no gasóleo, quer na gasolina somos o 3º dos 15 com aumentos menores este ano.

Independentemente das razões que motivaram a reportagem, independentemente da discrepância observada entre a cotação do crude e os preços praticados ao consumidor, que credibilidade pode ter um jornalista que diz que temos dos combustíveis mais caros perante aqueles dados?

Por isso, olhei com olhos de ver, olhos desapaixonados, apesar do que me custa pagar quando atesto o carro, para o gráfico da página 55. Onde comparam a evolução da cotação do crude com os preços da gasolina e gasóleo desde 2004.

E diz o título: "Caminhos separados: Até 2007, a relação entre o preço do petróleo e o dos combustíveis esteve em sintonia. Com a escalada do crude tudo mudou, em desfavor do consumidor". E os factos dizem?...

Os factos dizem que desde 1 de Janeiro de 2004, dia da liberalização, o gasóleo subiu 85.03% e a gasolina subiu 53.26%. Mas o petróleo subiu... 283.06%!!! É a este "desfavor do consumidor" que se referem?

Continuo a olhar e noto que, tendo subidas e descidas mais ou menos sincronizadas, as flutuações do preço final estão suavizadas em relação ao crude. Quer na subida, quer na descida: sobre o petróleo 10% sobrem os combustíveis 5%; desde o petróleo 15% e descem os combustíveis 10%. Em 2007 uma alta do petróleo ao longo de 4 meses foi acompanhada, de forma amortecida, pelos combustíveis.

E em 2008? Bom, em 2008 a gasolina foi acompanhando a subida mas de forma muito discreta, subindo sempre metade ou menos do que subiu o petróleo e até descendo em Março quando o petróleo subia quase 10%. Já o gasóleo subiu, mas bastante menos que o petróleo, até Abril, em Abril e apesar da alta do petróleo (subiu uns 12 ou 13%) o gasóleo DESCEU mais de 10%, em Junho dá-se o fenómeno inverso e o petróleo sobre apenas 1% mas o gasóleo compensa com um disparo de 25% e no único, repito, no ÚNICO mês que pode servir de razão de queixa, Agosto, desce o petróleo 15%, desce o gasóleo 7.5% e desce a gasolina 3.5%.

Não percebo como é possível ver no gráfico (aconselho-vos a comprar a Visão e a ver com os vossos olhos) qualquer discrepância. Consigo, isso sim, é ver que o petróleo não é o único responsável pelos preços, sendo os seus aumentos/descidas responsáveis por metade do aumento/descida dos combustíveis. O que eu até agradeço. Prefiro ter subidas de 2, 3 ou mesmo 6, 7 cêntimos por litro e descidas da mesma magnitude que ter os preços a variar todos os dias com subidas e descidas de 10, 15 ou mesmo 20 cêntimos de cada vez.

Cada vez mais me convenço que apesar de não o parecer, tem razão a autoridade da concorrência: não há nada na política de preços das gasolineiras que sugira cartel. O que há é a sensação que os combustíveis só aumentam e nunca descem, muito alimentada também por uma comunicação social espalhafatosa, sensacionalista e desonesta.

Estimated Time of Arrival

Tempo de entrega de uma carta, em correio normal por via terrestre, para uma aldeia remota no Sudão: sei lá, talvez um mês?

Tempo de entrega de uma carta, em correio prioritário, por via aérea, para uma aldeia ainda mais remota no Nepal: p'raí uma semana, talvez menos.

Tempo de entrega de uma carta em correio azul para um estado-membro da União Europeia: 2 ou 3 dias.

Tempo de entrega de uma carta em correio azul em Portugal: 1 dia ou 2.

Tempo de entrega de uma carta por DHL ou outro transportador, usando o serviço urgente: até ao meio dia do dia seguinte.

Tempo de entrega de um postal dentro do Reino Unido: depende; em geral é só 1 ou 2 dias, mas pode demorar 79 anos. Acho que nunca mais me vou queixar dos CTT...


(obrigado Bruno)

Cotações e efeitos diferidos

Desde o início do ano que andamos a ouvir falar sobre a correlação (ou ausência dela) entre as cotações do barril de petróleo e o preço da gasolina ou gasóleo.

Já houve um estudo da Autoridade da Concorrência, artigos em todos os jornais, opiniões avulsas um pouco por todo o lado, argumentos da associação de revendedores, comunicados das petrolíferas.

O argumento vigente oficial é que quer para a subida, quer para a descida, uma alteração nas cotações reflecte-se no preço final após um determinado tempo, qualquer coisa em torno das duas semanas.

O que é bom! É bom porque eu não tenho jeito nenhum para adivinhar se amanhã o petróleo sobre ou desce. Mas tenho um certo jeito para dizer se subiu ou desceu há 2 semanas! (confesso que tenho ajuda) E tenho atestado o depósito ao sabor dessas notícias: quando o petróleo está a subir, vou enchendo o depósito assim que possível; faço uns 100 km e vou meter 10 euros; faço mais 100 km e volto a atestar; e assim vou vivendo, já que o gasóleo que não comprar hoje hei-de comprar daqui a umas semanas ou uns dias e já estará mais caro. Quando o petróleo está a descer espero, deixo o depósito chegar ao fim e atesto já a um preço mais baixo.

À conta disso ainda consigo poupar algum dinheiro, jogando com as cotações. Passei o fim da Primavera e início do Verão a meter gasóleo quase todas as semanas e de cada vez que ia à bomba o gasóleo estava mais caro. Depois passei o resto do Verão a atestar só quando está na reserva. A última vez que tinha atestado tinha sido a 1,36; esta semana fui atestar (1 dia depois de saber que a BP tinha baixado os preços e porque já tinha o carro a entrar na reserva) a 1,26. E ainda juntei mais 5 cêntimos por litro de desconto de um vale qualquer. Consegui atestar por 41 euros, o que já não acontecia há quase 1 ano!

Agora estou com um dilema: na sexta-feira passada o petróleo subiu de 90 para 126 dólares (em Nova Iorque) numa única sessão! São 36 dólares de aumento de uma vez. Já o Brent (o que nos interessa), recuperou para 100 dólares depois de ter estado a cotar a 85 há uma semana. O mais certo é que retorne à tendência de descida, mas nada é garantido (sabe-se lá se os americanos não decidem invadir o Irão!?). E aqui entra a minha dúvida: atesto outra vez ainda esta semana, ou deixo andar à espera de mais descidas, uma vez ultrapassado o choque a nacionalização da banca americana? Nos dias que correm um gajo tem de perceber de economia e de politica internacional para decidir coisas tão simples como quando atestar o carro...

24 setembro 2008

Notícias

Há, de certeza, notícias. Algumas serão mais interessantes, outras serão menos. Algumas merecerão uma referência, outras nem por isso. Mas indiscutivelmente acontecem coisas e aconteceram coisas hoje. Podia-se dizer muita coisa. E devia-se dizer alguma coisa. Podia, devia, mas não me apetece. Parece que hoje estou de greve (ou com falta de imaginação, riscar o que não interessa).

23 setembro 2008

Ó faxavor! É uma imperial e um pires de tremoços

O Ó Faxavor! É uma imperial e um pires de tremoços faz hoje 3 anos.

22 setembro 2008

Bola

Caso ainda não tenham reparado, já vamos quase no fim da terceira jornada, houve um jogo para as competições europeias e uma eliminatória da Taça da Liga e eu ainda não falei de futebol. Tirando a selecção, claro.

Mas não tirem conclusões precipitadas, é mesmo porque não tenho prestado atenção nenhuma ao campeonato (sobretudo desde que soube que o Benfica jogava com o Porto à 2ª jornada e com o Sporting à 4ª; foi aí que percebi que o interesse deste campeonato para mim ia-se prolongar, no máximo, p'raí até inícios de Outubro). Nem sequer foi por causa dos resultados.

(claro que, dependendo do resultado do próximo fim de semana, a coisa pode mudar consideravelmente)


PS: este post tem uma tag exactamente igual ao título; é um acontecimento raro e, portanto, digno de nota.

Parecia boa ideia...

A União Europeia é um bocado chata com essas coisas de direitos alfandegários. Há sempre quem ache que o interesse dos seus clientes sobrepõe-se a questões como taxas aduaneiras. E volta e meia consegue-se arranjar forma de contornar as regras, prestando um serviço valioso que é o fornecimento de material de contrabando e, ao mesmo tempo, ganhando uns trocos para alimentar a família.

Pelo menos presumo que seja para alimentar a família, e não por pura ganância.

Todos conhecemos as histórias dos barcos semi-rígidos com 800 biliões de cavalos que cruzam os mares a uns 3000 à hora para descarregar fardos de substâncias psico-trópicas de origem vegetal (e não só) nas praias de um qualquer estado membro da UE. Também conhecemos as histórias das pessoas que tentam contrabandear produtos nas viagens de avião, usando frequentemente o forro das malas de viagem ou do estômago para dissimular a carga. E histórias de pessoas a atravessar as fronteiras por meios cada vez mais criativos de forma a ludibriar as autoridades.

Só que todas estas estratégias têm um grande defeito: é preciso que alguém passe a fronteira acompanhado da mercadoria, e é aí que a coisa costuma dar para o torto.

Houve uns gajos na fronteira Rússia-Estónia (convém lembrar que como a Estónia é um estado-membro, transportar qualquer coisa para a Estónia com sucesso abre as portas a um mercado de 500 milhões de habitantes) que pensaram numa forma mais segura de fazer o seu contrabando. Neste caso, era de vodka, que na Rússia custa menos que água mas na Estónia é um nadita mais cara (p'raí umas 20 vezes mais). Ora como dá um bocado de cana passar a fronteira terrestre com um camião cheio de vodka de segunda ou terceira qualidade, o que pode trazer problemas, e como nas malas do avião não dá para levar quantidades grandes o suficiente que compensem o risco, o que é que os gajos pensaram?

Vá, dou-vos um minuto para pensar... e até dou uma dica: ao contrário do haxixe ou cocaína, a vodka é, por natureza, um líquido. À semelhança, por exemplo, do petróleo.

E deve ter sido mais ou menos este o raciocínio dos homens. Ora se o petróleo é líquido e é transportado através de longas distâncias por oleadutos, porque não construir um pipeline de vodka através da fronteira? Bravo, Melga! Brilhante!!!

Foram apanhados, mas acho que quando forem julgados e a sua sentença for lida a originalidade da ideia deve ser tomada em conta. Afinal, não é todos os dias que se descobre um pipeline clandestino numa fronteira com o intuito de fazer contrabando, pois não?

(obrigado Gonçalo)

20 setembro 2008

Nacionalizações

A crise do subprime está aí em força e os EUA anunciaram que vão investir, há quem fale em um milhão de milhões de dólares (soa mal, mas se dissesse um bilião podia-se perceber que queria dizer mil milhões e mil milhões de dólares... bom, são trocos!), para salvar os bancos, fundos e seguradoras ameaçados de falência.

Na prática o que se está a fazer é compensar com dinheiro público a exposição dos privados aos créditos e investimentos de alto risco. Ou seja, quando a coisa aperta, nacionaliza-se parte da banca para aguentar o barco.

Não quero entrar em juizos de valor sobre ao mérito das medidas, haverá gente bem informada que disso percebe mais que eu, mas gostava de enfatizar a minha surpresa ao ler no site do Público o anúncio de uma gigantesca operação de nacionalização da banca precisamente nos EUA, pátria do capitalismo e o principal opositor a qualquer regime de nacionalizações. Que quase não possui sistema público de saúde, nem sistema público de educação, nem sistema público de nada.

Mas que, quando os calos de quem tem dinheiro se apertam, se apressam em nacionalizar a banca. Quem durante 20 anos andou a ganhar rios de dinheiro com a promessa de rendimentos milionários com investimentos arriscados agora chora que perdeu tudo o que tinha. E o governo, usando o dinheiro de todos, corre a acudir.

A vida tem destas ironias...

19 setembro 2008

Imigração

Eu sou a favor da imigração. Tal como os portugueses ao longo do século XX emigraram para procurar fortuna noutras paragens e contribuiram também para a economia desses países (sendo França o caso mais paradigmático), acredito que temos muito a ganhar com a imigração. A minha mulher-a-dias é ucraniana, estou contentíssimo com ela; muito mais do que com as anteriores, brasileiras, que eram funcionárias de uma empresa de limpezas domésticas gerida por portugueses, e muito mais que a empregada anterior a essas, portuguesa de gema. Também não tenho razão de queixa dos vários médicos e enfermeiros estrangeiros com que me cruzei. Acho que quer em funções especializadas, quer em trabalhos não especializados mas que nós não queremos fazer, a imigração ajuda-nos.

Mas imigração com regras. Existem problemas de criminalidade associados a alguns imigrantes, sendo os bairros degradados da periferia de Lisboa o caso premente, existem muitos imigrantes que vivem da mendicidade, do tráfico de drogas, da prostituição. A esses, tenho muita pena, mas não estão cá a fazer nada, o vosso país que vos receba de volta. Recebo de braços abertos qualquer pessoa que vinda de outro país aproveita o que temos para oferecer e desempenha o seu papel na sociedade, recuso a integração de pessoas que vêm para cá procurar uma vida melhor e optam por obtê-la à custa da segurança dos outros.

Defender a extradição de imigrandes condenados por crimes (mesmo que ligeiros como a posse de drogas) não entra em contradição com a vontade de receber imigrantes honestos que estão dispostos a trabalhar no duro para conseguir uma vida melhor do que a que tinham na sua terra natal. Há que não tomar exigência como intolerância e há que não confundir tolerância com ingenuidade.

Por isso, não percebo uma frase nesta notícia: fala num grupo de miudos das favelas brasileiras que andam a praticar vários crimes na margem Sul. E diz que "Não têm documentos mas sim cadastro". É esta a frase que não percebo. Porque não posso aceitar que um imigrante sem documentos, logo ilegal, possa ter cadastro neste país e não ser dada imediatamente a ordem de extradição. Mesmo que seja só suspeito e não tenha sido sequer condenado. O facto de estarem neste país ilegalmente, tendo sido detido pelas autoridades e não tendo autorização de residência é suficiente para os expulsar! Não percebo porque não o foram. Gostava que alguém pudesse explicar.

17 setembro 2008

Olha, afinal parece que não!

Anda um gajo a lamentar-se de falta de assunto, abre o site do Público e dá de caras com isto!

Combate aos cocós de cão no passeio em três tempos:

1. Recolhe-se uma amostra de DNA do cocó deixado no passeio para análise;
2. Compara-se com as amostras de DNA dos cães da vizinhança que estão numa base de dados de veterinária;
3. Multa-se o proprietário.

CSI ao serviço das populações, muito bem!

E se... e se fosse cá?

Bom, se fosse cá haveria imediatamente duas actividade económicas novas:
1. Criação de cães para fornecer amostras de DNA falsas;
2. Serviço de "dog waling" em cidades distantes: um gajo paga 30 ou 40 euros para alguém pegar no cão, metê-lo numa carrinha em Lisboa e levá-lo a aliviar a tripa nos jardins de Santarém!

Irregularidade

Há dias em que me lembro de assunto para 8 posts. Depois há dias em que não me lembro de nada para dizer em nenhum. E olhem que eu até tento poupá-los, assim se apanho qualquer coisa que pode ser abordada uns dias mais tarde guardo-a para os dias mais fracos. Mas mesmo assim... hoje tenho a despensa vazia.

Pronto, vim cá só para dizer isto.


Nota: este é provavelmente o post que mais merece a etiqueta que tem.

16 setembro 2008

(Ainda o) Subprime

E a crise lá continua, impávida e serena, apesar dos esforços de todos nós em fingir o contrário...

Para quem (ainda) não sabe o que é a crise do subprime, aqui ficam as ideias principais: há muito tempo uma pessoa que não tinha rendimentos para pagar um empréstimo tinha sérias dificuldades em conseguir a aprovação da hipoteca. Mas isso foi antes da securitização. A securitização consiste em vender hipotecas aos magotes a fundos de investimento de alto risco (e alta rentabilidade quando a coisa corre bem, claro). Um banco faz 30 mil hipotecas, dessas 3 mil são de gente que mal consegue pagar a bica todos os dias, mas como as outras 27 mil são quase isentas de risco, o pacote de hipotecas vende-se facilmente por duas razões: em primeiro lugar, porque o risco médio é baixo; em segundo lugar porque em clima de expansão económica há uma forte probabilidade de valorização dos activos no curto prazo, pelo que, caso um devedor falhe os seus compromissos, a garantia pode sempre ser vendida por um valor igual ou superior ao valor da dívida. A subsequente procura imobiliária levou a um aumento sem par nos preços das casas, a famosa bolha especulativa. Mas, como todas as bolhas, esta rebentou: começaram a aparecer as hipotecas em execução, os imóveis desvalorizaram (na Europa pela subida da taxa de juro, nos EUA porque a seguir a um período de expansão económica vem, naturalmente, um período de arrefecimento), e de repente aqueles grandes pacotes de hipotecas valem pouco mais que o papel em que foram escritas.

E foi mais ou menos neste ponto que começaram a chover falências. Depois de uns meses de relativa acalmia, pensou-se que o pior tinha passado. Só que as falências voltaram: ontem foi um grande banco de investimentos, o Lehman Brothers, a anunciar a sua falência, depois de anunciar perdas de quase 4 mil milhões de dólares por causa da crise e de o seu valor em bolsa ter desvalorizado uns módicos 94% só ESTE ANO!!!

Agora é a vez da AIG, uma grande seguradora (que também tem voto na matéria, porque deu o aval a muitos negócios do subprime e agora tem de pagar os seguros) que, ao que parece, tem de reunir uns módicos 75 a 80 mil milhões de euros até AMANHÃ! E neste momento convém fazer um parêntesis. Um parêntesis tão grande que até dá jeito fazê-lo num parágrafo à parte.

(apesar de ser num parágrafo à parte continua a merecer um parêntesis como deve ser; 75 a 80 mil milhões de dólares é qualquer coisa como 53 a 56 mil milhões de euros; ou seja, mais ou menos um quarto do que vale a economia portuguesa por ano; quer dizer que se todos os portugueses trabalhassem apenas para sustentar este gigante era preciso esperar 3 meses para conseguirmos tapar o buraco; isto é bué guito. Mas para se perceber melhor, aqui fica a comparação: 50 mil milhões de euros é o equivalente a:
- 3 meses de produção da economia portuguesa, mais coisa, menos coisa;
- 50 anos de Imposto Sobre o Tabaco cobrado pelo estado português, mais coisa, menos coisa;
- 25 aeroportos de Alcochete
- 500 estádios de futebol à la Euro 2004 (a 100 milhões cada um)
- 5000 jackpots do Euro-milhões (a 10 milhões cada um), ou seja, 96 anos de Jackpot
- 2 milhões e meio de automóveis utilitários a gasóleo (a 20 mil euros cada)
Basicamente é dinheiro que nunca mais acaba! Se fosse angariado e distribuido pelos portugueses dava 5 mil euros a cada um, incluindo recém-nascidos, velhos e gente que não sabe contar até 5000)

Feito o parêntesis para que se perceba do que estamos a falar, convém referir que esta crise traz aspectos positivos e aspectos negativos. Assim de repente apetece-me referir 1 de cada:

Aspecto positivo: Hoje o petróleo abriu em queda, baixando dos 90 dólares em Londres; isto é bom, porque daqui a 15 dias volta a baixar o gasóleo e sou capaz de ter de atestar por essa altura (ando tão pouco de carro que posso escolher em que altura é que me dá mais jeito atestar o depósito em função da cotação do Brent)

Aspecto negativo: A eventual falência da AIG vai afectar todos os portugueses naquilo que nos é, como povo, mais querido: Futebol. É que a AIG é o principal patrocinador do Manchester United onde jogam Cristiano Ronaldo e Nani. E sem patrocinador, os pobres rapazes podem vir a passar dificuldades, sabe-se lá se o Cristiano vai conseguir acabar de pagar o Rolls... ou era um Bentley?

Recolher obrigatório

O que se faz quando falta a luz? A resposta é: nada! A televisão, obviamente, não funciona. O computador também não. Mesmo que o computador fosse portátil, a box precisa de corrente, por isso a net não funciona. O telefone fixo tá ligado à box, fica também desligado. E mesmo que tivesse uma UPS para garantir que estas coisas funcionavam todas, a célula de distribuição de sinal aqui do bairro também não funciona sem electricidade. Por isso... não há nada a fazer, a não ser esperar. Ou então aproveitar para ir dormir mais cedo.

(raios partam a EDP, pá...)

12 setembro 2008

Assunto do momento: a destruição da Terra (e tudo o que nela vive, incluindo nós, mas acho que isso está implícito)

Como de vez em quando se diz que o LHC tem o potencial para destruir o mundo, nomeadamente pela criação de buracos negros e/ou um novo big bang (na verdade, um big bang é, na prática, um buraco negro, dependendo de onde se olha: do lado "de fora" é um buraco negro, do lado "de dentro" é um big bang), acho que há três links aconselháveis para quem se preocupa com assuntos como "O Fim do Mundo como nós o conhecemos":

Link nº1: Status actual da destruição do mundo por causa do LHC (actualizado instantaneamente) - gosto particularmente da palavra "yet" no título.
Link nº2: Feed video em tempo real do CERN (câmara interior e exterior). Se o vídeo parecer alarmante, não se preocupem. Pelas minhas contas uma expansão rápida demorará pelo menos uns 6 centésimos de segundo a chegar cá (número completamente atirado ao acaso, escusam de o corrigir).

Link nº 3: Caso não acreditem que o LHC tenha de facto o potencial para destruir o mundo, mas estejam preocupados com o assunto, recomendo vivamente a leitura atenta nesta página.

Nota: no link nº 3, apesar de ser questionável a "feasability rating" enunciada, os argumentos fazem sentido e sim, parecem-me capazes de conseguir o efeito desejado. As contas também parecem razoáveis, mas não as verifiquei em detalhe.

11 setembro 2008

Verão

O Verão é para as pessoas como o Inverno para os ursos polares. Eles hibernam todo o Inverno e despertam quando o frio começa a aliviar. As pessoas passam o Verão numa espécie de torpor de férias e aos poucos, quando chegamos a Setembro, retomam lentamente as suas rotinas.

A primeira coisa que um urso polar faz ao acordar é procurar comida e tomar um belo pequeno-almoço. O Inverno foi longo e as reservas de energia estão no mínimo. Já as pessoas quando voltam ao trabalho tentam por tudo juntar uns trocos extra. O Verão foi longo e os saldos do cartão de crédito estão todos esgotados.

Para os ursos a Primavera é uma época complicada. É preciso recuperar peso e ao mesmo tempo começar a pensar na época de acasalamento que se avizinha, e a pressão para ter sucesso acumula-se. Já as pessoas passam o Outono a tentar recuperar a estabilidade financeira e começam a planear como vai ser o Natal, que a necessidade de mostrar sucesso, na forma de presentes ou ostentação de nível de vida, é premente.

Depois da época de acasalamento os ursos polares passam os meses restantes antes do Inverno a acumular gordura para poderem hibernar outra vez. Já os humanos passam os meses de Inverno e Primavera a apertar o cinto para poderem ir de férias no Verão seguinte.

Mas chega de comparações entre seres humanos e mamíferos que, apesar do seu aspecto fofinho, têm muito mau feitio.

Eu queria mesmo era falar do Verão. E este, o Verão de 2008, tá quase a acabar-se. E AINDA BEM! Não me entendam mal, eu até gosto bastante do Verão, não dou daquelas pessoas que diz que não gosta do Verão, que se queixa que a praia tem areia, que o mar tem sal, que o calor incomoda, que o Sol queima e por aí fora. Gosto de Sol, gosto de calor, gosto de praia e, sobretudo, gosto de ver (alguns) corpos femininos com pouca roupa e preferencialmente nenhuma.

Mas estou mesmo contente que este Verão esteja a acabar. É que o Verão de 2008 não vai ficar na história. Por nada. Não houve nada neste Verão que seja digno de nota. Não foi muito quente nem muito frio, não foi muito chuvoso nem muito seco. Não foi nada de especial. Este ano, mais que em qualquer outro, quando alguém que já não vejo há 3 meses pergunta "Então, como foi o teu Verão?" faz mais sentido que nunca a resposta "Eh, passou-se". Sem mais. Não se fala das vagas de calor, que não houve, ou na ausência de dias bons para a praia, porque os tivémos q.b. Não se fala na vaga de incêndios, porque não houve nem muitos, nem poucos. Não se fala da chuva, porque só choveu a meia dúzia de vezes que é normal, nem nas nuvens porque também só as houve em quantidade certa.

Mas, pior que tudo, além da metereologia, nada de especial aconteceu! Houve um campeonato europeu de futebol e a nossa prestação não foi nem boa, nem má, ficámos pelo caminho não tendo jogado nem muito mal, nem muito bem. Tivémos os Jogos Olímpicos e os nossos ateltas portaram-se, em média, assim-assim. Na política nacional houve umas notícias escassas e umas tentativas de polémicas mas até Manuela Ferreira Leite com as suas ausências contribuiu para um ambiente de pré-época política apenas morno. Nem quente, nem frio. O PR ainda tentou um ar de sua graça com aquela comunicação ao país mas no fim só nos perguntámos "O quê, era só isto?". Os camionistas bloquearam as estradas mas a coisa arrefeceu em 3 dias e depois a gasolina começa a descer, longe das previsões cataclísmicas da altura.

Não houve nada de especial a acontecer no Verão. Por isso, este Verão não me deixa saudades. Não sinto saudades dos dias de Verão que já passaram, nem deixo de sentir. Por mim, acabava-se já o Verão, venha um Outono com personalidade, que Verões desenxabidos não têm grande graça. E que depois tenhamos um grande Inverno, uma bela Primavera e que o Verão do ano que vem seja mais que um mero bluff, como foi este.

LHC

Alguém pediu que eu pusesse um post a explicar o que é o LHC. Acontece que eu tenho uma regra básica: nunca falar sobre um assunto na presença de quem me possa desmascarar. E há físicos de partículas na audiência (alguns lêm *avidamente* o Ó Faxavor a partir do próprio CERN).

Por isso, passo a palavra a quem percebe mais disto que eu: o Rap do LHC




Nota: A palavra *avidamente*, assim entre asteriscos e tudo, foi acrescentada após solicitação do adavid nos comentários ;)

Séries de TV

Eu não gosto particularmente de televisão. Há séries que aprecio, e muito, mas a generalidade passa-me ao lado.

A semana passada regressou uma das excepções que me faz marcar na agenda a data de emissão dos vários episódios: começou a 3ª season de Dexter. Infelizmente não posso fazer com a terceira como fiz com a segunda que vi toda de seguida num único fim de semana. Esta vai mesmo ter de ser vista aos poucos, ao ritmo das emissões nos EUA (o próximo é dia 28).

Outra das excepções é Boston Legal. Como a FOX Crime costuma dar os episódios em vários horários, volta e meia lá tou eu a ver um qualquer episódio da 1ª, 2ª ou 3ª temporada (ainda não começaram a emitir a 4ª). Há diálogos que são inimitáveis. Este é de um episódio da 2ª temporada (a propósito, umas linhas antes o Alan Shore tinha usado a palavra "inimitable" para descrever o Denny Crane):

Denny Crane: It's fun being me. Is it fun being you?
Alan Shore: Most of the time, yes, indeed.
Denny Crane: Well, what else is there?

Madonna

Domingo vão estar presentes 65000 pessoas para assistir ao concerto da Madonna no Parque da Bela Vista. Espera-se uma multidão composta por:
- 45000 mulheres adultas heterossexuais
- 20000 homens homossexuais
- 9000 adolescentes que só gostam das músicas mais recentes
- 998 homens heterossexuais (um deles sou eu)
- 2 lésbicas que ganharam bilhetes num concurso da Mega FM e como detestam galinhas e bichas vão ao concerto só para chatear, vão ver a primeira parte e depois ficam a aborrecer-se durante 2 horas

2-3

Alguém me consegue explicar o que raio aconteceu ontem?!

Jogámos bem, a Dinamarca pouco ou nada fez durante 80 minutos, tivémos oportunidades mais que suficientes para ganhar por 2 ou 3 nas calmas, e em 10 minutos levamos 3 golos. Como? Como raio é que os vikings conseguem ir três vezes à baliza e marcar 3 golos? E porque é que nós tivémos pelo menos 4 oportunidades descaradas para fazer o 2-0 (Simão, Nani, Danny e Nuno Gomes) e não concretizámos nenhuma?

Aspecto positivo: não nos limitámos a gerir o 1-0 e continuámos a atacar, como era hábito nos tempos de Scolari.

Aspecto negativo: perdemos por não saber gerir nem dilatar a vantagem, coisa que não era habitual nos tempos de Scolari.

10 setembro 2008

Coerência

Alguém que me explique, se faz favor.

Notícia 1, publicada dia 9 de Setembro, às 13:47: O colectivo que julga o chamado "megaprocesso do álcool" deu hoje como provado que o produto, importado de França por algum dos arguidos, provocou a morte de uma mulher e foi causa provável de morte de quatro homens na Noruega.

Notícia 2, publicada no mesmo dia, às 16:45: A juíza-presidente do colectivo, Maria Amélia Lopes da Silva, afirmou na leitura do acórdão que o tribunal entendeu "não se terem provado factos suficientes" que permitam estabelecer a ligação directa entre as mortes ocorridas na Noruega pela ingestão de álcool misturado com metanol e o facto de os arguidos terem importado álcool de França sem pagar impostos.


Ajuda precisa-se. Acho que estou com um caso agudo de iliteracia. Ou isso ou os juizes deste processo andaram a ingerir álcool com metanol misturado...

Caboum!!!

Naaaaa.... ainda não foi desta! O LHC começou (ainda não se sabe se correu bem ou mal) a funcionar hoje de manhã, mas o Apocalipse ainda vai demorar uns meses. Meanwhile... vivam cada dia como se fosse o último que mais tarde ou mais cedo acertam!

8:30 da manhã

Se já passa das 8:30 da manhã e estás a ler isto, então o Mundo não acabou!

Esta afirmação, assim de repente, pode parecer algo parva. E é, claro. Se o mundo tivesse acabado não estavas aqui a ler isto. Mas...

É que o mundo podia mesmo ter acabado às 8:30. Porque às 8:30 (9:30 CET) vai ter lugar a primeira tentativa de injecção de um feixe de partículas dentro do novo acelerador de partículas do CERN, o LHC.

E porque é que isto é um problema? Bom, porque já se ouviu dizer (por gente que provavelmente pouco percebe de física, mas isso agora não importa) que as energias em jogo no LHC são de tal monta que poderiam dar origem a um buraco negro que rapidamente e de forma descontrolada iria sugar o mundo todo para o seu interior! Baril, não é?


Para saber mais:
Site oficial do LHC First Beam
Artigo (em francês) sobre esta apocalíptica possibilidade

(obrigado Jorge!)



PS: Não, a entrada em funcionamento do LHC não irá provocar o fim do mundo. Temos muito mais que 9h para disfrutar deste planeta.


PPS: o post inicialmente referia as 9:30 da manhã, mas afinal foi uma hora mais cedo. Olha se o mundo tem acabado, han? Tinham-me roubado a última hora...

09 setembro 2008

Stocks

Diálogo numa bomba de gasolina:

Eu: São 2 maços de Marlboro, se faz favor
Ele: Só 100's.
Eu: Então 2 maços de Português vermelho.
Ele: Só dos pequenos.
Eu: Então 2 maços de LM.
Ele: Só tenho 1.
Eu: ...

Gestão de stocks, please?!

A nossa selecção

Amanhã há bola. É a selecção. Já fizemos o primeiro jogo, ganhámos 4-0 a Malta, e agora vamos jogar contra a Dinamarca. Como quer a Suécia, quer a Dinamarca, os nossos principais adversários, empataram na primeira jornada, já vamos com 2 pontos de avanço. E já ouvi algures (um programa desportivo ou assim) a habitual futurologia futebolística a estabelecer os vários cenários, apontando para os 5 pontos de avanço que podemos passar a ter em relação à Dinamarca.

Moral da história: já estamos apurados!!! (claro que, caso a situação fosse invertida, já muita gente auguraria o desastre iminente, mas como não é, já podemos cantar vitória ainda antes da festa...)

Não tou a perceber

Quando as notas dos exames são más e chumbam muitos alunos é sinal que o ensino está mau.

Quando o número de chumbos desce para valores históricos, é sinal que os exames foram fáceis e o ensino está mau.

Alguém pode explicar-me como é que vou perceber que o ensino está bom? Ou é incontornável que esteja sempre mau?


Nota: dispenso comentários de quem ache mesmo que o ensino está mau ou de quem ache mesmo que o ensino está bom. Não faço ideia como está o ensino (por acaso até faço, mas a minha ideia não é para aqui chamada), só queria mesmo perceber é que indicadores me servem para analisar a situação.

Regresso

Pronto, ao fim de 1 semana tou de volta. Foi bom, gostei, vi coisas giras (outras que nem tanto), encontrei pessoas interessantes (outras que nem tanto), fiz trabalhos de qualidade (outros que nem tanto) e apanhei dias de bom tempo (outros que nem tanto).

Durante a semana de ausência tive uma carrada de ideias para posts excelentes (e outros que nem tanto), mas como não me apeteceu tomar nota num papel esqueci-me delas todas. Olha, azar, fica para a próxima.

Se tudo correr bem a coisa vai voltar à produção habitual em breve. E como já acabaram os Jogos Olímpicos (mas estão a decorrer os para-olímpicos) e começou o campeonato, volta à baila um dos assuntos mais falados no blog: a bola! ;)

JO2008 - Parte XV, Conclusão

Este post conclui uma série dedicada à participação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Pequim. É aconselhável ler também os posts anteriores.

(antes de mais, desculpem lá a demora na publicação deste post... estive a semana passada toda fora e julgava que ia ter ligação à net, mas não tive)



A minha análise dos Jogos Olímpicos, da participação portuguesa e de tudo o que a rodeou deixa-me sentimentos mistos: por um lado tivemos uma boa prestação desportiva, talvez um pouco aquém dos resultados de Atenas. Por outro, foi a prestação olímpica mais polémica, carregada de críticas aos atletas e dirigentes do Comité Olímpico Português.

É visível a melhoria nas condições de trabalho e treino dos atletas, o projecto do COP tem pernas para andar e há condições para que o investimento continue, de preferência com valores maiores aos que foram investidos para Pequim 2008.

Após Atenas 2004 tivémos pela primeira vez verbas para o projecto "Esperanças Olímpicas", em que são apoiados atletas cuja participação olímpica se prevê apenas num prazo de 8 anos. Isto faz toda a diferença, as grandes potências desportivas mundiais, além de apoiarem os seus atletas, apoiam os jovens promissores. Mesmo sabendo que muitos nunca irão além de promessas por cumprir. Mas o apoio dado a dezenas de atletas terá os seus frutos no futuro, quando meia dúzia das dezenas acolhidas pelo projecto se tornarem atletas de nível olímpico, tendo beneficiado e muito da evolução que lhes permitiu o investimento do COP.

Os resultados desportivos ficaram aquém das expectativas criadas, muito por culpa do COP que criou essas expectativas, em particular do seu presidente, Vicente Moura. Um país que ganha dezenas de medalhas pode estipular como objectivo atingir uma determinada fasquia. Um país com o palmarés do nosso não pode colocar fasquias ambiciosas, que constituiriam a melhor prestação olímpica de sempre, e depois agir como se de um grande fracasso se tratasse não atingir esse mesmo objectivo. O objectivo mínimo nunca pode ser "o melhor resultado de sempre". Os melhores resultados de sempre surgem como resultado do trabalho à mistura com alguma sorte. Lembremo-nos de Atenas em que a medalha de prata conseguida por Sérgio Paulinho no ciclismo era tudo menos previsível. E a medalha de Obikwelu também não era nada certa, na altura havia um grande domínio norte-americano. Lembrem-se que os EUA conseguiram o pleno na corrida de 200m e só não fizeram o mesmo nos 100m porque Obikwelu fez a corrida de uma vida, batendo o seu record pessoal e igualando o record europeu. Não é algo que se possa prever.

Ter como objectivo 4 medalhas é como o Porto traçar como objectivo mínimo a presença na final da Liga dos Campeões. Não que o não consigam fazer, ainda há meia dúzia de anos ganharam a Champions, mas não foi apenas mérito seu, houve alguma sorte à mistura e alguma incapacidade misturada com azar dos seus adversários. Obviamente que, tendo em conta a estrutura da equipa, o objectivo tem de ser sempre realista. Neste caso, uma passagem à segunda fase e depois logo se vê.

Contudo, e apesar do irrealismo dos objectivos, todo o país se comportou como se já estivesse ganho! Criou-se o já habitual clima de euforia que facilmente contagia os portugueses, com sede de coisas que lhes animem o espírito procurando, talvez, no desporto o escape para os problemas das suas vidas pessoais ou profissionais.

Os resultados até não foram maus, trouxemos duas muito merecidas medalhas, e a generalidade da comitiva portou-se bem tendo em conta as suas expectativas pessoais. Alguns ficaram abaixo, talvez à conta dos nervos misturados com algum azar (Naide Gomes e Gustavo Lima parecem-me ser disso exemplo), algum deslumbramento misturado com arbitragens questionáveis (caso da Telma Monteiro), ou imponderáveis da prova (como aconteceu com Jessica Augusto). Outros houve que excederam as expectativas criadas (caso de Ana Cabecinha nos 20km marcha, as 3 tripulações da canoagem, a equipa de remo ou Daniela Inácio nos 10km de natação em águas abertas). Em balanço final, até nos portámos bem.

Mas as reacções às prestações da equipa cobriram-se de um negativismo impensável à partida. Alguma comunicação social empolou polémicas irrelevantes, os atletas mostraram-se particularmente inábeis na forma de lidar com a comunicação social (aspecto a rever, sff.) e sobretudo o presidente do COP borrou a pintura toda. E fê-lo em 2 momentos (depois de ter dado o mote com a criação de expectavivas mirabolantes): quando anuncia durante a prova que não se recandidata a novo mandato e dá mostras de insatisfação com o empenho dos atletas (com a prova a decorrer deveria ter sabido manter-se calado e não deitar ainda mais achas para a fogueira, em vez de sacudir a água do capote e apontar o dedo ao bode expiatório mais a jeito); e sobretudo quando, 2 dias depois, a medalha de Nelson Évora muda completamente as circunstâncias e afinal já são os melhores resultados de sempre e já está disponível para novo mandato.

Vicente Moura fez-me lembrar um determinado primeiro-ministro português (que o foi apenas por meia dúzia de meses) que anunciou diversas vezes a sua "reforma" da vida pública, seja como membro do Governo ou da Assembleia da República, como dirigente desportivo ou partidário. Quando a coisa não lhe corria de feição vinha com grande dramatismo e lágrima ao canto do olho dizer que se vai embora, magoado; para voltar, uns meses mais tarde, assim que visse uma possibilidade de regresso. Duvido que Vicente Moura siga conscientemente o exemplo deste senhor ex-Primeiro Ministro, mas foi precisamente isso que fez: tornou-se o Santana Lopes do Comité Olímpico Português.

Por estas razões, concordo com a intervenção de Vicente Moura antes da medalha de Nelson Évora: não há condições para um novo mandato. Não concordei quando o anunciou, achei que era demasiado teatral, mas em balanço, as suas intervenções são o aspecto mais digno de crítica em toda a participação olímpica portuguesa. Ouviu-se dizer que Rosa Mota era uma possibilidade avançada pela Federação Portuguesa de Atletismo, mas a própria já veio dizer que nem pensar nisso. É pena, acho que, à semelhança do que acontece noutros Comités Olímpicos Nacionais, um atleta olímpico pode ser um grande dirigente olímpico. Espero que outro candidato surja, que seja uma escolha razoavelmente consensual, e que tenha a força de impedir certos atropelos que ocorreram em Pequim (nomeadamente as viagens de dirigentes federativos em detrimento de treinadores de atletas). Além, claro, de continuar e ampliar o bom projecto de preparação olímpica que começamos a ter.

Em relação à opinião pública (refiro-me à minoria muito barulhenta, acredito que a maioria se quedou silenciosa), são como um mendigo, cheio de fome, mas que desdenha da comida que lhe oferecem. Não são dignos da representação olímpica que têm. Exigem resultados, mas contestam o investimento. E não percebem absolutamente nada dos desportos olímpicos, tirando um, em que não participámos: o futebol. Ao longo de 4 anos este país só tem olhos e ouvidos para o futebol e de 4 em 4 anos aparecem os senhores do costume a exigir prestação de contas.

Lamento muito que os atletas portugueses tenham sido sujeitos às barbaridades ditas por uma cambada de idiotas. Espero que esqueçam os idiotas e que compreendam que em Portugal não há só idiotas. E espero ver-vos, a todos, em Londres 2012 (sobretudo à Naide Gomes que precisa de uma séria desforra, e nós também!)

06 setembro 2008

Pedimos desculpa pela interrupção

Desculpem lá qualquer coisinha, era para ter avisado, mas não deu. Fui para fora na segunda-feira, contava ter acesso à net, mas não tive. Acabei de chegar, deixem-me arrumar as malas.

Em relação aos jogos olímpicos, em breve prometo que vou ler os comentários todos (e responder, se relevante), e pelas minhas contas ainda falta um post.

01 setembro 2008

JO2008 - Parte XIV, O dinheiro dos contribuintes

Este post faz parte de uma série dedicada à participação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Pequim. É aconselhável ler também os posts anteriores.



Se há coisa que a malta gosta de puxar à conversa é o "dinheiro dos contribuintes". De cada vez que o tuga quer reclamar de alguma coisa surge o assunto do dinheiro público à baila.

Na Expo 1998 houve muita gente a queixar-se do dinheiro público e o mesmo se passou com o Euro-2004. Questiona-se o gasto de dinheiro público com o TGV, com a OTA. E este ano, surgiu uma novidade: questiona-se o dinheiro púlico gasto com a participação portuguesa nos Jogos Olímpicos.

Mas... quanto foi o dinheiro dos contribuintes gasto com a participação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Pequim? A resposta é: 14 milhões de euros. Nem mais, nem menos. Foi esta a verba atribuída pelo estado ao Comité Olímpico Português, para preparação da participação portuguesa: subsídios a federações, despesas com o programa, criação de infra-estruturas, bolsas a atletas, bolsas a treinadores, etc.

Só como curiosidade, a RTP investiu (ou gastou, depende da perspectiva) 22 milhões de euros para adquirir os direitos de transmissão dos jogos da I Liga de Futebol em canal aberto (a Sport TV continua a deter os direitos para a competição mas ao abrigo do serviço público 1 jogo semana é transmitido em canal aberto). Não ponho em causa o investimento (ou despesa, depende da perspectiva) da RTP nas transmissões futebolísticas, mas não gosto que haja dois pesos e duas medidas.

Do orçamento do COP para a preparação dos Jogos Olímpicos de Pequim quanto é atribuído aos atletas? Com que critérios? Como são avaliadas as suas prestações?

Bom, aqui vêm os números, cada um avalie por si: Um atleta é integrado no programa olímpico ao atingir resultados de relevo. Estes podem ser resultados em provas do programa olímpico, Campeonato do Mundo ou Jogos Olímpicos. No caso de Campeonatos da Europa compete à Federação respectiva a criação de critérios adequados.

E os critérios são:
- Um atleta medalhado (3 primeiros lugares) é integrado no nível I;
- um atleta finalista (8 primeiros classificados) é integrado no nível II;
- um atleta semi-finalissta (10, 12 ou 16 primeiros classificados) é integrado no nível III;
- um atleta pode ser ainda integrado no nível IV, dependendo de critérios específicos de um determinado evento ou modalidade (por exemplo, atingindo os mínimos de qualificação).

Aos atletas do programa olímpico são atribuidas bolsas, cujo objectivo é financiar a sua actividade. Estas bolsas são de:
Nível I: 1250 Euros/mês
Nível II: 1000 Euros/mês
Nível III: 750 Euros/mês
Nível IV: 500 Euros/mês.
Semestralmente, o desempenho do atleta é avaliado e de acordo com os resultados obtidos será atribuido um nível para o semestre seguinte. Dependendo dos resultados há períodos de permanência mínima no projecto. Por exemplo, um finalista olímpico tem garantida a sua continuidade durante todo o ciclo olímpico seguinte; um semi-finalista tem a sua continuidade assegurada durante 2 anos. Mas... e alguém que fique aquém das expectativas, por exemplo Naide Gomes? Pode ler-se no contrato-programa que "Quando um atleta for excluído do projecto por incumprimento dos objectivos desportivos, beneficia de uma continuidade do apoio de 50% da bolsa de nível 3, por um período máximo de três meses". Ou seja, como Naide ficou claramente aquém das expectativas, quer dizer que vai receber 375 euros durante 3 meses. Depois, ou bem que tem resultados de topo para mostrar ou deixa de receber bolsa.

Além das bolsas para a preparação olímpica, há prémios para os atletas que atingem medalhas. Segundo ouvi na comunicação social, Nelson Évora irá receber 30 mil euros do COP como prémio pela medalha de ouro.

Para Londres 2012 o COP propôs ao governo um aumento de 14 para 17 milhões de euros (aumento de 20%) e o aumento das bolsas de preparação olímpica para, respectivamente, 1500, 1200, 900 e 600 euros/mês. Já é qualquer coisa, mas acho que continua a ser um projecto modesto e por isso apenas pode almejar a resultados igualmente modestos.

Mesmo sendo realidades totalmente distintas, gostaria de lembrar o caso do futebol: no mundial de 2006 os jogadores da selecção portuguesa receberam, de prémio de participação, 50 mil euros cada um. Isto é independente dos resultados. Não sei qual o montante dos prémios em caso de vitória no mundial (espero bem que sejam avultados!) nem qual o prémio efectivamente pago pela presença nas meias-finais. No Euro-2008 foi noticiado que o prémio em caso de vitória seria de 300 mil euros a cada atleta. Não sei (porque não foi anunciado) qual o montante do prémio de presença pago pela FPF. Não quero contestar os valores pagos ao futebol, acho que é dinheiro bem empregue. Além disso, é dinheiro da FPF que faz com ele o que bem entende. Mas gostaria de apontar o paradoxo de o prémio a ser pago aos futebolistas da selecção nacional em caso de vitória no Euro-2008 chegar para cobrir METADE do programa olímpico. Ou seja, seria suficiente para pagar a totalidade das despesas do COP (bolsas, infra-estruturas, viagens e ajudas de custo, formação, despesas administrativas) durante 2 anos!!! Das duas uma: ou a FPF paga muito ou o COP paga pouco. Eu voto na segunda.

E como acho que não são as verbas que a FPF disponibiliza que devem ser contestadas, fui procurar informações sobre outras selecções olímpicas. Encontrei dados referentes a 3: a preparação olímpica espanhola para os jogos de Barcelona 1992, a preparação olímpica inglesa para Pequim e a preparação olímpica Chinesa para Pequim.

Penso que o caso espanhol deve servir-nos de modelo e o caso inglês deverá ser um objectivo. Não tanto pelos números, mas sobretudo pela forma como conseguem obter os financiamentos necessários.

O caso espanhol
Espanha foi anfitriã dos jogos de 1992 e investiu seriamente na preparação dos seus atletas. O objectivo era obter a melhor participação de sempre e deixar as bases para uma melhoria significativa dos resultados olímpicos para o futuro. O objectivo foi, a todos os níveis, conseguido. De entre os vários números que podemos consultar no documento, saliento os valores obtidos através de patrocinadores (7 mil milhões de pesetas, 42 milhões de euros), e os valores das bolsas aos atletas olímpicos, entre 840.000 e 7.800.000 pesetas anuais (entre 5 mil e 47 mil euros anuais), sendo o valor médio de 3 milhões de pesetas por atleta (18 mil euros, ou seja, 1500 euros/mês). E isto era em 1992, há 16 anos, numa altura em que se faziam campeões olímpicos por muito menos que agora!

O caso inglês
Em antecipação à organização dos jogos de 2012 a Inglaterra aumentou substancialmente o seu investimento. Dos 59 milhões de libras (cerca de 70 milhões de euros) para Sidney e 70 milhões para Atenas (90 milhões de euros) passou para 235 milhões para Pequim (cerca de 300 milhões de euros). (Nota: usei como taxa de conversão 1.3; o euro neste momento está valorizado em relação à libra, mas é um fenómeno relativamente recente, sendo 1.3 um valor mais justo para fazer a comparação a longo prazo; a libra chegou a valer 1.6 no início de circulação do Euro). Como resultado, obtiveram em Pequim 47 medalhas (19 de ouro). O ratio investimentos/medalhas para Portugal e Grã-Bretanha é mais ou menos id~entico (cerca de 7 milhões de euros por medalha conseguida). Ou seja, os nossos resultados estão perfeitamente enquadrados dentro do investimento realizado.

Note-se no caso inglês que, tal como nós, possuem vários níveis de apoio aos atletas. Os ingleses usam apenas 3 níveis: podium, development e talen. Podium é o nível onde são integrados os atletas com boas perspectivas de obtenção de medalhas olímpicas; development é a segunda linha de investimentos; talent é o equivalente ao nosso programa de Esperanças Olímpicas (que é uma novidade por cá: desde 2005 decorre o programa Esperanças Londres 2012 e vai arrancar agora o programa Esperanças 2016). A diferença está nos números: A grã-Bretanha tem mais de 1500 atletas nos níveis Podium e Development. Sendo que apenas 300 e tal foram integrados na equipa olímpica. Ou seja, a sua "pool" de atletas é grande, permitindo à chegada aos jogos seleccionar apenas os que estão em melhor forma. Em Portugal, por outro lado, praticamente todos os atletas no programa olímpico são seleccionáveis, já que não temos mais por onde escolher. Na maior parte das modalidades ou eventos temos apenas 1 atleta de nível internacional, capaz de fazer mínimos.

O caso chinês
O caso chinês, obviamente, não serve de exemplo para ninguém. A partir de 2000 o investimento anual cifrou-se em mais de 700 milhões de dólares anuais! O que dá 2.800 milhões de dólares por cada ciclo olímpico!!! São números avassaladores, que só podem ser conseguidos por governos ditaturiais com uma base de contribuintes na casa do bilião. Claro que alguma coisa fica para trás, e num país ainda muito pobre (para a esmagadora maioria da população), gasta-se mais que em qualquer outro no programa olímpico. Mas serve de lição: sem ovos (guito!) não se fazem omeletes (campeões olímpicos). E se queremos muitos campeões, temos de gastar muito, mas mesmo muito dinheiro.

Voltando ao nosso caso
O investimento português é razoável e estão a criar-se condições para que os resultados apareçam no longo prazo. Infra-estruturas, centros de alto rendimento, apoio aos clubes, às federações. Mas demora tempo. E aos 4 milhões de euros por ano vai demorar muito até conseguirmos sequer apanhar países como a Holanda, por exemplo (a Holanda tem cerca de metade da nossa população e conseguiu 16 medalhas, sendo 7 de ouro). Espero que com estes números a nossa participação, bem como os objectivos traçados ao início, possam ser devidamente analisados, em condições justas.

E que, de futuro, se pense mais nas modalidades desportivas além-futebol. Ou então, que nos deixemos de preocupar com os resultados dessas modalidades e assumamos por uma vez que apenas o futebol interessa. Durante 4 anos ninguém ouve falar da preparação olímpica e a cada 4 anos vem toda a gente pedir contas do que se fez com o dinheiro. Como se fosse uma grande fortuna. Como se ser atleta olímpico em Portugal fosse o caminho mais fácil para uma vida financeiramente desafogada.


Referências:
- Página do COP sobre o programa Pequim 2008 (ao fundo da página têm os links relevantes)
- A participação do CO Espanhol no sucesso de 1992 (PDF)
- UK Sport a entidade responsável pela preparação olímpica britânica
- Artigo de opinião sobre o investimento chinês